Vizinhos evitam ficar em prédio onde Júlia foi assassinada
Segundo proprietária de prédio em Vicente Pires, moradores estão afastadas “por medo” da situação
atualizado
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Os vizinhos de Giuvan Félix, 25 anos, pai da menina Júlia Félix de Moraes, de apenas 2 anos, morta na quinta-feira (13/02/2020), em Vicente Pires, estão atônitos com a situação. Assassina confessa e mãe da criança, Laryssa Yasmim Pires de Moraes, 21, estava morando temporariamente com Giuvan, depois de ter sido expulsa de casa.
“É difícil aceitar”, afirmou uma comerciante da região, que preferiu não se identificar. Ela contou que dias antes de Laryssa vir morar no prédio, Giuvan afirmou que sentia “muita saudade” da filha e gostaria de ficar mais com a criança.
“Ele é um rapaz muito querido, reservado e trabalhador. Quando tinha um tempo livre, usava para estudar. Por isso, a maioria das pessoas só conhecia de vista. Já a moça saía raramente. Vi algumas poucas vezes na sacada e só”, afirmou a moça, que era amiga de Giuvan. “Júlia era uma criança pequenininha. É algo difícil de acreditar, muito triste”, lamentou a amiga do rapaz.
A proprietária do prédio, Maria Gilmaria Sousa Espíndola, 44, contou que alguns estão evitando ficar no local. “Contando com eles (Giuvan e Laryssa), moravam sete pessoas no prédio. Hoje (sexta), só uma moradora esteve aqui. As pessoas não estão deixando o prédio, mas acho que ficam um pouco afastadas por medo do que aconteceu. Devem voltar nos próximos dias”, espera.
“Meu sentimento é de perplexidade pelo que aconteceu. Mas também estou aliviada por não ter acontecido nada com ele (Giuvan)”, explicou a proprietária.
Laryssa está presa na carceragem do Departamento de Polícia Especializada (DPE) e aguarda por sua audiência de custódia.
Pedido de perdão
O corpo da pequena Júlia foi enterrado nesta sexta-feira (14/02/2020) em Padre Bernardo (GO), município goiano no Entorno do Distrito Federal. Durante o sepultamento, a mãe de Laryssa pediu perdão em nome da filha acusada de assassinar a menina a facadas.
“Gostaria que vocês não julgassem as pessoas. Só Deus tem o direito de julgar e condenar. Eu estou sofrendo muito. Ela vai pagar pelo que fez”, destacou a merendeira Luciana Pires da Silva, 37. “É um pedido de uma mãe”, acrescentou a mulher, que chorou copiosamente abraçada a um ursinho de Júlia.
Muito abatido, Giuvan Félix, 25, pai da menina, chorou muito durante o cortejo e não deu uma palavra. Permaneceu ao lado do jazigo, parecendo estar em choque. A família do recepcionista não se conforma com a barbárie. “Não foi por falta de aviso. Ela (Laryssa) tentou matar Júlia afogada em uma banheira e inventou uma desculpa que foi um acidente. Desde então, o Giuvan pediu a guarda da menina”, lembrou Elves Rodrigues de Oliveira, 30, tio paterno da menina. O episódio teria ocorrido há seis meses.
“Ele estava lutando pela guarda. Amava muito a minha sobrinha e dava para ela o que ele tinha e o que não tinha”, afirmou Elves, muito abalado. Ele diz que os esforços agora são para dar todo o apoio para Giuvan, que foi inocentado. “Temos que consolar e ver como ele fica. Não é fácil para um pai perder uma filha desse jeito. Ainda mais que ele presenciou tudo”, ressaltou.
O crime
O crime ocorreu na madrugada de quinta-feira (13/02/2020), na chácara 148 da Colônia Agrícola Samambaia, em Vicente Pires e ganhou repercussão nacional. Em depoimento à 12ª Delegacia de Polícia (Taguatinga Centro), Laryssa narrou detalhes de como executou a facadas a própria filha. Segundo a jovem, o crime ocorreu na cozinha da quitinete, de apenas três cômodos.
Ela contou ter acordado por volta de 5h30 da manhã. Depois, colocou sobre a pia um colchão de berço e levou a filha até a bancada. “Tentou, primeiro, dar uma facada, mas não deu certo. A bebê começou a chorar. Foi aí que ela tentou sufocar com a mão, fechou os olhos e acertou outras duas vezes”, descreve o delegado Josué Ribeiro da Silva.
Após tirar a vida da criança, Laryssa foi ao quarto onde o ex-companheiro e pai de Júlia dormia e tentou acertá-lo. Giuvan Félix teria acordado assustado e, na tentativa de desarmar a mulher, acabou se ferindo no rosto.
Após tomar a faca de Laryssa, ele se deparou com a filha ensanguentada e acionou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) . “Enquanto Giuvan estava no telefone, ela guardou a faca e escondeu o colchão na área de serviço, que encontramos após voltarmos à casa”, afirma o delegado.
Laryssa confessou, ao ser presa em flagrante, que havia matado a criança. Em depoimento na 12ª DP, mudou a versão e passou a acusar o ex-. No entanto, a polícia diz que ele não teve participação no crime. E acredita que Giuvan possa ter sido dopado pela ex.
Irmã do ex-marido da mãe de Laryssa, Luciana, a aposentada Linda das Graças, 61, lamentou profundamente a morte de Júlia. “Ninguém esperava. A Laryssa nunca demonstrou essa atitude. Foi criada em casa. Era amorosa. Estamos chocados. Temos muito apreço por essa família. É uma tristeza sem explicação.”
“Estamos muito tristes. O que ocorreu não é bom para ninguém. Vai marcar para sempre a nossa família negativamente”, disse o bisavô materno de Júlia, o pedreiro Jair da Silva Lopes, 65.