Socorro! Meu filho está no 1º ano e não sabe ler e escrever
Afinal, existe uma idade limite para que o ciclo de alfabetização seja concluído? Quando devemos nos preocupar?
atualizado
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Conversando com uma amiga, ela desabafa: “Meu filho não está alfabetizado!”. Como ela sabe que sou pedagoga, me pediu dicas de como ajudar em casa neste processo de alfabetização. Não me lembrava da idade do pequeno e ela me disse que ele está com seis anos. Imediatamente a abracei e disse que não há absolutamente nada para se preocupar com ele, apenas com sua própria ansiedade. Afinal, existe uma idade limite para que o ciclo de alfabetização seja concluído? Quando devemos nos preocupar?
Marcos de desenvolvimento como “engatinhar”, “falar”, “andar”, “ler” e “escrever” são momentos de muita ansiedade para os pais e quando este sentimento é mal administrado por nós, adultos, fatalmente passamos para os nossos filhos.
Assim, seu filho, que até então estava tranquilo e no tempo dele, se vê em um ambiente de cobranças, de excessos de estímulos e de olhares apreensivos. A autoestima do seu filho despenca e ele começa a duvidar de si. A partir daqui, é ladeira abaixo.
Evidentemente, a ansiedade que emerge destes momentos – marcos de desenvolvimento infantil – se dá quando comparamos nossos pequenos com os pequenos dos outros. A comparação define que a régua oficial é a do outro, e não a do nosso filho. Isso simplesmente não funciona: tem criança que tem dente primeiro, tem criança que engatinha depois, tem criança que fala rápido, tem criança que demora mais a andar. Portanto, respire fundo, controle sua ansiedade e saiba como ajudar neste momento.
Em relação à alfabetização: há quase três meses, o presidente Jair Bolsonaro assinou o decreto (9.765) sobre Política Nacional de Alfabetização – PNA. O decreto é claro: a priorização da alfabetização no 1º ano do ensino fundamental – EF, quando as crianças têm seis anos. Porém, a PNA aceita que o ciclo de alfabetização finalize aos 7 anos, no segundo ano do ensino fundamental.
Trajetória singular
Conversamos com a assessora especial do gabinete da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF), Danyela Martins Medeiros. A educadora tem experiência em sala de aula com alfabetização há mais de uma década e pondera: “A maioria dos alunos finaliza o primeiro ano alfabetizada. Contudo, a alfabetização é uma trajetória singular. Provavelmente alguns alunos não estarão alfabetizados no primeiro ano”. E finaliza: “Cada criança tem um caminho, uma trajetória única”.
Outro aspecto importante é saber quais habilidades seu filho terá quando estiver alfabetizado. Aqui também não vale criar expectativas exageradas. Será que ele será capaz de escrever um pequeno texto ou compreender um livreto sem ajuda? Não espere por isso. Espere apenas que ele seja capaz de extrair o som e o sentido das palavras, mas não necessariamente saberá compreender um texto.
Exemplo
Definitivamente a melhor ajuda que podemos oferecer para nossos filhos no processo de alfabetização é EXEMPLO e um ambiente rico em livros. Leia com o seu filho, leia na frente dele, deixe livros sempre à disposição. Alimente a curiosidade do seu filho sobre os irresistíveis livros. Explore sua eloquência ao ler pra os seus pequenos, aponte com o dedo o que está lendo, estimule as associações de sons e imagens e tudo seguirá como deve ser.
Importante sempre ter em mente estes cinco conselhos:
1) O desenvolvimento dos nossos filhos é ÚNICO: cada um tem um ritmo, cada um tem uma influência, cada um tem seu tempo.
2) Nossos filhos merecem que tenhamos inteligência emocional de lidar com nossas próprias ansiedades.
3) Se você se percebe ansioso, comparando seu filho com os amiguinhos do parquinho ou da escola, reflita que seu sentimento poderá (muito provavelmente) influenciar a leveza deste processo para o SEU FILHO.
4) O mundo por si só já é muito competitivo. Vamos deixar que nossos filhos ultrapassem as primeiras barreiras e os primeiros desafios sem pressões exacerbadas.
5) Se quer ajudar com leveza, ofereça um ambiente de livros, passe pra ele seu AMOR pela leitura, faça deste hábito um grande incentivador para seu filho.
Estar atento
Em contrapartida, devemos estar atentos quando, ao longo do segundo ano do ensino fundamental, seu filho não apresentar avanços em seu processo de alfabetização, quando não vemos interesse por escrever em nenhum momento ou quando há tanta hesitação em tentar que o impede de escrever ou ler algo. Ou quando o percebemos estagnado.
Converse com a escola, com o professor dele, peça orientação, procure uma psicopedagoga e solicite uma avaliação. Esteja atento no momento certo.