Vídeo: durante pandemia, servidores e internos usam água turva na Papuda
Penitenciárias do Distrito Federal somam 739 infectados pelo novo coronavírus, entre profissionais e detentos
atualizado
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Imagens exclusivas obtidas pelo Metrópoles mostram as condições do recém-inaugurado Bloco 3 do Centro de Detenção Provisória (CDP), no Complexo Penitenciário da Papuda. Gravações feitas no domingo (17/05) exibem infiltrações, fios de energia espalhados no local destinado ao abrigo dos policiais penais, chão molhado e água turva saindo das torneiras para os profissionais e os internos.
A Papuda é o local com maior incidência de contaminação pelo novo coronavírus do Distrito Federal. O último boletim divulgado pela Secretaria de Saúde indicava a incidência de 4.081 casos, 63 por 100 mil habitantes. As penitenciárias do DF já contam 739 infectados, entre policiais penais e detentos.
Para piorar as condições precárias denunciadas pelos trabalhadores, é inviável seguir uma das principais recomendações das organizações internacionais e do Ministério da Saúde: lavar as mãos com sabão e água limpa. O procedimento é um dos fatores determinantes para evitar o contágio pela Covid-19.
Sob a condição de anonimato, um servidor detalhou que, após chover, a situação no local ficou ainda mais precária.
“Bloco 3, ontem, depois da chuva. Sem condições, um descaso total com a gente, com a família, com todos que nos amam e dependem de nós! Somos cobrados porque queremos só o nosso direito. Não tem a menor condição de trabalhar aqui. O caso não é isolado, outras unidades também estão assim”, reclamou.
Os servidores afirmaram que há presos diagnosticados com coronavírus no local. Durante o expediente, o policial conta apenas com uma cadeira para se sentar.
Em nota, a Subsecretaria do Sistema Penitenciário (Sesipe), vinculada à Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF), afirma que o Bloco 3 do Centro de Progressão Penitenciária (CPP) está em reforma e que estão alojados por lá cerca de 90 internos que trabalham na obra.
No comunicado, o órgão destaca que não há servidores dormindo no alojamento da unidade.
“O expediente dos policiais penais é exercido de maneira segura com o uso equipamentos de proteção individual (EPIs), seguindo regras sanitárias adotadas neste período de pandemia. A distribuição dos EPIs está sendo feita, pela SSP/DF, em todas as unidades prisionais de maneira uniforme e de acordo com a necessidade de cada setor”, aponta a nota, sem falar sobre a água turva.
Primeira morte no sistema
Nesse domingo (17/05), a morte da primeira vítima da Covid-19 no sistema prisional foi registrada. O policial penal Francisco Pires de Souza, 45 anos, era lotado na Penitenciária do Distrito Federal I (PDF I).
Francisco Pires de Souza residia em Santa Maria e estava internado no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) desde 28 de abril, em estado gravíssimo. Ele não tinha doença preexistente. Na última semana, após sofrer parada cardiorrespiratória, o policial foi reanimado pela equipe médica da unidade de saúde.
Ele foi o primeiro a morrer em decorrência do coronavírus na Papuda. O enterro foi às 17h de domingo no Cemitério Campo da Esperança da Asa Sul. A Diretoria Penitenciária de Operações Especiais (Dpoe) fez a escolta do corpo do Hran até o cemitério.
O número de casos confirmados de pessoas com o novo coronavírus no sistema prisional do DF foi atualizado no domingo (17/05). Segundo boletim epidemiológico mais recente, as penitenciárias da capital do país já somam 739 infectados, entre policiais penais e detentos.
Do total, 548 casos são de presidiários diagnosticados com a Covid-19. Os outros 191 registros referem-se a agentes penitenciários que testaram positivo para o vírus. Há 81 policiais penais curados da doença no DF.
Até a última sexta (15/05), cinco policiais penais permaneciam internados com Covid-19 em unidades de saúde do Distrito Federal. Dois no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) e três na rede hospitalar particular da capital do país. Os demais apresentam sintomas moderados e foram afastados das atividades.
VEP solta nota de pesar
A Vara de Execuções Penais (VEP) divulgou, no fim da tarde de domingo (17/05), nota de pesar pela morte do policial. “Pela memória dele, a Vara de Execuções Penais conclama a todos a continuar unindo esforços diante das novas e extenuantes batalhas que ainda nos esperam. Que Deus nos abençoe a todos e, em especial a família enlutada”, disse por meio de nota.
Também no documento, a VEP informou que está desenvolvendo, com a participação de inúmeros órgãos e instituições, um trabalho incansável e desafiante, sobretudo após a epidemia desencadeada a partir da disseminação do coronavírus mas “mesmo diante das dificuldades sobre-humanas que temos diuturnamente enfrentado, a dedicação, a garra e o desejo de acertar que moveram Francisco até o fim, servirão de norte para perseverarmos em nossos esforços”, completou.
Ministério Público
O Núcleo de Controle e Fiscalização do Sistema Prisional (Nupri), do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, divulgou nota de pesar sobre a morte do policial penal. O órgão lembrou que ele estava na linha de frente no combate ao novo coronavírus dentro do sistema prisional.
“É notório que os policiais penais têm desempenhado um papel de extrema relevância para a manutenção da segurança pública em um momento tão difícil para a sociedade. O Ministério Público se solidariza com a dor dos familiares, amigos e colegas de trabalho diante dessa perda irreparável”, diz o comunicado.
Luto
No Instagram, o secretário de Segurança Pública, Anderson Torres, lamentou a morte do colega. “Dia triste para a segurança pública do DF”, escreveu.
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