Zoo de Brasília contesta denúncia de negligência com saúde de tigresa
Foto divulgada em redes sociais mostra felina Maya sangrando. Segundo o Zoológico, animal teve infecção no útero e passou por cirurgia
atualizado
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A divulgação de uma foto da tigresa Maya, que vive na Fundação Jardim Zoológico de Brasília, sobre uma poça de sangue repercutiu nas redes sociais nesta semana. Em post publicado na página da Federação de Proteção Animal do Distrito Federal (FPA-DF) no Facebook, a entidade acusa o zoo de negligência e de maus-tratos a animais.
A publicação teve centenas de comentários, reações e compartilhamentos e também circulou pelo WhatsApp. Contudo tanto o zoo quanto entidades ambientais que acompanham o dia a dia da instituição afirmaram que as informações são equivocadas.
No post, a FPA-DF atribui o episódio à gestão do Jardim Zoológico. Segundo a denúncia, vêm ocorrendo “mortes em série”, sem notificação ao Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama). “A tigresa Maya é a próxima vítima, já agonizando e sangrando por incompetência de uma cirurgia de castração”, diz.
Veja o post:
Processo inflamatório
Segundo o Zoológico de Brasília, embora a imagem seja verdadeira, as acusações não procedem. De acordo com o zoo, a tigresa foi submetida a uma bateria de exames preventivos em 12 de setembro, os quais detectaram a presença de uma infecção no útero, com acúmulo de pus. Com o diagnóstico, ela passou por um procedimento de retirada do órgão e dos dois ovários.
Durante a recuperação, apresentou rejeição aos pontos e parte das suturas se rompeu – foi então que houve o vazamento do líquido, uma mistura de sangue e pus. O momento é o que foi registrado na foto.
A felina passou por novo procedimento para costurar o abdômen. “O quadro atual é delicado, mas Maya está recebendo todo o suporte necessário de médicos veterinários”, disse o zoológico, por meio de nota.
O Metrópoles apurou, com veterinários do zoo, que foi adquirida uma tela cirúrgica para reverter a rejeição de Maya ao material usado nos pontos do curativo.
O zoo produziu vídeo sobre o procedimento cirúrgico. Veja:
Transparência
A situação dos animais do zoo é acompanhada de perto por ONGs de proteção e pela Promotoria de Meio Ambiente do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT). No caso das cirurgias de Maya, representantes dessas organizações puderam acompanhar os procedimentos, como observadores.
A diretora-geral do ProAnima, uma das principais ONGs de proteção animal do DF, Mara Moscoso, afirmou que acompanha o caso de Maya. “O que aconteceu com a tigresa não tem nada a ver com negligência. Particularmente, a gente confia muito na equipe, que já vem desenvolvendo um trabalho ao longo de muitos anos. São eles os responsáveis por atender a fauna nativa quando necessário. Tanto que animais atropelados são levados para lá”, destacou.
Segundo a diretora da ONG, a página que acusou o zoo de incompetência no trato com Maya “tem histórico de propagar informações falsas e acusações não só contra o Zoológico de Brasília, como também de outras entidades, como o Centro de Zoonoses”.
“O histórico de acusações dessa página, que se diz federação mas não tem associados nem CNPJ, é antigo. Eu acho muito triste e uma falta de respeito ao servidor e à profissão de veterinário. Acho, inclusive, que o Conselho Regional de Medicina Veterinária (CRMV) deveria acioná-la e o zoológico, processá-la”, opinou.
Questionado sobre a possibilidade de processar a página, o zoo informou que está acompanhando o caso e, se necessário, tomará as medidas cabíveis.
Maya vive com o irmão Dhandy. Ambos fazem parte de um programa internacional de conservação de tigres de bengala. Esses animais, quando estão em perfeitas condições de saúde, não podem ser castrados.
Como os tigres brancos em cativeiro descendem de um mesmo casal, conforme o zoo informou, eles não podem cruzar entre si por risco de doenças resultantes do cruzamento consanguíneo, mas estão aptos a se reproduzir com os felinos de pelagem amarela.
Resposta
Vice-presidente da FPA-DF, Carolina Mourão diz que a organização mantém as dúvidas sobre os procedimentos. “São graves os fatos em curso dentro do zoológico da capital federal, especialmente na crise que se instalou desde a primeira das três cirurgias que sofreu tigresa Maya — duas consecutivas com o objetivo de sanar erros e danos ao animal sedado permanentemente até o presente momento, acompanhado da mesma equipe veterinária, contudo agora monitorada por um profissional que não pertence ao quadro, e que se esforça em mantê-la viva”, divulgou, em nota ao Metrópoles.
“As informações publicadas pelo zoo sobre o problema com a tigresa só surgiram após nossas denúncias, e da sequência desse absurdo treinamento de veterinários contratados não experientes em animais selvagens que até o presente momento não foi revelada, e que se repetem em outros casos”, continua, esclarecendo que a Federação de Proteção Animal do Distrito Federal tem CNPJ constituído, diferentemente do que foi comentado em redes sociais.