Youtuber famoso por treta com Bolsonaro vaza dados de “alunes” da UnB
Mais de 10 estudantes do curso de história da UnB tiveram dados pessoais vazados. Ao menos cinco boletins de ocorrência foram registrados
atualizado
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O youtuber Wilker Leão de Sá (foto em destaque), famoso por ter se envolvido em uma confusão com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após chamá-lo de “tchutchuca do centrão”, protagonizou desta vez uma nova “treta”, agora na Universidade de Brasília (UnB).
Ele é acusado de vazar dados pessoais de colegas da universidade, além de incentivar seus seguidores a praticarem invasões e agressões contra os estudantes.
Afirmando estar sendo perseguido pelos “alunes” – alunos escrito em linguagem neutra, usado nesse contexto como forma de ironia – do curso de história da universidade federal, Wilker, que também é estudante do curso, utilizou seus perfis nas redes sociais para postar prints de um grupo de WhatsApp.
Nas conversas, colegas criticam e ofendem ao youtuber devido às atitudes tomadas por ele dentro do ambiente da universidade (leia mais abaixo).
As imagens publicadas em 23 de agosto último pelo influenciador, que possui mais de 600 mil seguidores nas redes, acabaram levando ao vazamento de dados pessoais de diversos alunos que faziam parte do grupo de mensagens, como número de celular, nome e sobrenome.
Além disso, ao perceberem que o influenciador estava sendo alvo de ataques, seguidores de Wilker Leão usaram os dados vazados para expor ainda mais os estudantes, divulgando na internet dados como nome completo, CPF e endereço dos envolvidos na discussão.
Os colegas de faculdade, então, passaram a ser alvo de ofensas e ameaças.
“Muitas são no sentido de que vão bater na gente na UnB. Outras são ameaças de vazamento de dados e informações nos grupos deles, bem como inscrição dos nossos dados em sites etc.”, disse uma das vítimas desses vazamentos, que preferiu não se identificar. “Por último, também são as ameaças de ‘retaliação’, de forma genérica, caso ‘aconteça algo com Wilker'”, acrescentou.
“Agora eles estão enviando mensagens para os nossos familiares, amigos, conhecidos, companheiros etc. Todas nesse tom, tanto de ameaça como de ridicularização”, completou.
Veja:
Segundo apuração do Metrópoles, pelo menos 12 estudantes que tiveram dados vazados foram vítimas de ameaças de violência física e comentários racistas, machistas e homofóbicos, que resultaram, até o momento, em cinco boletins de ocorrência registrados contra o youtuber e seus seguidores.
Além disso, o caso atualmente é investigado por uma sindicância instaurada pela UnB. A universidade afirmou também que a situação foi levada “a conhecimento da Polícia Federal”.
Suspensão de aulas e “atraso na graduação”
A reportagem apurou também que a conversa entre os estudantes postada por Wilker Leão foi motivada por uma confusão entre o youtuber e uma professora da Universidade de Brasília (UnB).
Em 16 de agosto último, o Metrópoles noticiou que a docente registrou um boletim de ocorrência informando ser vítima de difamação por parte do influenciador, que publicou vídeos em que os dois debatiam dentro da sala de aula.
A professora se tornou vítima de ofensas por conta das publicações de Wilker Leão. A docente relatou que recebeu diversos comentários de ódio, que chegaram ao conhecimento dos filhos menores de idade.
Por conta desses ataques, a professora decidiu suspender a disciplina neste semestre. Em um grupo do WhatsApp, os estudantes do curso de história da UnB iniciaram uma discussão a respeito da suspensão das aulas, que evoluiu para uma conversa voltada a criticar Wilker e suas atitudes tomadas durante as aulas na universidade.
Um estudante que faz parte do grupo, que preferiu não se identificar, explicou que essa não seria a primeira vez que Wilker teria causado mais atrasos na graduação.
