Vídeo: autores de ação que vetou abertura de atividades no DF são ameaçados
Nas redes sociais, empresários da capital prometeram “meter a porrada” em advogados e no juiz que concedeu a liminar
atualizado
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Os autores da ação popular que derrubou o decreto do governador Ibaneis Rocha (MDB) que permitia abertura de academias, bares, restaurantes, salões de beleza e escolas foram ameaçados pelas redes sociais. Integrantes do grupo que forma o Manifesto Pela Vida foram chamados de “estrume”, “genocidas”, entre outros palavrões, e ainda foram marcados em vídeos com afirmações de que “levariam porrada”.
Decisão liminar do juiz Daniel Carnacchioni, da 2ª Vara de Fazenda Pública, afirma que a flexibilização dos setores da economia ameaçava colapsar a rede de saúde. Após a sentença, Ibaneis revogou o decreto que possibilitava a abertura de mais comércios.
A decisão de Carnacchione atendeu a ação popular impetrada pelo advogado e ex-candidato ao Senado pelo PSol Marivaldo Pereira, o jornalista Hélio Doyle, o cientista político Leandro Couto e o integrante do Conselho de Saúde Rubens Bias Pinto.
Eles pediram a intervenção do Judiciário para impedir a reabertura dos estabelecimentos até que sejam apresentados os estudos que demonstram a ausência de riscos para a população. De acordo com o texto, haverá multa diária de R$ 500 mil caso a decisão não seja cumprida.
Em perfil aberto do Instagram, um dono de academia e outro dono de estabelecimento comercial entenderam que a decisão era para prejudicar seus negócios e suas famílias. Ameaçaram o juiz que concedeu a sentença e os autores da ação popular. Um dos homens chegou a dizer: “Se essas pessoas passarem na minha frente agora, eu meto a porrada”.
“Cala a boca”
O advogado e ex-candidato ao Senado pelo PSol, Marivaldo Pereira, que assina a ação foi o mais afetado. Um proprietário de academia, inclusive, sugeriu em sua rede social que seus seguidores fossem até a casa de Marivaldo para filmá-lo e confrontá-lo pessoalmente. Disse que tinha 21 anos e ganhava mais do que o ex-candidato, e sugeriu que as contas bancárias de Marivaldo fossem investigadas. Disse que “ele não é ser humano, que é estrume”. E marcou Marivaldo nas publicações.
“Marivaldo e companhia , aquela galera da esquerda de Brasília foram alegar que tem gente morrendo. Gente morrendo tem sempre, desde que o mundo é mundo. Vai pegar uma áreazinha e vai parar tudo por causa disso? Cala a boca! Isso aqui tá parecendo um circo, seu hippie de merda, cara de ‘maconherinho’. Fica falando de saúde, mas vai deixar todas as academias falirem”, diz o rapaz, identificado em perfil aberto como FelipeHM.
Ele ainda completou: “Quem devia ter medo de mim era você. Seu público não é maior que o meu. Você também não ganha mais do que eu. Peço a Deus para que te encontre um dia na rua, seu estrume”, completou o jovem.
Assista ao vídeo:
Em outra publicação, um homem se revolta. “Vocês estão agindo, senhores juízes, com pessoas dignas. O governador faz o decreto para reabrir, a pessoa gasta o que não tem para reabrir. Agora passa um juiz bosta desse e acaba com a reabertura. Vocês estão mexendo com a dignidade do homem. Orgulho do homem. Se um desses passa na minha frente agora, meto a porrada”, disse.
Assista:
Diante das ameaças, Marivaldo decidiu que vai registrar queixa na delegacia. Ele gravou um vídeo para tentar explicar que a ação era para preservar vidas diante da pandemia do novo coronavírus e que o governador Ibaneis Rocha (MDB) precisaria apresentar um documento de que haveria leitos para as pessoas se tratarem em caso de aumento no número de casos. Mesmo assim, as ofensas não pararam e Marivaldo recorrerá à ação policial.
Veja os argumentos do ex-candidato ao Senado:
Comissão de Direitos Humanos investiga
A Comissão de Defesa dos Direitos Humanos, Cidadania, Ética e Decoro da Câmara Legislativa pede investigação do caso. “Os documentos anexados demonstram que o cidadão de nome Felipe Carvalho, que tem um
número relativamente alto de seguidores, tem feito postagens nas redes sociais incentivando a
prática de violência por parte dos seguidores contra Marivaldo Pereira”, diz documento assinado pelo presidente da comissão, deputado distrital Fábio Felix (PSol).
Ele frisou que entendemos que o debate público deve ser livre e que a liberdade de expressão é um dos
pilares da nossa democracia, “mas a comissão entende de igual maneira que há limites a essa liberdade,
especialmente quando ela ameaça a integridade física de uma pessoa, como nos parece ser o caso”.
O Metrópoles não conseguiu falar com os autores das ameaças. O espaço se mantém aberto para eles se pronunciarem.