“A vida não é um castelo da Disney”, me contou Marília Mendonça
Eu tive a chance de uma breve troca de mensagens pelo WhatsApp com a cantora. As respostas nunca haviam sido publicadas, até agora
atualizado
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Entre as surpresas que a vida me reservou, nunca imaginei esbarrar com Marília Mendonça, graças ao meu trabalho de jornalista e locutora. Mas, entrevista mesmo, nunca consegui. Quer dizer, não pessoalmente. Cheguei bem perto disso em 2019, no badalado Caldas Country, quando tive a confirmação do nosso encontro. Só que o pequeno Léo, ainda na barriga da mamãe Marília, resolveu causar certo desconforto minutos antes da conversa. Ou seja: papo cancelado. Nem por isso perdi a chance de vê-la esticando as pernas nos bastidores e comandando a massa, instantes depois, no palco, com aquele barrigão.
Agora, em 2021, bati na trave mais uma vez. Eu tentei encontrá-la em Goiânia por conta de uma live promovida pelo Sistema de Cooperativas de Créditos do Brasil (Sicoob), o que não aconteceu diante da correria de sempre. Só que, dessa vez, o encontro pessoal deu lugar a um rápido bate-papo pelo zap, de forma a não frustrar a radialista aqui. Acabaram (nos) me dando um presente sem tamanho. As respostas de Marília para minhas perguntas nunca foram publicadas e você confere, pela primeira vez, agora.
Depois de cantar o drama das garotas de programa, podemos esperar alguma outra figura do nosso cotidiano representada em suas letras?
Eu sempre busco figuras ou coisas cotidianas, se quero falar com as pessoas, tenho de mostrar a realidade dela. A vida não é um castelo da Disney, a vida é assim: cheia de personagens felizes e infelizes. Pessoas que sofrem e superam suas dores, pessoas que vivem intensamente e uma vida real, fora do conto de fadas.
Há algo que ainda te assusta no sucesso?
A mentira, quando leio algo sobre mim que não é verdade fico muito chateada. Fico triste com a agressividade das redes sociais. Pessoas que ficam ali à espreita esperando um erro, não para ensinar, mas para criticar e julgar.
Entre as canções que você canta, qual é aquela que talvez melhor traduza o que você é e vive?
Nosso caráter ou nossa índole não mudam nunca! Mas o que vivemos é sempre uma montanha-russa e muda a todo tempo. Temos da tempestade à calmaria, por isso, acho que o meu repertório é para isso, para vivenciar cada momento.
Fora do sertanejo, que artistas e canções te emocionam?
ROBERTO CARLOS, ele é a própria tradução da palavra EMOÇÃO!
No Barraco da Carmela (programa transmitido pela Rádio Metrópoles em Brasília), temos a participação do Leo Dias. Na última vez em que estivemos juntos, eu e ele passeamos de carro cantando suas músicas aos berros. Como reage a esse carinho que parece ser quase unânime?
Adoooro…rs. Acho demais perceber que as pessoas curtem sofrência sem sofrer, que se divertem e cantam alto. Eu sou dessas! Quando gosto de uma música fico deste jeitinho, cantando alto. Parece que estou vivendo a música!
Comecei a escutar Marília Mendonça em 2016, mais ou menos. No ano seguinte, lembro bem de quando um “colega” de profissão me julgou por ouvi-la. Ele teria dito algo como: “Nunca vi jornalista que preste escutando Marília Mendonça”, o que retrata bem o preconceito ainda existente de parte da população com o gênero.
Mas, cá entre nós, com essa galera, prefiro distância. Na época, respondi da melhor forma que pude e gravei um vídeo cantando Marília em alto e bom som. Hoje, logo depois da morte da cantora, aquele mesmo colega me ligou: “Você tinha toda razão!”. De fato, todo mundo sofre.
