Aprenda como ajudar crianças e adolescentes a estudar História
Depois de aprender mais sobre o estudo de biologia, a série O Que Você Precisa Saber Para Estudar Melhor fala agora sobre uma nova matéria
atualizado
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Por que será que meu filho lê demoradamente os livros de história e, mesmo assim, tira notas ruins?
Essa pergunta é feita por muitos pais e pode ser respondida com outra pergunta: você já checou se, além de ler o livro, ele entende e sabe apontar o que de mais importante está ali? Na hora de estudar, é importante fazer uma primeira leitura geral. Mas não basta. Uma nova leitura, direcionada, focada, é fundamental. Não é simplesmente ler. É apontar e entender os principais pontos do texto.
Mas como eu posso fazer isso e como eu posso ajudar meu filho? Essa é uma pergunta desafiante e não muito simples de se responder.
Seguem algumas dicas…
Vamos primeiro saber o que é história, por definição:
É o estudo do passado da humanidade. Ela nos ensina de onde viemos e mostra tudo o que vivemos para chegar até aqui. Nos mostra as falhas e os acertos, as vitórias e as tragédias, avanços, retrocessos, justiças e injustiças dos que vieram antes de nós. Tudo tem sua história: eu, meu celular, minha roupa, minha família, cidade, região, estado etc.
Mas a história que nos interessa mais é a que nos mostra de onde viemos e para onde vamos, como seres humanos inseridos dentro de uma sociedade.
Aprofundemos.
A história incorporou novas demandas e objetos de estudo, ampliando, assim, sua área de atuação. Hoje ela se preocupa em abordar os múltiplos sentidos que as sociedades humanas estabeleceram entre si ao longo do espaço e do tempo.
Trata-se de pensar as formas e os modos como as sociedades humanas atribuíram significado ao território em que habitavam, à vida e à própria noção de tempo.Nesse sentido, a historiografia cunhou novos conceitos que se tornaram relevantes, como a ideia de cultura, mentalidade, identidade, poder, classe, gênero etc.
Os livros didáticos da matéria voltados para o ensino básico e para o ensino médio passaram a incluir esses novos “problemas”, reconhecendo que não apenas o aspecto econômico era importante para se entender o funcionamento de uma sociedade.
Como mencionado antes, aqueles aspectos políticos, culturais, religiosos e sociais eram igualmente importantes. Desse modo, ao se estudar história hoje, devemos estar atentos a cinco paradigmas sociais:
Se a criança conseguir identificar cada um desses cinco paradigmas ao abrir o seu livro de história, mais fácil será para ela entender como eles se articulam e propiciam embasamento e coesão sociocultural a cada época e a cada sociedade.
Não se deve subestimar a importância de nenhum desses aspectos no interior de cada ordem social, não priorizar estruturas econômicas em detrimento de estruturas políticas ou favorecer as dinâmicas culturais em desaproveito dos aspectos econômicos.
A ideia é que se tome os cinco aspectos em consideração, de modo não hierárquico, e se entenda como eles se complementam e se estruturam reciprocamente. Assim, não se deve procurar uma estrutura central que, supostamente, organizaria e subordinaria todo o resto da sociedade, mas focar nas articulações que os cinco paradigmas produzem entre si.
Confira como identificar os cinco pontos de ouro de um texto de história:
- – A política se refere às regras, à distribuição de poder, a quem manda e quem obedece em uma sociedade. Fulano de tal é rei, sicrano é súdito e um pode mandar no outro da forma que quiser?
- – A economia, a grosso modo, nada mais é do que tudo aquilo que fazemos para nos sustentar e sobreviver. Diz respeito ao trabalho, a quem, como e para quem se trabalha, e o que fazer com os frutos desse trabalho, a propriedade. “Fulano é servo, trabalha num pedaço de terra que é de outra pessoa, não recebe salário e não tem propriedade privada?”
- – O social é o que é quem na sociedade, como se relacionam os indivíduos e grupos, quais são os mais valorizados e quais são os mais oprimidos, como as famílias funcionam.
- – A religião é o conjunto de crenças espirituais de uma sociedade, em que deus ou deuses as pessoas acreditam, como os louvam e assim por diante. Quais são as estruturas de poder da Igreja ou religião daquele país ou sociedade?
- – Na cultura, observamos comportamentos, costumes, artes, música, gostos, valores: o que as pessoas fazem no seu tempo livre? Como se divertem, o que valorizam em termos estéticos, o que consomem, o que acham bom ou mau, certo ou errado?
Então, é preciso orientar seu filho a procurar esses aspectos no texto. Se ele ainda for muito novinho, você chama atenção dele para esses cinco pontos mais relevantes. Se for mais velho, já é possível discutir essas questões mais aprofundadamente.
