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Isabela Minatel: “Se meu filho é colérico, preciso seguir seu ritmo”

Conversa com a psicopedagoga montessoriana Isabela Minatel gera a provocação: por que não estudamos para ser pais?

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Há uns dois anos, abri a plataforma TED e me foi sugerido um vídeo chamado O Mundo sob a Perspectiva da Criança. Imagina?! Eu, supergrávida, imediatamente cliquei para assistir. Era um assunto absolutamente novo e interessante pra mim.

A palestra em questão era da psicopedagoga montessoriana Isabela Minatel, guia Montessori e autora do programa Manhã Sem Limites, no YouTube. Ela explicou no vídeo que ficava muito à vontade no mundo dos negócios, mas se viu em dificuldade no papel de mãe. Me lembro de ter gostado especificamente de um trecho da apresentação, quando Isabela fala que, na nossa cultura, não estudamos para sermos pais e mães, que para isso não precisa estudar. “Agora, é tão interessante, por que podemos suportar qualquer coisa que der errado na nossa vida, mas, se um filho der errado, nunca vamos superar. Vamos sempre nos perguntar: ‘Onde foi que errei?’ ou ‘O que eu poderia ter feito diferente?’”. Ela tem razão: a gente estuda para tudo, por que não para sermos pais?

Na semana passada, tive a oportunidade de falar com ela sobre o lançamento de seu livro, Temperamentos sem Limites, que aborda os diferentes perfis comportamentais das nossas crianças e como os pais devem lidar com elas. Tratamos de outros temas também e a coluna traz a vocês os melhores trechos da conversa:

A primeira infância
“Descobri a primeira infância e descobri que de 0 a 6 anos está tudo: a base que a criança sentir, pensar e se comportar para o resto da vida. A base está ali e eu estava pensando em “terceirizá-la” praticamente 12 horas por dia, deixando para outras pessoas fazerem. E quem são essas pessoas? São as menos remuneradas e menos preparadas da nossa pirâmide educacional. Lamentavelmente. Então quando a criança tem a maior sensibilidade para formar caráter, princípios, valores; a gente terceiriza para as pessoas menos valorizadas.”

Manhã sem limites
“Queria muito ter o hábito de acordar cedo e aí eu pensei na minha live no YouTube. Se eu fizer uma transmissão e os seguidores estiverem me esperando, isso vai me motivar, por que gosto muito de falar com as pessoas, gosto de grandes grupos, gosto de gente! E aí eu decidi experimentar e nasceram as Manhãs sem Limites! Na verdade, não tinha ainda esse nome, comecei a fazer todos os dias, às 7h. No início,  eram 30 pessoas. Depois 50 e hoje tem manhã com 500 pessoas acompanhando em um horário horrível, né? Sete horas da manhã está todo mundo no trânsito ou arrumando as crianças para irem à escola ou se arrumando para o trabalho. É um horário péssimo para fazer live, mas ainda assim a gente tem conseguido uma galera boa.”

Babá ou creche 
“Minha resposta é: depende! Se você tiver uma babá em quem você já confia há muito tempo e que você tem certeza de que vai oferecer para a tua criança liberdade de exploração, afeto, possibilidade de alguns estímulos importantes, que não vai ficar dizendo não, que não vai querer que a criança fique quietinha, que não vai querer que a criança fique na tela para ela fazer o resto das coisas que ela precisa fazer. Aí a babá até pode ser uma boa opção, principalmente antes de 2 e meio ou 3 anos, porque nessa fase a criança ainda está muito sensível para pegar muitas doenças, viroses e tal, o sistema imunológico ainda está se formando. Então seria interessante nesse contexto. De preferência, também, se essa babá puder levar a criança para te ver na metade do dia, almoçar junto, sei lá, coisas desse tipo.

São coisas que eu acho que uma boa babá, numa condição interessante, vale a pena, é legal, é válido. Agora, como eu digo, em alguns casos, lamentavelmente, a criança fica emburrecendo em casa com uma babá. Isso acontece! Às vezes babás que não têm possibilidade ou às vezes nem vontade nem interesse em sair com a criança para um parquinho, para uma pracinha. Então, aí, talvez a creche seja melhor. Agora, qual creche, né? Tem essa questão também. Também tem criança que vai para a creche e fica vendo TV. Então, se a opção for creche, vamos escolher qual creche.

