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Adiantei meu filho: com 5 anos, ele já está no 1º ano do fundamental

A pergunta que é mais importante: por que exigir que crianças dessa idade já escrevam e leiam?

atualizado

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Hugo Barreto/Metrópoles
Imagem colorida de crianças brincando
1 de 1 Imagem colorida de crianças brincando - Foto: Hugo Barreto/Metrópoles

“Eu sei que os pais sempre acham que os seus filhos são prodígios e extraordinários e merecem ter sua vida acelerada. É um erro. Na vida, a gente deve viver e desfrutar de cada etapa que o universo nos proporciona.” A frase é do ministro Luis Roberto Barroso, dita durante o julgamento realizado ano passado no Supremo Tribunal Federal (STF) em que se decidiu sobre o corte etário para ingresso de crianças ao ensino fundamental.

O Supremo reafirmou a resolução do Conselho Nacional de Educação, que fixa a data limite de 31 de março para que estejam completas as idades mínimas de 4 e 6 anos para ingresso de crianças, respectivamente, na educação infantil e no ensino fundamental.

Antes de o Supremo entrar na jogada, muitos estados tinham pedidos de liminar deferidos, e muitas crianças de 5 anos ingressavam no 1º ano do ensino fundamental. Afinal, era vantajoso antecipar essa etapa? Crianças de 5 anos estão maduras para as exigências formais e emocionais que o 1º ano fundamental exige?

Certamente, muitos pais de crianças que optaram pelo ingresso antecipado de seus filhos no ensino fundamental são motivados pela ansiedade de vê-los escrevendo e lendo o mais rápido possível.

A pergunta que é mais importante: por que exigir que crianças de 5 anos escrevam e leiam? As crianças de 5 anos têm necessidades que precisam ser atendidas, antes de considerar um processo de alfabetização formal. E essas necessidades orbitam o cuidar afetuoso dos seus cuidadores, o brincar livre e dirigido.

Crianças precisam brincar
As crianças de 5 anos precisam B R I N C A R. Elas aprendem a desenvolver suas capacidades sociais, motoras, emocionais e de comunicação a partir das brincadeiras ou se relacionando com os seus pares.

No material disponibilizado pela Secretaria de Educação do Distrito Federal, Currículo em Movimento, há o reforço:

“As crianças, por serem capazes, aprendem e desenvolvem-se nas relações com seus pares e com adultos, enquanto exploram os materiais e os ambientes, participam de situações de aprendizagem, envolvem-se em atividades desafiadoras, vivenciando, assim, suas infâncias. Fazendo uso de suas capacidades, aprendem e se desenvolvem ao cantar, correr, brincar, ouvir histórias, observar objetos, manipular massinha e outros materiais, desenhar, pintar, dramatizar, imitar, jogar, mexer com água, empilhar blocos, passear, recortar, saltar, bater palmas, movimentar-se de lá para cá, ao conhecer o ambiente à sua volta, ao interagir amplamente com seus pares, ao memorizar cantigas, ao dividir o lanche, escrever seu nome, ouvir músicas, dançar, contar, entre outras ações.”

Educação cuidadosa
O documento da Secretaria de Educação do DF esclarece, ainda, que “nas interações que se estabelecem em uma educação cuidadosa, a unidade afeto-intelecto precisa se consolidar, pois a atividade intelectual envolve a afetividade intrinsecamente, como ações indissociáveis presentes nos relacionamentos humanos. Portanto, em meio às práticas educativas, é essencial a possibilidade de expressão das emoções e dos sentimentos, pois as pessoas envolvidas nessa prática educativa afetam e são afetadas (Vigotski, 2009)”.

Outro aspecto relevante é que crianças que ainda não possuem um grande repertório de palavras dificilmente lerão pequenos textos nos quais desconhecem a maioria do que está escrito.

Em reportagem recente, o Estadão ouviu Franck Ramus, especialista na aquisição de linguagem e da leitura do Centro Nacional de Pesquisa Científica (CNRS), na França: “Há algumas bases importantes a se adquirir antes de aprender a ler, em especial um mínimo de vocabulário. Não podemos ler e compreender palavras que não conhecemos. Depois disso, é preciso ter compreendido que a palavra é formada de cada pequeno elemento, os fonemas”, disse o especialista.

Na minha prática como educadora, é rotineiro receber crianças e adolescentes que apresentam dificuldades escolares e que anteciparam o ingresso ao ensino fundamental.

Objetivamente: nos casos que passaram por mim, 20% desses alunos estavam no 1º ano do ensino fundamental aos 5 anos. Precisamos todos – pais, professores, educadores e sociedade em geral – refletir sobre a necessidade de permitir que o desenvolvimento dos nossos pequenos siga todas as etapas necessárias, sem atropelos.

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