Às vezes, a criança foca num ponto mais curioso, mas menos importante. Não gaste muita energia debatendo esse ponto, siga em frente.
Na segunda leitura do texto, o aluno deve grifar o que identificou de mais importante relacionado aos cinco pontos supracitados. Atenção: quem marca tudo é por que não fez uma leitura anterior e não tem ainda noção do que deve ser destacado.
Além de destacar, é interessante que seu filho faça um pequeno resumo, com as palavras dele, sobre o que foi lido e discutido – atenção para que ele mencione os trechos relevantes. Depois de ter estudado o tema, grifado o texto, feito uma síntese e discutido com seu filho, uma outra forma de fixar o conteúdo é mudar de plataforma de estudo.
Assim, assistir um filme relacionado à época ou um vídeo no YouTube sobre o tema pode ser uma boa forma de variar e ampliar a discussão. O site Descomplica tem bom material de estudo, um estímulo diferente pode ser muito útil.
Seu filho também pode ser estimulado a contar aquele conteúdo que acabou de estudar com as palavrinhas dele. Assim, o adulto pode ajudá-lo, sem dar palestras, mas dando iscas para ele aprofundar o tema.
Vamos a alguns exemplos:
Exemplo para crianças menores – Ensino Fundamental I e II:
— Quando os portugueses chegaram ao Brasil, alguns índios ficaram alegres.
— Ué, mas por quê?
— Porque os portugueses davam coisas para os índios.
— Ah, então tinha trocas? Como eram?
(Note que as trocas revelam um aspecto econômico da história contada e, por isso, merecem um aprofundamento).
Exemplo para crianças maiores e adolescentes – Ensino Médio:
— Quando os portugueses vieram ao Brasil, eles trouxeram padres para rezar missas.
— Padres? Mas por que eles trouxeram padres?
— Eles fundaram igrejas no Brasil e queriam que os índios participassem das missas.
— Entendi. Essas missas eram de qual religião? E por que você acha que os portugueses queriam que os índios fossem catequizados?
(Note que aqui você trata de um aspecto religioso – portanto, importante – e introduz a palavra “catequizar” ao debate, dando mais repertório de palavras a ele. Vamos tratar da questão do repertório alguns parágrafos abaixo).
As palavras-chave
Outra estratégia é localizar as palavras-chaves no texto. Geralmente elas aparecem mais de uma vez e são indispensáveis para a compreensão das ideias centrais. Toda vez que seu filho achar que está se deparando com uma, ensine-o a destacá-la do resto do texto. Se a palavra for complicada, vá ao dicionário e discutam o significado dentro e fora do texto (e do contexto!). Assim, voltamos à questão de dar repertório ao seu filho – e ampliar o conhecimento propriamente dito.
Provas anteriores
Uma forma interessante e útil de estudar é fazer provas de anos anteriores. A maioria das escolas fornece este material. Outra estratégia, é a elaboração por parte do seu filho de listas de exercícios. Ele mesmo as cria considerando aqueles cinco paradigmas. Note: quem é capaz de elaborar questões significa que domina o conteúdo e é um bom ouvinte!
Seja um bom ouvinte
Um bom estímulo para que seu filho goste da matéria é ser um bom ouvinte como mãe/pai. Quando ele contar uma história, puxe reflexões e tente conectar com algo que ele esteja estudando. Estimule leituras em casa. Leia na frente dele. Compartilhe o que você está lendo. A leitura faz a criança ampliar o repertório de palavras. Repertório faz muito bem à memória.
Se a criança gosta de gibis, dê alguns de presente. Ao conversar, ofereça palavras para estimular o vocabulário. Por exemplo, se o filho menciona a espada do samurai, fale da katana – espada específica desse guerreiro japonês. Vá pesquisar sobre o tema com ele.
Ser bom pai é saber contar e, sobretudo, saber ouvir uma boa história. Isso está na base da existência humana: é por meio da troca de informação que a humanidade evoluiu. A escritora Cléo Bussato ensina que os contos surgiram da necessidade intrínseca do homem de explicar a sua origem. Assim, quando seu filho relatar uma história, ele está revisitando um costume milenar.
*A série O Que Você Precisa Saber Para Estudar Melhor se propõe a ajudar pais e alunos a descobrir a melhor forma de se preparar para cada uma das disciplinas da escola. Vamos abordar assuntos como rotina, ritmo, técnicas e apontar quais os erros mais comuns que não devemos cometer.
Christiane Fernandes é pedagoga e psicopedagoga, especialista em dificuldades de aprendizagem pela Universidade de Brasília (UnB). É fundadora da Filhos – Educação e Aulas (www.filhosweb.com.br), empresa que atua na área de educação oferecendo aulas particulares em casa há 13 anos. Possui ainda MBA em Gestão Empresarial com Foco em Estratégia pela Fundação Getulio Vargas.