E aí você fala de Montessori, pedagogias alternativas, tem que ser uma creche com pedagogia alternativa? Minimamente tem que ser uma creche em que as pessoas gostem de crianças e as pessoas pelo menos nasceram para isso, sabe? Brilho no olho! Educação é serviço, então depende diretamente de quem presta. Então, assim, tem que ser uma creche que entenda de criança, de infância, que entenda que sujar o uniforme é parte do desenvolvimento, com atividades sensoriais, com coisa que molha, suja, meleca, lambuza, estraga. Agora, levar para a creche, para a criança ficar quietinha, sentadinha, para copiar coisa do quadro, 2, 3, 5 anos… Aí não, né. É melhor escolher outra creche se você não tem essa babá que eu falei antes. Não é uma equação muito simples, mas é interessante e relevante que a gente pense nisso. Um bom termômetro para saber se a intervenção educativa está sendo interessante para a criança é a felicidade da criança. Olha que delícia! Se ela está feliz ou se, pelo menos, volta feliz. Às vezes na ida ela não quer deixar a gente, então chora um pouquinho. Mas se ela volta feliz, é um bom sinal. Significa que tá sendo legal isso aí. E se tá sendo legal, tá desenvolvendo.

Seu livro “Temperamentos sem limites”
“É a conversa sobre temperamentos, tem o teste no livro para quem quiser saber o seu temperamento e o temperamento da sua criança e também do encontro dos temperamentos de mães e filhos, que é muito diferente. Vamos dar alguns exemplos: se você é uma mãe melancólica, ou seja, naturalmente, você tem um ritmo mais tranquilo, mais lento. Não tem nada a ver com inteligência. É ritmo! E a sua criança é uma criança colérica e ela tem um ritmo absurdamente veloz por que ela é assim, um processamento de pensamento muito rápido. Ela pode preferir, desde um ano de vida, o papai. E a mamãe fica assim: “gente, mas dizem que criança pequena prefere a mãe?” Eu já atendi casos assim! E aí, quando você vai ver, o papai também é do temperamento forte e faz as coisas, dá o banho, por exemplo, troca a fralda, no ritmo dela. E ela prefere o papai por isso. E se a gente não entende isso, a gente fica sofrendo, achando que não tá criando conexão com a criança. Se eu tenho um menino colérico, eu tenho que ser mais rápido, eu tenho que contar uma historinha mais rápido, tenho que dar um banho mais rápido.

Você tem, por exemplo, duas crianças, vamos supor que você resolveu ter mais de um filho. E aí veio um da tristeza e um da raiva. Esses nomes da “tristeza” e da “raiva” foram invenção minha para facilitar a compreensão. Então, quando você tem uma criança da raiva e uma da tristeza, ela já vem com uma programação, um “chip” próprio e diferente.

Por exemplo: a criança da raiva nasce sabendo mandar. Você precisa ensiná-la a pedir, por que há situações em que ela vai precisar pedir. Não vai funcionar mandar. A criança da tristeza nasce sabendo pedir, mas você precisa ensinar a mandar, por que há situações na vida em que ela vai precisar mandar. A criança da raiva nasce sabendo defender o seu espaço, a sua posição. E ela precisa aprender a ceder. A criança da tristeza nasce sabendo ceder e ela precisa aprender a defender o seu espaço por que, de vez em quando, ela vai precisar fazer valer, se colocar de maneira mais incisiva nesses momentos. São educações completamente distintas se você tem meninos de temperamentos diferentes. Por isso que, às vezes, pais de dois filhos diferentes criam os filhos da mesma maneira e falam “eu não sei o que acontece, um vai e no outro não deu”. É por que deram a mesma educação para dois temperamentos diferentes. Funcionou para um e não funcionou para o outro.

Conhecer as opiniões da Isabela Minatel é ampliar nosso conhecimento sobre o mundo da maternidade. Estude para educar, não acredite que educar um filho é apenas seguir nossa intuição.

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