Anima: conheça a jovem produtora de eventos apadrinhada pela R2
Saiba como uma empresa pequena, comandada por sete estudantes, despertou o interesse dos idealizadores do Na Praia
atualizado
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Um grupo de amigos de Brasília decide criar uma empresa para produzir festas. Em pouco tempo, de eventos pequenos, os sócios passam a lidar com grandes artistas e a reunir multidões em pontos icônicos da cidade. A história pode resumir bem a trajetória de duas produtoras da capital: a Anima e a R2 Produções – agora sócias.
A linha de pensamento parecida, com valorização da experiência, e a incessante busca por conhecimento fizeram com que as duas empresas se cruzassem. Foi em um curso de empreendedorismo que o flerte teve início, em 2018. “O Rafael Damas, um dos criadores da R2, era palestrante do encontro. Não perdi a oportunidade e fui abordá-lo após o talk. Com a maior humildade do mundo, ele me recebeu e deu dicas sobre o ramo do entretenimento”, lembra Daniel Alcides, que comanda a Anima ao lado de Lucas Vaz, Danilo Mena, Mauro Grattapaglia, Gabriel Aquino, Fabrisio Sales e Mateus Blandim.
O bate-papo descontraído na porta de um auditório rendeu uma troca de contatos. Após algumas mensagens, dias mais tarde, os sete jovens foram convidados para visitar o escritório da produtora veterana. “Achamos que iríamos apenas conhecer o local de trabalho deles, o que já seria o máximo, mas não. Acabamos expondo nossas ideias e planos futuros”, afirmam os sócios. O entrosamento entre eles e os já empresários de sucesso Rafael Damas, Ricky Emediato, Bruno Sartório, Eduardo Alves e Wilson Demetrius fluiu e novas reuniões foram agendadas – dessa vez para falar diretamente sobre negócios.
A R2, que já não priorizava eventos de médio e pequeno porte por estar 100% dedicada a três grandes frentes (Surreal, Na Praia e Carnaval no Parque), viu nos empreendedores uma forma de dar sequência a festas colocadas em segundo plano, mas com público cativo, como a MiAME.
“Fizemos alguns eventos em parceria e tivemos o desafio de tocar a MiAME, nossa maior festa até então. Com o bom resultado obtido, nos propuseram a sociedade. Fingimos costume com a situação, falamos que avaliaríamos a proposta e fomos embora. Quando entramos no carro, vibramos que nem loucos. Comemoramos brindando em um bar”, contam. “A R2 sempre foi a nossa maior inspiração, mas era como um sonho distante. A maneira como eles nos apoiaram foi muito generosa”, acrescentam.
Além de injeções de dinheiro no empreendimento, a consagrada produtora oferece mentoria aos rapazes, com idades entre 23 e 25 anos. “Trabalhamos todos juntos no mesmo prédio [sede da R2, no Setor de Armazenamento e Abastecimento Norte], participamos de atividades imersivas e temos reuniões semanais”, afirmam. Apesar da parceria, segundo eles, há autonomia. “Eles nos dão conselhos, compartilham fornecedores e equipe, mas temos a nossa própria maneira de guiar os negócios e carta-branca para desenvolver projetos autorais”, garantem.
O evento mais memorável realizado por eles até hoje foi o de Martin Garrix, considerado o melhor DJ do mundo, que se apresentou no Estádio Mané Garrincha em novembro de 2018. “A R2 recebeu o convite para fazer a produção, mas não pôde aceitar por estar envolvida com os preparativos do Carnaval. Nós assumimos e foi um estouro. Vendemos mais de 11 mil ingressos”, contam. Neste ano, eles dão outro passo importante: assumir a programação das sextas-feiras do Na Praia, evento pé na areia que reúne milhares de pessoas à beira do Lago Paranoá.
