Artistas trans cobram mais espaço na televisão e no cinema
Primeira aluna transgênero do curso de artes cênicas da UnB, Ariel Pimenta ressalta a importância de abrir espaços no entretenimento
atualizado
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Carolina Ferraz dá vida a uma travesti no filme “A Glória e a Graça”. Na nova novela das 21h, “A Força do Querer, Glória Perez traz uma personagem transexual: Ivana não se reconhece no próprio corpo. O entretenimento traz visibilidade à transexualidade, tema cercado de desinformação e preconceito, porém, não é capaz de derrubar a última barreira: contratar atores e atrizes transgêneros.
Algumas pessoas podem citar Nany People e Rogéria, atrizes trans que participaram de produções televisivas. No entanto, elas não interpretaram personagens que vivem os dilemas da transição de sexo. Nos Estados Unidos, a situação é um pouco diferente, graças à combativa Laverne Cox, uma das estrelas de “Orange Is The New Black”.
Apesar do destaque conquistado por Laverne, é Jeffrey Tambor, ator cis (termo usado para definir pessoas que se identificam com o gênero de nascimento), que abocanha os principais prêmios. Em 2017, ao receber o Globo de Ouro, desabafou: “Espero ser o último ator cis a ganhar um prêmio por interpretar um personagem transgênero”.
A luta para ocupar os espaços do entretenimento é uma das principais agendas das pessoas trans. Uma delas é a estudante Ariel Pimenta, 21 anos, primeira mulher transgênero a cursar Artes Cênicas na Universidade de Brasília (UnB). “Espero, sinceramente, que, daqui a 20 anos, jovens se espelhem em mim e sigam a carreira artística”, revela a jovem.
Acho importante ter personagens trans porque é necessária essa visibilidade. Mostra que existimos. No entanto, atores transgêneros não atuam nessas produções. Como dar representatividade para uma causa se você não escala as pessoas que vivem isso? A realidade (das novelas) é ‘queremos representar, mas não incluir’
Ariel Pimenta
A atriz Carolina Ferraz reconhece que não pertence à comunidade LGBT, mas acredita que cumpre papel importante na luta contra o preconceito. “Eu me apaixonei pela personagem. Atuei fortemente para conseguir financiamento para o filme, foi um projeto de 10 anos”, avaliou.
Já a autora Glória Perez entende que não há necessidade de escalar artistas transexuais para vivenciar os papéis. “Não estou fazendo documentário. É dramaturgia e isso se produz com atores. Ser trans não é sinônimo de ter talento para representar uma trans”, declarou ao jornalista Leo Dias.
Ariel discorda dessa posição. “Somos poucas. Mas quantas pessoas se intitulam ator e atriz e não têm a menor qualificação para isso”, rebateu. “A questão não é ter talento, é a vivência. Eu tenho essa experiência. Talento nenhum consegue superar isso”, completou.
Por fim, a jovem estudante lembra que o preconceito atrapalha o desenvolvimento profissional de transexuais e travestis. “Poucas tiveram uma família acolhedora. Eu tive sorte. O que acaba acontecendo é que somos empurradas para o subemprego ou para a prostituição. Isso nos é imposto”.