Vizinhos sobre suspeito de enforcar irmã no DF: “Era fechado”
Moradores próximos de onde Sandra Maria vivia, em Vicente Pires, estão tristes e revoltados com o crime
atualizado
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Um dia depois de o corpo da cabeleireira Sandra Maria Sousa Moraes, 39, ser encontrado com um fio de telefone enrolado no pescoço, o Metrópoles esteve no endereço da mulher, em Vicente Pires. O clima na rua onde ela morava é de completa tristeza e revolta.
Sandra foi morta no sábado (23/11/2019) e enterrada em uma área do Assentamento 26 de Setembro, na mesma cidade. O pedreiro Danilo Moraes Gomes, irmão da vítima, é o principal suspeito. Ele está foragido. A notícia foi revelada pela coluna Grande Angular.
Um amigo de Sandra, que preferiu não se identificar, comentou que esteve com ela, no endereço, na última sexta-feira (22/11/2019). “Nós tomamos café juntos e conversamos bastante”, lembrou.
“A Sandra era uma pessoa de boa índole. Trabalhadora. Eu cheguei a conhecer o irmão dela, o suspeito por ter cometido essa atrocidade. Era fechado e introspectivo. Nunca fui com a cara dele”, afirmou o homem.
Veja fotos do caso:
Nas casas vizinhas, moradores pareciam não acreditar no ocorrido. “Ela tinha esse salão há cerca de dois anos. Muito batalhadora. Não tínhamos conhecimento de brigas com o irmão e o filho. O que sabemos é que o Danilo morou aí por um período e depois comprou um lote no Assentamento 26 de Setembro. Atualmente, estava lá e não o víamos na região”, disse uma amiga e cliente de Sandra.
A aposentada Bernadete de Lourdes Medeiros Barbosa, 68, também frequentava o salão de beleza da vítima. “Ela era alegre. Querida. Sempre preocupada com o nosso bem-estar e parecia ser muito amiga da filha, que era manicure do estabelecimento. Estamos chocados.”
Outra amiga da família comentou que era muito próxima da vítima e também da filha dela, Samara Sousa Moraes, 22. “Já vieram almoçar na minha casa. Nós conversávamos muito e ela sempre contava a história de vida. Ela era sofrida. Dizia que já havia sido abusada na infância”, contou.
“Dava a vida para sustentar e ajudar a família. Não conhecíamos o filho dela. Morava aqui há menos tempo. O irmão, Danilo, fazia trabalhos aqui na região para diversos moradores. Ela mesmo o indicava”, apontou a amiga.
Imóvel
Com a autorização de um dos proprietários do terreno, a reportagem teve acesso ao lote onde a vítima residia, na Rua 1 da Colônia Agrícola Samambaia, em Vicente Pires. Ela dividia o imóvel com a filha, Samara, que levou o caso ao conhecimento da polícia.
O salão de beleza foi deixado completamente limpo. Os móveis são todos na cor rosa e as luzes estavam acesas com uma das janelas aberta. A casa aos fundos se encontrava trancada.
Do lado de fora é possível ouvir cães latindo dentro da casa. No quintal, existem cachorros e galinhas.
O caso
A polícia soube do caso com a denúncia da filha de Sandra e irmã de Brendo, Samara Sousa Moraes, 22 anos. Na manhã de segunda-feira (25/11/2019), ela foi à 38ª Delegacia de Polícia (Vicente Pires) e contou que fugiu da casa do tio, Danilo, onde estaria presa desde sábado.
Segundo versão de Samara, o tio contou que a mãe estava morta. Depois, teria mantido a sobrinha em cárcere e a estuprou.
A polícia foi atrás de Brendo Sousa Moraes, 21 anos, filho de Sandra. Ele mostrou onde o corpo da mãe estava enterrado: cerca de 50 metros mata adentro e a 15 centímetros do chão.
O filho negou participação no feminicídio, mas acabou detido e será autuado por ocultação de cadáver.
Investigação
Brendo acompanhou a polícia nesta terça-feira (26/11/2019) durante visita à casa de Sandra Maria, onde ela mantinha também o salão de beleza. Segundo o delegado chefe da 38ª DP, Yuri Fernandes, responsável pela investigação do caso, uma diligência está sendo feita em casas da vizinhança.
“Vamos observar se alguma imagem da região conseguiu captar o momento da entrada de Danilo na casa e mostre se ele agiu sozinho ou com a ajuda de alguém. Agora vamos analisar os vídeos colhidos”
A perícia no local também foi realizada. “Não há vestígios na casa. Nada foi encontrado lá. Eles saíram andando de dentro do terreno. Nós acreditamos que ele cometeu o crime sozinho e estaria usando a relação conturbada do Brendo com a mãe para acusar o Brendo para a Samara e vice-versa”, diz Fernandes.
“Acreditamos que, se conseguirmos a imagem dele chegando no carro dele, uma picape, sozinho, comprovaremos que ele agiu sem ajuda.”
“Infelizmente, estamos com uma pessoa de extrema periculosidade solta e empenhados para capturar o autor desse crime lamentável”, disse o delegado.
Neste 2019, o Metrópoles iniciou um projeto editorial para dar visibilidade às tragédias provocadas pela violência de gênero. As histórias de todas as vítimas de feminicídio do Distrito Federal serão contadas em perfis escritos por profissionais do sexo feminino (jornalistas, fotógrafas, artistas gráficas e cinegrafistas), com o propósito de aproximar as pessoas da trajetória de vida dessas mulheres.
O Elas por Elas propõe manter em pauta, durante todo o ano, o tema da violência contra a mulher para alertar a população e as autoridades sobre as graves consequências da cultura do machismo que persiste no país.
Desde 1° de janeiro, um contador está em destaque na capa do portal para monitorar e ressaltar os casos de Maria da Penha registrados no DF. Mas nossa maior energia será despendida para humanizar as estatísticas frias, que dão uma dimensão da gravidade do problema, porém não alcançam o poder da empatia, o único capaz de interromper a indiferença diante dos pedidos de socorro de tantas brasileiras.