“A ciência está lutando contra o negacionismo”, critica Seu Jorge
Ao lado da atriz Mel Lisboa, o artista concedeu entrevista sobre a áudio série Paciente 63, com estreia nesta quinta (22/7), no Spotify
atualizado
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Os serviços de streaming se transformaram em um novo espaço para artistas da TV e cinema explorarem seus talentos. A partir da próxima quinta-feira (22/7), a atriz Mel Lisboa e o cantor e ator Seu Jorge estreiam a áudio série Paciente 63, no Spotify. A obra de ficção narra as sessões de terapia de um homem que se apresenta como viajante no tempo e revela um futuro castigado por pandemias.
Acostumados a usar o corpo como recurso de atuação, os artistas tiveram de aprender novas técnicas para passar todos os sentimentos do personagem apenas com as vozes. “É muito desafiador e ao mesmo tempo eu considero muito enriquecedor. Eu sinto que eu ganhei mais ferramentas como atriz, o que é muito bom para quem trabalha com o teatro. Mas também fiquei um pouco insegura, fiquei pensando ‘será que tá crível’?”, conta Mel. Já Seu Jorge diz não ter feito nenhuma preparação antecipada, mas sim buscado aprender no dia a dia. “Fui vivendo os desafios de todos os dias, de cada episódio” considera.
Paciente 63 é uma adaptação da produção do Spotify mexicano Caso 63, o que fez com que Mel e Seu Jorge esbarrassem, também, com a barreira da língua. “Como faço faculdade de tradução, eu sempre fico muito atenta a isso. Então houve, sim, esse cuidado de trazer para a realidade brasileira. Essa preocupação com as questões culturais, expressões que lá fazem sentido, mas aqui não. Na hora, a gente questionava algumas frases para que ficasse mais palatável”, explica Mel.
Semelhança com a realidade
Em entrevista coletiva, os atores falaram sobre como o enredo faz paralelo com o atual momento mundial. “Uma das funções da arte é tocar em algumas feridas. A arte também é provocativa. Cada um vai sentir de um jeito e tem pessoas que podem achar demais essa visão apocalíptica. Mas ele te dá possibilidades, faz com que a gente reflita sobre o hoje, sobre o que a gente fala, o que a gente reproduz. Se a gente pudesse voltar no tempo, o que teríamos feito para não estar nessa situação distópica que estamos hoje”, argumenta Mel, que dá vida à psiquiatra Elisa Amaral.
Na voz de Pedro Roiter, o paciente 63, Seu Jorge lembra que é preciso conservar toda a sabedoria que os médicos construíram até agora, para que o mundo não chegue ao futuro vazio que propõe a série. “Quando o personagem cita as gerações entre pandemias, o que ele quer dizer é que não vamos parar de ter isso. E aí se encontrar vai ser uma questão de fé. A ciência está lutando contra um negacionismo muito grande hoje. É disso que o personagem fala e ele volta para tenta evitar os eventos que desencadearam num vazio em 2062”, pondera.
Mel Lisboa ressalta, ainda, que é preciso aprender com os nossos erros do passado para que, na vida real, o futuro resulte numa construção mais justa. “Que as pessoas que hoje negam a ciência, que acreditam em fake news, que aprendam. Olhem os números, vejam os fatos. Olhe para as campanhas de vacinação do passado, que erradicaram doenças, que salvaram milhões de vidas. Então, se no futuro as pessoas aprenderem com os erros que a gente está cometendo hoje, já é um grande passo”, conclui Mel.