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Vídeo: igreja é acusada de mandar encerrar feira tradicional em Goiás

Confusão aconteceu no sábado (2/12), no distrito de Olhos d’Água, em Alexânia (GO), no Entorno do DF. Evento ocorre na região desde 1970

atualizado

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1 de 1 Imagem colorida de pessoas caminhando em um gramado - metrópoles - Foto: Reprodução

Organizada desde a década de 1970 no distrito de Olhos d’Água, em Alexânia (GO), no Entorno do Distrito Federal, a tradicional Feira do Troca teve as atividades interrompidas pela Polícia Militar de Goiás (PMGO) no último sábado (4/12). A interrupção do evento teria ocorrido a mando da Paróquia Santo Antônio, segundo moradores da região.

Indignados com as ordem pelo fim das atividades, frequentadores presentes exigiram dos militares documentos oficiais que comprovasse a determinação do encerramento do evento, momento em que começou o tumulto.

“Foi um teatro dos horrores. Um tempo atrás, o padre encrencou [com o evento], falando que a praça era da paróquia. Ontem [sábado], ele resolveu colocar a polícia lá, e foi uma confusão. Mulheres e crianças foram agredidas. Inclusive, uma DJ foi colocada na viatura porque os PMs exigiram que ela desligasse o som, e ela disse que não tinha motivo para isso, pois eram 20h. [Os policiais], então,  jogam spray de pimenta em todo mundo. Uma série de agressões aconteceram. Foi um horror”, declarou uma moradora da região, que pediu para não ter o nome divulgado, por medo de represálias.

Testemunhas registraram em vídeo o momento do ocorrido.

Veja:

O evento ocorre duas vezes no ano: a primeira edição em junho; a segunda, em dezembro. “A feira foi criada por uma ex-professora da Universidade de Brasília. O nome faz menção ao fato de que trocam artesanatos por materiais que os artesãos precisam e não existem na região. O evento sempre aconteceu na praça da cidade. No meio dela, fica uma igreja católica. Em junho, o padre da paróquia ameaçou acabar de vez com as atividades. Nesse dia, ele disse que a Feira do Troca não aconteceria mais lá, pois a igreja tinha determinado a proibição”, detalhou uma segunda denunciante, que também não quis se identificar.

Apesar de inúmeras tentativas anteriores de impedir que a feira ocorresse, a população se reuniu e organizou o evento. Contudo, ele acabou interrompida pela PMGO.

“Após a fala do padre, muitas pessoas que moram aqui [em Olhos d’Água], que vieram de Brasília, de Goiânia, e têm casa aqui, começaram a articular em favor da continuação da feira. Então, o padre, junto ao pároco de Alexânia, fez um projeto para impedir que o evento acontecesse. Arrancaram grama [da praça] e, na semana passada, mandaram tirar quatro árvores nativas. Então, a população começou a se manifestar”, completou a segunda testemunha ouvida pela reportagem.

“Manifestação pacífica”

Ao Metrópoles uma DJ detida por policiais militares por se “recusar a tirar o som da praça” contou sobre o episódio. “Desde que cheguei à cidade, há três anos, eu discoteco. Durante esse tempo, vi que há uma tradição de que som alto só é liberado após a missa. Eu achei muito legal, porque é um respeito mútuo. Contudo, na noite de sábado [2/12], após uma manifestação pacífica, depois de tirarem árvores da praça, [PMs] chegaram falando para eu desligar o som. E eu disse que só o faria mediante [apresentação de] documento legal”, contou.

“Virei para eles e disse assim: ‘Acho que vocês estão ajudando o padre, e, se for isso, eu me recuso [a desligar os som]’. E eles ficaram bem irritados, desligaram meu som e colocaram dentro do camburão. Pelo fato de o equipamento ser de um amigo meu, comecei a ficar nervosa. Disseram que eu estava desacatando [os PMs], seguraram no meu braço e ameaçaram me levar para a delegacia de Águas Lindas [GO]. Em seguida, eles me algemaram e me jogaram dentro de uma viatura. Eu estou dolorida, machucada. Isso não pode ficar assim”, cobrou a DJ.

“Baderneiros”

Por meio de nota, a PMGO informou que “equipes de policiamento foram solicitadas por populares para conter baderneiros que ligaram som alto, em volta da igreja, localizada no distrito de Olhos d’Água, com a intenção de atrapalhar a missa que ocorria no momento”.

“A equipe policial chegou ao local e entrou em contato com a Sra. D., que disse que ‘manteria o som no volume mais alto’. Mesmo [com] a polícia tentando conter o túmulo de forma pacífica, a sra. se sentiu corajosa e, bastante alterada, começou a empurrar os policiais e desferir palavras de baixo calão. Diante do flagrante desacato aos policiais, foi necessário contê-la e conduzi-la à delegacia de polícia, para as providências legais cabíveis”, comunicou a corporação.

Ao Metrópoles a Diocese de Anápolis, à qual a Paróquia Santo Antônio é vinculada, disse que a área onde a feira ocorre pertence à Igreja Católica.

Confira a nota da instituição na íntegra:

“Em relação à problemática apresentada, temos que por muitos anos a Diocese de Anápolis (Paróquia Santo Antônio) cedeu de forma gratuita a área de sua propriedade para a realização da ‘Feira do Troca’. Conforme já exposto em outra oportunidade, essa organização religiosa fez o comunicado de que a ‘Feira do Troca’ não mais aconteceria no referido imóvel, sem, contudo, descartar o diálogo com o poder público municipal para a continuidade do referido evento em outro local situado no distrito de Olhos d’Água.

Diante dessa questão, sabemos que, a partir do mês de dezembro do presente ano, foi escolhido outro espaço para a realização do evento, no próprio distrito.

Ademais, importante destacar que a revitalização da referida área que se encontra em andamento foi decidida com a anuência dos fiéis católicos, com o intuito de proporcionar um maior bem-estar para as famílias que residem em Olhos d’Água. O projeto de revitalização prevê o plantio de dezenas de espécies de árvores nativas do nosso bioma, que, inclusive, estão sendo plantadas há alguns meses.

Nesse contexto, fato é que, diante da referida revitalização, a Paróquia Santo Antônio requereu para o município de Alexânia (GO) a retirada de quatro árvores naquela localidade, o que, após avalição técnica por parte Secretaria Municipal de Meio Ambiente, foi devidamente autorizado, nos termos do laudo emitido.

Portanto, esclarecemos que a retirada das árvores aconteceu em observância à legislação aplicável, com a devida autorização do respectivo órgão ambiental. Por fim, rogando ao Senhor Deus pela unidade e a paz, a Diocese de Anápolis reitera seu compromisso com a verdade, colocando-se à disposição da sociedade.”

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