“Por conta da pandemia e da greve, todo mundo, seja da área de graduação, de pesquisa ou de estudos, atrasou, perdendo matéria e ou até reprovando. E ainda por cima tem as confusões que ele [Wilker Leão] causa na aula. Então a indignação [dos estudantes do curso de história] foi aumentando um pouco, sabe? E acabou gerando aquela discussão no grupo de mensagens”, disse um estudante do curso de história que preferiu não se identificar.
“Ele [o youtuber Wilker Leão] grava vídeos em que ele ‘tira dúvidas’ com os professores. Só que ele não quer saber nada. Ele ficava provocando os professores com assuntos que não tinham nada a ver com a matéria, e que geravam discussões que atrapalhavam e tiravam 20, 30 minutos da aula. Tudo para ficar gravando os vídeos para o canal dele”, concluiu o estudante.
Assembleia dos Estudantes
Motivado pelos episódios protagonizados por Wilker em agosto deste ano, o Centro Acadêmico de História da UnB decidiu promover na semana passada, uma assembleia para debater a questão.
Na reunião, a entidade estudantil decidiu, por unanimidade, expulsar Wilker dos espaços de convívio promovidos pela entidade estudantil – como debates, rodas de conversa, eventos públicos e espaço físico do Centro Acadêmico – e encaminhou, junto ao Instituto de Ciências Humanas da universidade, um pedido à Reitoria para a abertura de um Processo Administrativo Disciplinar (PAD).
O Centro Acadêmico, no entanto, não abriu espaço para participação de Wilker na assembleia, o que causou indignação do influenciador. Mesmo assim, o youtuber compareceu ao evento acompanhado de alguns seguidores, um deles que inclusive chegou a agredir um dos participantes.
A presença de Wilker na assembleia foi filmada por ele e postada em seu canal do YouTube, alcançando em menos de quatro dias mais de 200 mil visualizações na rede. O conteúdo, no entanto, foi removido devido a um pedido de violação de direitos autorais.
Devido à remoção do vídeo, Wilker mais uma vez usou suas redes sociais para “denunciar” uma suposta perseguição por parte dos colegas da universidade federal.
Confira:
O que dizem os envolvidos
Procurado pela reportagem, Wilker Leão de Sá afirmou que não detalharia a situação e limitou-se a dizer que é ele quem está sendo “ameaçado por eles [os estudantes do curso de história da UnB] e acusado, falsamente, de coisas como ‘fascista, racista e homofóbico'”.
A Universidade de Brasília, por sua vez, informou que não há restrições quanto a gravação de vídeos nas dependências da universidade, mas que a UnB “possui normas que protegem a propriedade intelectual, para que não sejam divulgados, sem consentimento, conteúdos e informações de pesquisa e ensino, dados e conhecimentos produzidos no ambiente acadêmico, em laboratórios e salas de aula”.
A universidade esclareceu ainda que o caso segue em processo de investigação por parte da sindicância instaurada pelo Instituto de Ciências Humanas (ICH) – responsável por coordenar o curso de história da universidade – e que demais medidas disciplinares e administrativas só serão tomadas caso seja comprovada a “materialidade das acusações”.
Confusão com Bolsonaro
Wilker ficou conhecido pelo público geral em agosto de 2022, quando filmou e provocou o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) após ele sair do Palácio da Alvorada, em Brasília. Ele costuma gravar vídeos provocando pessoas consideradas “militantes” por ele.
Na ocasião, o jovem aproveitou o momento em que o político saía do carro para tirar fotos com simpatizantes com o objetivo de provocá-lo. “Presidente, por que o senhor limitou a delação premiada?”, questionou.
Veja:
Em um certo momento, Leão é empurrado e cai no chão. Após se levantar e fazer mais perguntas, ele chama o presidente de “vagabundo”, “safado”, “covarde” e “tchutchuca do centrão”.
Com os xingamentos, Bolsonaro decide sair do veículo em que tinha entrado para ir em direção ao youtuber. Ele então diz que quer falar com o jovem e tenta pegar o celular dele, mas acaba o puxando pela gola da blusa e pelo braço.