Wesley Murakami é interditado pelo CRM-DF e não pode exercer medicina
Médico é alvo de um processo ético após mais de 30 pacientes denunciarem procedimentos cirúrgicos malfeitos. Decisão é cautelar
atualizado
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O Conselho Regional de Medicina do DF (CRM-DF) interditou cautelarmente o médico Wesley Noryuki Murakami. Ele não pode mais exercer a medicina até decisão de mérito. Murakami é alvo de um processo ético após mais de 30 pacientes denunciarem procedimentos cirúrgicos malfeitos.
Além do processo, o médico possui uma sindicância instaurada que corre em sigilo processual. Quando um médico é processado eticamente no CRM, passa por julgamento e, caso seja condenado, poderá sofrer penas que vão desde a advertência confidencial até a cassação definitiva do registro profissional.
O conselho informa que apura infrações apenas no âmbito ético. Para responder judicialmente, o médico deverá ser denunciado na Justiça.
Os denunciantes foram encaminhados ao Instituto Médico Legal (IML), após o registro das ocorrências, para a realização de exame de corpo de delito. Nas redes sociais, o médico se apresenta como especialista em cirurgias de bioplastia e harmonização facial.
Além das denúncias feitas no DF, outras seis foram registradas no 4º Distrito Policial do Estado de Goiás, segundo informou o advogado de Wesley Murakami, André Bueno.
Os clientes de Wesley Murakami queixam-se do resultado do procedimento que consiste na aplicação de PMMA (sigla para polimetilmetacrilato, um plástico apresentado no formato de microesferas). A suspeita é de que Wesley tenha introduzido o produto em excesso e em locais nos quais não haveria necessidade.
Após o caso se tornar público, mais pessoas tomaram coragem para contar suas experiências traumáticas na mesa de cirurgia do médico. O “Dr. Murakami” – como o profissional se apresenta nas redes sociais – usava a estratégia de apontar defeitos na face de quem se interessava pelos seus serviços.
Tatiane Seles Pereira, 41 anos, quase caiu na lábia do suspeito. Há dois anos, ela procurou o consultório de Murakami no Taguatinga Shopping para tirar dúvidas sobre a remoção de uma mancha no rosto. Durante a conversa, conta ter sido convencida por ele a realizar outros procedimentos estéticos.
Eu me senti horrível. Fui para remover uma mancha e ele saiu prometendo muita coisa. Apresentou mil defeitos em mim. Saí de lá acabada
Tatiane Seles Pereira, paciente
Uma outra paciente, sob condição de anonimato, reconheceu o poder de persuasão do médico. “Não gostava muito do meu queixo e tinha mesmo de fazer uma cirurgia para corrigir um problema na mordida, mas ele me colocou em frente ao espelho e saiu apontando vários defeitos.”
Ameaça
O resultado, no entanto, não foi como planejado, e a paciente passou a sentir vergonha de sair de casa. A mulher chegou a procurar o profissional após a cirurgia, descrita por ela como um “completo fiasco”. Murakami teria se comprometido a ressarcir os R$ 9 mil gastos, mas não cumpriu com a palavra.
“Fizemos um acordo. Inicialmente, ele me pagou R$ 1,5 mil e prometeu pagar o resto, mas está sempre adiando.” Após denunciá-lo, ela diz ter sido procurada pela equipe do médico, pressionando-a com tom ameaçador. “Hoje recebi uma mensagem que dizia: ‘Eu vi você na televisão, tá?’ Estamos todos com medo, esse cara nos dá muito medo. É aterrorizante.”
“Bumbum irregular”
Além de ser acusado de deformar o rosto de dezenas de pessoas, Wesley Murakami é apontado como autor de erro médico ao realizar bioplastia nos glúteos da enfermeira de Goiânia (GO) Kellyane Fonseca, 28. Ela procurou o profissional a fim de tornear o bumbum. Murakami garantiu que o procedimento seria feito com PMMA, mas uma outra substância usada provocou queimaduras de segundo grau na mulher.
Kellyane voltou a procurar o médico, que teria se prontificado a fazer uma segunda intervenção. “Meu bumbum ficou todo irregular. Fui atrás e ele prometeu fazer outra aplicação e corrigir. Nessa nova aplicação, reclamei de dor o tempo todo, ameacei desmaiar, e a todo instante ele me dava água com açúcar. No término, precisei usar oxigênio, pois apresentei insuficiência respiratória.”
Oito dias após a segunda cirurgia, o estado de saúde de Kellyane apresentou piora. “Tive febre e precisei procurar um médico. Estava com infecção. Imediatamente, optaram pela minha internação, quando fiquei oito dias à base de antibióticos.”
Procedimento
No início do mês, sem saber que estava sendo gravada, a secretária da clínica de Murakami em Goiânia explicou o procedimento “sem corte”. Segundo ela, cobra-se R$ 80 por um atendimento inicial. “A gente pede para fazer um levantamento. Tudo isso é analisado com nosso médico, e ele vai te falar direitinho o valor. Essa consulta é R$ 80, e o valor pode ser descontado caso você feche um procedimento.”
Questionada sobre os efeitos colaterais, a funcionária negou os riscos. “Não tem, porque esses produtos são autorizados pela Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária] e foram testados até mesmo para pessoas com diabetes. Não tem contraindicação. Assim, o doutor pede para o paciente não beber, dá os remédios direitinho e pede para ele fazer o retorno dentro de 10 dias”, explicou a funcionária.
Outro lado
Procurado pelo Metrópoles, o advogado do médico, André Bueno, disse que o seu cliente aguarda ser intimado para prestar esclarecimentos sobre as denúncias no DF e em Goiânia (GO). “Seguindo a determinação do Conselho Regional de Medicina, Wesley da Silva Murakami não está fazendo novos atendimentos e as clínicas seguem fechadas”, disse.