Vigilância Sanitária fecha clínica de bronzeamento após morte de jovem
Nara Farias sofreu queimaduras de primeiro grau e desidratação depois do procedimento. Empresa Belo Bronze funcionava na 705 Sul sem autorização. Foram apreendidas macas usadas para tomar sol e bombas de aplicação
atualizado
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Fiscais da Vigilância Sanitária fecharam a clínica Belo Bronze, na 705 Sul, na manhã desta quinta-feira (15/9), que funcionava em uma pousada. A estudante de direito Nara Farias Preto, 20 anos, morreu após se submeter a uma sessão de bronzeamento no local. Segundo o órgão vinculado à Secretaria de Saúde, o CNPJ do estabelecimento não consta cadastrado no sistema e a suspeita é de que ele funcione de forma clandestina. Os fiscais apreenderam materiais encontrados no espaço, entre eles macas enferrujadas e bombas de aplicação.
Nara deu entrada no Hospital da Forças Armadas (HFA) na tarde de terça (13) e se queixava de dores e fraqueza. De acordo com os médicos, a jovem sofreu queimaduras de primeiro grau, insolação e desidratação depois do procedimento. O procedimento foi realizado no sábado (10) na clínica. Para se bronzear, a jovem ficou deitada em cima de uma maca de massagem, na cobertura da casa, onde tomou sol por cerca de quatro horas após a aplicação de um produto que acelerava a pigmentação do corpo.A dona do imóvel informou que alugou a casa sem dar autorização para que fosse usada com fins comerciais, explicou o auditor responsável pela vistoria, Márcio Cândido de Jesus. “Era uma pessoa que vinha e fazia as técnicas de bronzeamento no terraço da casa. Estão sendo lavrados termos de interdição e apreensão, que podem gerar processos administrativos que resultam em multa. A responsável pela clínica ainda não apareceu, mas será notificada para apresentar os documentos necessários”, completou. A multa pode variar de R$ 2 mil a R$ 2 milhões.
A proprietária do imóvel, Lilia Torres, afirmou que mora no Rio de Janeiro e não tinha conhecimento da atividade exercida no endereço. “Por coincidência, eu estava aqui esta semana e fiquei sabendo do caso. Eu e meu advogado estamos aqui com uma intimação para tirar essas pessoas imediatamente da casa”, assegurou. “A gente não compactua com essa atividade de forma alguma e temos como provar. O contrato é estritamente residencial. Eu, inclusive, aluguei o imóvel deixando muito claro que aqui não era uma pousada”, completou Lilia.
Ela disse ainda que a locatária, Vanderli da Silva Lacerda, estava no imóvel desde dezembro de 2015. Lilia contou que não costumava subir até o terraço e que, por isso, não tinha conhecimento das atividades estéticas.
No entanto, a história contada pelos clientes da pousada é diferente. O professor aposentado Luiz Sérgio Cativo Barros, de 68 anos, afirmou que vive no local desde dezembro do ano passado e que Lilia visitava o endereço pelo menos uma vez por semana e que sabia das atividades comerciais exercidas no local. “Eu vim de Belém (PA) para ficar nesta pousada. Isso aqui sempre foi uma pousada. A proprietária sentava e conversava comigo aqui”, alegou.
Ele disse ainda que está disposto a repetir a informação para os investigadores que cuidam do caso. Barros afirmou que não tinha conhecimento dos procedimentos estéticos que eram realizados no terraço. O advogado de Lilia, Rolland Carvalho, explicou que a primeira providência adotada foi o pedido de desocupação imediata do imóvel: “Não havendo a desocupação voluntária, entraremos com a ação de despejo e as devidas indenizações”.
Entenda o caso
Nara teve duas paradas cardíacas, foi reanimada pela equipe médica e depois transferida, em estado gravíssimo, para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) do Hospital Daher, no Lago Sul, onde morreu na quarta (14). O corpo será enterrado em Mara Rosa (GO), cidade onde ela nasceu.
O caso foi registrado na 10ª Delegacia de Polícia, no Lago Sul, pela família da vítima, que mora no Cruzeiro. No entanto, foi transferido para a 1ª DP (Asa Sul), região em que a clínica funciona. O laudo sobre o que teria levado Nara à morte só será divulgado em 30 dias pelo Instituto Médico Legal (IML).
A Agência de Fiscalização (Agefis) esteve na quarta-feira no endereço, mas informou que não encontrou nada que indicasse que funcionasse uma clínica no local, mas sim uma pousada. O prefeito da 705 Sul, Hamilton Figueiredo, contou que ficou “estarrecido” com a notícia da morte de Nara e indignou-se com a “vista grossa” do governo com relação a estabelecimentos comerciais em funcionamento na área residencial da W3.
Ele não tinha conhecimento do funcionamento da Belo Bronze no endereço. “A Agefis não encontrou a clínica. Todo mundo sabe que essas pessoas andam com kits móveis. Mas ela esteve em uma pousada em pleno funcionamento e não interditou o local”, afirmou.