“Acredito que generosidade não seja a palavra certa para descrever a relação da R2 e da Anima. Na verdade, conseguimos enxergar um potencial neles, principalmente na visão empreendedora que compartilham. Eles possuem um mindset bem estabelecido e uma maneira não deslumbrada de trabalhar com o entretenimento, o que nos chamou muita atenção. São focados na entrega e no poder da realização, qualidades essenciais para se destacar no setor de eventos”
Bruno Sartório, sócio da R2 Produções
Como tudo começou
Amigos de escola, os empreendedores da Anima adoravam produzir festas em casa, chamadas por eles de “house parties“. Sem pretensão, convidavam os mais íntimos para beber e se divertir. Os encontros, iniciados na época do ensino médio, foram ficando cada vez mais frequentes. A vontade de agradar também. “Começamos a ampliar a lista de convidados e a querer oferecer uma experiência”, dizem. “Cobrávamos um preço de custo na entrada e dávamos picolés, adereços festivos, algum fator surpresa”, acrescentam.
Batizados de Bailes do OML (sigla escolhida como nome do grupo de WhatsApp dos jovens), os eventos foram, pouco a pouco, se tornando conhecidos na cidade. “A reunião para amigos passou a incluir um número cada vez maior de rostos estranhos. Por isso e por recebermos elogios frequentes, percebemos que tínhamos tino para o negócio e decidimos investir”, revelam. A empresa com o nome de Anima foi registrada oficialmente em março de 2017.
Outra grande marca registrada da produtora antes da parceria com a R2 eram as festas Antes Quarta Do Que Nunca, que aconteciam às quartas-feiras na antiga boate Q5, no Lago Sul. “O primeiro evento foi um caos, filas e muita desorganização, mas aprendemos com os erros e acabávamos lotando a casa toda vez”, recordam.
Sobre trabalhar juntos, eles falam: “Tivemos muitas discussões acaloradas. Afinal, somos sete sócios e amigos, com uma intimidade que, às vezes, atrapalha. Aprendemos a nos ajustar com o tempo. A sociedade com uma produtora maior nos ajudou muito nisso. Profissionalizamos o nosso negócio. Antes, não éramos setorizados nem tínhamos espaço físico. Vivíamos como nômades, nos encontrando quando dava. Agora, temos um ponto de encontro certo e cada um fica responsável por uma área específica, por exemplo, marketing, planejamento e financeiro. Assim, resolvemos as nossas praças e fazemos a engrenagem funcionar”.
Faca de dois gumes
Apesar de terem liberdade para usar o nome da R2 – que abre muitas portas por ser uma empresa já estabelecida no mercado –, os sócios revelam que têm toda a cautela possível. “As festas com a chamada de R2 e Anima sempre serão lembradas como festas da R2. Por isso, temos cuidado. Queremos fortalecer a nossa marca, que também tem muito potencial”, pontuam.
Para isso, eles investem em ideias próprias, como os projetos Spoiler e Viva. “Estamos sempre atrás de inovação e aprimoramento. O que nos orgulha muito é o nosso lado ecológico e social. Doamos agasalhos e alimentos recolhidos como meia-entrada para creches e asilos da cidade, além de adotarmos medidas eco-friendly, como eco-copos e coleta seletiva”, destacam.
Glamourização do setor
A área de entretenimento, segundo o grupo, é glamourizada. “As pessoas acham que quem trabalha com eventos é milionário. Não é bem assim. Fazemos retiradas na faixa dos 10% a 12% por evento. Em cima desse percentual, ainda reinvestimos”, explicam.
Eles ainda ressaltam que, para se sobressair, é preciso muita dedicação. “Abdicamos de empregos e desaceleramos faculdades para nos dedicarmos totalmente à empresa. Quando o público entra no espaço e vê o cenário todo montado, não imagina o trabalho que dá. São horas de planejamento e logística, antes e depois de cada festa.”
Para os que têm a intenção de seguir uma carreira no ramo, eles mandam um recado. “A nossa dica é: não monte uma produtora para ganhar dinheiro. As que vão longe no mercado não são as que visam lucro, e, sim, as que têm propósito”, finalizam.