Vídeo. A natureza pede licença: médica flagra tartarugas no Lago Paranoá
Biólogo explica que diferentes espécies de animais passam a ser vistas com mais frequência hoje em dia, após processo de despoluição do lago
atualizado
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No último sábado (21/8), a moradora do Park Way Danglades Resende Macedo Eid, 41 anos, foi andar de lancha no Lago Paranoá com o marido, Vinicius Karim Domingues Eid, 42, e os dois filhos, de 8 e 5 anos, quando flagrou duas tartarugas na água. Os animais foram vistos na altura da QL 18 do Lago Sul.
Veja o vídeo:
“Estávamos com as crianças na lancha, paramos por ali e veio uma maior e depois outra, menorzinha, e elas ficaram lá”, conta a dermatologista.
Segundo ela, não é a primeira vez que a família observa tartarugas no lago. “Pelo menos umas quatro vezes a gente já foi passear e viu.”
Conforme o biólogo da Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) Fernando Starling, que trabalha há mais de 30 anos no Lago Paranoá, ver tartarugas naquele ambiente não é incomum hoje em dia.
“As tartarugas existem no lago há muito tempo. Mas o que é interessante dessas ocorrências recentes, do camarão, da filmagem de outros peixes, é o coroamento de um processo de despoluição que é inédito no mundo. A gente conseguiu transformar um lago que não era utilizado na década de 70, 80 e 90 por ser muito poluído em um ambiente extremamente saudável e com biodiversidade muito grande. Então, essas espécies começam a ser vistas com mais frequência. Elas já existiam e provavelmente as populações delas são maiores hoje exatamente porque o lago está um ambiente saudável”, destaca o especialista.
Camarões no Lago
Na semana passada, um vídeo repercutiu na internet mostrando camarões no Lago Paranoá. Apesar de as imagens terem chamado a atenção de moradores do Distrito Federal, biólogos explicam que os afluentes do espelho d’água artificial da capital têm espécies de crustáceos de água doce e eles só não apareciam antes por causa da poluição.
Criado em 1959, pouco antes da inauguração de Brasília, o lago começou a ser degradado já nos primeiros anos da capital. No fim da década de 1970, a qualidade da água estava severamente comprometida, por causa do derramamento de esgotos domésticos tratados inadequadamente.
Só no começo dos anos 1990 iniciou-se uma política de recuperação focada, entre outras coisas, no controle da quantidade de fósforo que chegava na água. Com o programa, o local passou a receber 70% menos desse elemento — de 418 quilos de fósforo por dia, em 1992, baixou para níveis próximos de 100 quilos a partir de 1995. Nessa quantidade, o resultado é considerado benéfico, pois contribui para o equilíbrio do ecossistema.
Com a melhora da qualidade da água, espécies aquáticas que não conseguiam sobreviver anteriormente começaram a povoar novamente o cartão-postal. Conforme lembra a pesquisadora da Embrapa Tabuleiros Costeiros em Aracaju (SE) Alitiene Moura, apesar de ser artificial, o Paranoá não está avulso na natureza.
“A Área de Proteção Ambiental (APA) do Lago Paranoá conecta várias reservas ecológicas, como a da Cafuringa, do Rio São Bartolomeu; a Cabeça de Veado e o Parque Nacional de Brasília. Essa diversidade faz com que seja possível a ocorrência de variedade de animais, tanto terrestres quanto aquáticos”.
Um destes é o camarão de água doce, que possui diversas espécies diferentes. O mais encontrado no Brasil é o Macrobrachium amazonicum, que cresce até 8 centímetros e, segundo a pesquisadora, tem comportamento pacífico. Há, ainda, o Macrobrachium olfersii, que cresce até 18 centímetros e tem comportamento agressivo. Já o menor deles, o Macrobrachium jelskii, tem 6 centímetros com comportamento pacífico.
Veja as imagens feitas por Fred Rabello
Fernando Starling trabalha há mais de 30 anos no Lago Paranoá e acompanhou esta transformação. Ele diz que achar estes seres em profundidade de 30 metros é o resultado do trabalho de melhora da água. “Na década de 1980, já era possível ver camarões, mas nos córregos que chegavam até o Paranoá. No lago mesmo, não tinha oxigênio para que eles sobrevivessem”, conta.
Conforme explica Fernando, apesar de as imagens serem muito nítidas, não é fácil ver os camarões normalmente. “Ali, por ser uma região bem funda, com poucos predadores, eles estavam nadando à vontade. Normalmente, eles ficam em substratos, como troncos”, detalha.
Fernando comemora que essas imagens tenham sido feitas, algo inimaginável há alguns anos. “Acho que nunca vimos um vídeo tão bonito por causa da poluição que tinha antes. A tendência, com a melhora da oxigenação do lago, é vermos cada vez mais biodiversidade no Lago Paranoá”, destaca.