Como escolher a creche para os nossos pequenos?
Esse é um momento difícil para os pais, por isso ouvir a sua intuição é importante
atualizado
Compartilhar notícia
— Oi, queria conhecer o berçário.
— Claro, vou te acompanhar até lá. Você vai adorar a tia Rose.
E não me decepcionei. Ela quis saber o nome da minha filha assim que fomos apresentadas. Passados alguns minutos, tia Rose mencionou o nome da pequena no meio de um choro inesperado e compulsivo que eu tive durante a conversa. Minhas lágrimas foram um desabafo, pois sabia que estava chegando a hora de ver minha filha ficar boas horas longe de mim.
Tia Rose me abraçou e, com um olhar carinhoso, disse: “Sou mãe de duas crianças e tratarei a sua filha com o maior amor do mundo. Fique bem – ela precisa que você esteja segura, para também ficar.”
Apesar de o momento ter sido extremamente constrangedor em razão do meu choro descontrolado, o acolhimento da tia Rose fez com que eu decidisse por aquela creche.
Afinal, como escolher a melhor creche para os nossos filhos? Acima de tudo, escolha uma em que as cuidadoras esbanjem carinho, cuidado e afeto.
Repito, muito afeto – e não só com seu filho, mas com a família também.
Faça visitas não programadas e em turnos diferentes. Observe tudo: se há fala entre cuidadora e criança na troca das fraldas e no banho, no acolhimento quando ela chora, no momento das refeições, na velocidade de dar a comida, enfim, em t-u-d-o. Lembre-se: o olhar das cuidadoras fala. Ouça sua intuição. Se seu santo não bateu com a tal creche que “todo mundo ama”, abra mão dela, entendido?
- Escolha creches onde:
- O brincar livre é valorizado;
- Há uma cuidadora para cada três bebês, no máximo;
- Não sejam oferecidos sucos de caixinha e bolachas;
- Não haja tablets ou TV nas salas dos bebês.
Esses são critérios básicos, ou seja, eliminatórios. E, claro, há critérios pessoais de cada mãe/pai: distância de casa (ou do trabalho), ambiente acolhedor, escola limpa e higiênica, cuidados com a alimentação dos pequenos, etc.
Quando se fala de cuidados com bebês de 0 a 3 anos em ambientes coletivos, a abordagem de Emmi Pikler destaca-se pela sensibilidade e ética. A pediatra húngara fundamenta-se na valorização do vínculo entre bebê e educadora (cuidadora/mãe/pai) e no brincar livre, melhor. Depois que o neném é nutrido emocionalmente com uma interação profunda, ele se desenvolve no brincar livre. Os educadores observam e atuam quando necessário.
O site Catraquinha entrevistou Rita Góes Bezerra, uma grande especialista e entendedora de Emmi Pikler. “Trata-se de uma concepção em torno do bebê de que ele é um sujeito competente, mas é preciso que esteja em um ambiente seguro e que não ofereça riscos e perigos. Não se trata de deixar o bebê ou a criança pequena sozinha. O adulto precisa estar por perto e atento, sem, no entanto, interferir continuamente e invadir o tempo do bebê. O adulto não precisa estimular o bebê, pois, se o ambiente estiver bem preparado, é esse espaço que será um convite para que o bebê explore os brinquedos, objetos e outras crianças. Um chão seguro e estável é a base para que ele se sinta em confiança para, aos poucos, explorar novas posturas. O bebê repete inúmeras vezes, em diferentes momentos, os movimentos que estão despertando curiosidade. Por isso, um ambiente estável e firme é essencial.” Para ler a entrevista completa, clique aqui.
Finalmente, que seu filho fique o menor tempo possível na creche diariamente. Tente modificar o horário no seu trabalho, para que você entre mais cedo ou mais tarde, faça um acordo com o pai para que ele fique nessa janela e, se possível, peça ajuda para vovós e vovôs!
A psicóloga Maria Raquel Gonçalves de Araújo acrescenta: “Hoje, homens e mulheres, mães e pais, saem de casa em muito maior número, com muito mais frequência e durante um intervalo de tempo maior. Se uma das grandes razões disso é a tentativa de oferecer o melhor para os filhos, tanto externamente ao domicílio quanto às aquisições materiais para esses filhos, corre-se o risco de não ser observado o excesso da ausência parental na vida de suas próprias crianças. Sou a favor de tudo que contribui para uma independência gradual dos filhos e para uma vida familiar mais confortável. Porém, acredito ser imprescindível a existência do famoso e velho ‘bom senso’. É saudável se questionar com certa frequência: ‘O que desejo para minha família? Por que quis ter filhos? Do que meus filhos mais precisam? Do que eles precisarão daqui a 10 anos? O que pretendo ser profissionalmente daqui a 10 anos? E que pai/mãe quero ser daqui a 10 anos?’”.
E finaliza: “Procurar sinceridade nas respostas para si mesmos já seria um grande auxílio na tarefa de evitar futuros arrependimentos, queixas e problemas”.