Vídeo: militar da ativa atua em acampamento no DF, pede Pix e incita protestos bolsonaristas
Segundo-sargento da Aeronáutica faz vídeo trabalhando em cozinha do acampamento no QG do DF: “Quem quiser fazer o mesmo pelo Brasil, faça!”
atualizado
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Um militar da ativa vem participando de protestos bolsonaristas contra o resultado das urnas e a favor de uma “intervenção federal”, no Distrito Federal. Francisco Roksinaidy, segundo-sargento da Aeronáutica, gravou vídeo trabalhando em uma cozinha improvisada em frente ao Quartel General do Exército em Brasília. Manifestações político-partidárias por militares são consideradas transgressões, ou seja, são proibidas.
Francisco fez publicações no Instagram e no TikTok. Nessa última rede, ele soma mais de 23 mil seguidores. O segundo-sargento fez vídeos no protesto do DF em pelo menos quatro dias diferentes. Em um deles, aparece com a camisa da seleção brasileira, de avental, na cozinha, pedindo doações e incitando mais movimentos em quartéis. Na legenda da publicação, a frase: “Venha para o QG você também”.
“Quem quiser doar, tem Pix. Quem quiser, traz para cá. E quem quiser fazer o mesmo pelo Brasil afora, faça! Na frente dos quartéis, montem as barracas comunitárias”, afirma. Um número de telefone divulgado por ele, com DDD do Amapá, serve como chave de Pix para doações de alimentos.
A chegada de toneladas de comidas no protesto serve para manter os manifestantes por longos dias em frente ao QG. O grupo tem pedido intervenção dos militares na política. Em diversos pontos do Brasil, eles estão acampados há oito dias. Roksinaidy mostra com orgulho a estrutura do protesto e rebate o que chama de “lacração de petistas”.
Em uma das lonas improvisadas como cozinha, ele chega a fazer um paralelo entre a situação dos bolsonaristas com pessoas em situação de rua.
“Antes que algum petista venha ‘lacrar’ dizendo: ‘Por que não faz doação para quem mora na rua?’, aqui a gente está no meio da rua, no Quartel General do Exército.”
O militar da Aeronáutica ainda publica legendas como: “Os patriotas não têm dia para ir embora” e “5 refeições por dia para todos que estão acampados”. Outro vídeo que chama atenção foi gravado por um internauta e compartilhado por ele no primeiro dia do protesto. “Bora, galera. Vamos chegando. Estacionamento exclusivo aqui para a gente. Olha o Exército aqui, está cuidando dos carros”, afirma.
Francisco Roksinaidy é eleitor declarado de Jair Bolsonaro (PL), derrotado nas urnas por Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em 8 de setembro, ele chegou a postar uma filmagem em que aparece fardado comentando uma “fábula”. “A vida é assim: às vezes as pessoas estão no mesmo barco que você, mas só porque elas têm raiva do capitão do barco, elas querem afundar, mesmo que elas vão junto.”
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O Metrópoles entrou em contato com Roksinaidy pelas redes sociais para pedir um posicionamento, mas não recebeu retorno até a última atualização desta reportagem. A Aeronáutica e o Ministério da Defesa também não responderam aos questionamentos.
Perfil
O Metrópoles mostrou que o perfil principal de manifestantes em Brasília é composto por empresários, autônomos, aposentados, grupos armamentistas e militares reformados, sendo a maior parte deles brancos e de alto poder aquisitivo. Eles prometem “morar” em frente ao Quartel General do Exército de Brasília, até que surja uma “intervenção federal” e o resultado das urnas seja anulado.
Os bolsonaristas contam com uma estrutura cara. Comidas, bebidas e tendas são entregues “de graça” para os presentes. A maioria não sabe dizer quem banca tudo isso, enquanto outra parte diz que são doações voluntárias. A arrecadação em dinheiro vivo chama atenção. Em cerca de 10 minutos, uma vaquinha para “contratar um trio elétrico” recebeu R$ 3.670 em espécie. Notas de R$ 100 e de R$ 50 saíam facilmente do bolso dos presentes.
Investigação e pedido
Integrantes de Ministérios Públicos (MPs) se reuniram com o ministro Alexandre de Moraes, presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), nesta terça-feira, para tratar das investigações realizadas nos estados sobre protestos a favor de um suposto golpe. Os magistrados chamaram os movimentos de “organização criminosa que atenta contra a democracia”, e ainda disseram ter identificado ligação entre financiadores por todo o país.
O Exército Brasileiro chegou a enviar um ofício a órgãos do Governo do Distrito Federal (GDF) pedindo ajuda para “manter a ordem” na área de seu Quartel General (QG), localizado em Brasília. A Força pede que a Secretaria de Segurança Pública atue em parceria com outras entidades e autarquias, a fim de controlar ambulantes, trânsito de veículos, carros de som e manifestantes ao redor do prédio.