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A história da mãe que conseguiu na Justiça que a filha passasse de ano

Lembro-me do semblante da mãe, decepcionada ao ouvir a minha opinião sobre o caso: aquele caminho não era o melhor para a educação da menina

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lápis quebrado ansiedade
1 de 1 lápis quebrado ansiedade - Foto: iStock

Fim de semestre, crianças enforcadas com tantas notas vermelhas e muitas recuperações à vista. Mães e pais sofrendo e professores particulares exigidos ao máximo.

Para muitos, porém, este momento difícil é uma oportunidade generosa de aproximação com os filhos. Vi, neste momento de dificuldade, adultos e crianças se unindo, criando estratégias juntos, saindo dessa situação muito mais próximos. Mas para outros, é um momento de acusações e artimanhas inacreditáveis para que o aluno não seja reprovado.

Em 2010, conheci uma família que me ensinou muito. A mãe, dedicada e esforçada, não aceitava o fato de a filha ser reprovada. Essa possibilidade a apavorava e ela tomou atitudes até então nunca vistas na minha empresa.

Vale considerar que a aluna não estudou adequadamente ao longo do ano, priorizando festas e saídas. Eu a acompanhei de perto e era clara a falta de foco no colégio. Porém, na iminência de uma reprovação, lá pelo mês de novembro, a menina mudou o comportamento: passou a estudar 24 horas por dia. Não foi o suficiente. Infelizmente, foi reprovada.

Foi reprovada, certo? Não. A história nos ensina que uma mãe determinada muda destinos até então já definidos.

A família entrou com um pedido na Justiça, exigindo que a filha fosse aprovada. Depois de sofrer derrotas nas primeiras instâncias, enfim conseguiu uma liminar nas cortes superiores. Não me cabe questionar a decisão do Judiciário. Mas, como educadora, contestei muito a iniciativa da mãe.

Lembro-me de vê-la, feliz e satisfeita, contando que havia conseguido salvar sua filha daquele episódio “injusto”. Lembro-me também de ver a aluna, indiferente ao feito, me contando sobre sua iminente viagem de férias. Afinal, ela precisava descansar. Foi estressante demais o final do ano. Outra lembrança que carrego desta história foi o semblante da mãe, decepcionada ao ouvir minha opinião sobre o desfecho. Eu expliquei que aquele caminho não era o melhor para a educação da menina.

Nunca mais nos falamos, mas esta família me marcou. Para sempre.

O episódio me fez lembrar um dos livros que mais me marcaram em minha jornada como educadora, “Psicanálise de Pais – Criança, Sintoma dos Pais”, de Durval Checchinato. A leitura me ensinou que o resultado do meu trabalho dependia também dos pais. Saber disso fez toda a diferença.

Analisar notas é uma oportunidade fantástica para pais e filhos alinharem expectativas e dificuldades. Mas, sobretudo, é uma oportunidade para as famílias refletirem sobre suas posturas adotadas diante das notas e dos comportamentos de suas crias.

Um bom exemplo disso é quando uma criança ou um adolescente apresenta, ao longo do primeiro semestre, notas baixas. Evidentemente, terá algumas recuperações à vista. Não vejo como produtivos berros e gritos. É coerente e eficaz cancelar a viagem de férias do meio do ano e exigir que o aluno apresente estudos diários neste período. Afinal, as obrigações não foram cumpridas. Totalmente lógico, certo? Mas este combinado é raríssimo de ser visto. Sabe a família da menina que passou de ano por decisão judicial? Então, jamais cogitou o cancelamento das férias de julho, pois todos precisavam “descansar”.

É fundamental nestes casos conversar com os pais, promover uma reflexão, entender os motivos que os impedem de exercer seus próprios papéis de pai e mãe. Tentar entender por que é tão difícil dar limites. Por que é tão difícil enxergar que seu filho pode ser educado ou até punido por um erro e isso não irá traumatizá-lo. Que a reprovação, muitas vezes, é necessária e fará um bem danado para o futuro daquela criança.

Se necessário, peça ajuda a um psicólogo. Tente uma terapia sistêmica. Mude para você conseguir fazer mudanças (para melhor) no seu filho. O mestre Içami Tiba já dizia: “Quem ama, educa”.

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