Vicente Pires: obras causaram fechamento de 1,4 mil lojas, diz entidade
Apenas entre abril a agosto deste ano, 488 estabelecimentos deixaram de funcionar, segundo levantamento realizado por associação comercial
atualizado
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Em um período de cinco meses, entre abril e agosto deste ano, 488 empresas fecharam as portas em Vicente Pires. Os dados são do levantamento feito pela Associação Comercial e Industrial da cidade (Acivip), concluído na última segunda-feira (19/08/2019). De acordo com a análise, no total, 1.451 estabelecimentos pararam de funcionar desde 2018.
Na avaliação do presidente da associação, Anchieta Coimbra, o principal motivo para o fechamento do comércio é a realização das obras nas ruas da cidade. Conforme observou, a estimativa é que outros 750 estabelecimentos encerrem suas atividades até o término das reformas. “Reconhecemos o esforço do governo, mas a verdade é que quase cinco empresas fecham as portas por dia. Se analisarmos que as obras só vão acabar em 2020, quantas mais vão fechar até lá?”, questionou.
Coimbra conta ter conversado, nessa terça-feira (20/08/2019), com o secretário de Obras do DF, Izidio Santos Júnior, para tentar um acordo com o Governo do Distrito Federal (GDF). “O que a gente precisa é de incentivo. Como o empresário vai pagar os impostos se não ganha nada? Queremos do governo é que ajude o comerciante com uma parada nos impostos ou pelo menos diminuindo a cobrança por uns meses”, narrou.
Na Rua 4, uma das principais do comércio local, trabalhadores reclamam da dificuldade nas vendas. Lizandra Fernandes, 28 anos, proprietária de uma loja de estética feminina na cidade, diz lavar o imóvel diariamente para diminuir a poeira, sem sucesso.
“Tivemos uma queda considerável de clientes. O estrago que a obra causa também chega nos nossos materiais, que acabamos perdendo. Estamos sempre limpando o chão aqui, passando água mesmo, mas nem parece. Temos sofrido bastante com isso.”
Lizandra Fernandes, comerciante
Transtorno
Elcio Brufatti, 37, é dono de um restaurante em Vicente Pires há oito anos. Ele conta que, desde o início das obras, já teve uma queda de quase 50% no número de clientes. “O problema é que eles começam a fazer uma rua e não acabam. Se acabassem, não tinha todo esse transtorno”, considerou.
Para o empresário, por causa da dificuldade em entrar na cidade, poucos clientes procuram a loja. “Mesmo aqui sendo bem localizado, o cliente deixa de vir por causa da poeira e das ruas, que estão todas esburacadas”, disse. “Já não existe lucro, nós não ganhamos nada aqui, só nos sustentamos mesmo”, relatou.
Vendedora de sapatos, Isnaia Castro Silva, 26 anos, precisa embalar os produtos com plástico para eles não se sujarem. “Depois que começaram as obras, as pessoas pararam de vir. Jogamos água todo dia, tiramos a sujeira, mas continua sujando, porque a porta fica aberta. Tem pelo menos uns nove meses que estamos passando plástico para não pegar poeira”, contou.
Outra versão
Ao Metrópoles, o chefe de gabinete da Administração Regional de Vicente Pires, Samuel Coelho, disse não acreditar no levantamento feito pela Associação Comercial. “Todo dia, empresas fecham no país, faz parte do risco empresarial. Lógico que sabemos que as obras dificultam, mas não temos como afirmar que foi isso que levou o comércio a fechar. É uma série de fatores somados que levam a isso”, afirmou.
Segundo Coelho, neste ano foram protocolados 1.979 novos endereços comerciais na cidade, e isso indicaria que, embora alguns negócios estejam fechando, outros estão abrindo. “Temos muitos pedidos para abrir lojas aqui. Ainda tem aquelas que abrem e nem sabemos, funcionam sem entrar em base estatística”, disse.
“A gente sabe que em alguns lugares o comércio realmente sofre com as obras, mas é uma rua que antes alagava, que antes tinha terra, e agora não tem mais”, completou.
Sobre as afirmações do chefe de gabinete, o presidente da Acivip disse “desafiar qualquer um a dizer onde estão essas empresas”. “O que pode justificar esse número é que talvez algumas delas tenham recebido o alvará de funcionamento, mas quero conhecer essas novas, porque sei de poucas que abriram, mas estão em pontos mais afastados. Ninguém quer andar numa cidade assim”, rebateu.
Obras
De acordo com a Secretaria de Obras do Distrito Federal, pela primeira vez desde o início das obras, em 2015, todas as empresas contratadas estão em campo executando serviços de drenagem, pavimentação, meios-fios e calçadas. A meta do GDF, segundo a pasta, é entregar as principais vias da cidade asfaltadas antes do próximo período chuvoso. As equipes atuam nas ruas 3, 3b, 3c, 4, 4a, 4b, 5, 6, 8 e 10.
Em nota, a pasta disse à reportagem: “O fechamento dos estabelecimentos comerciais não pode ser atribuído unicamente às ações de infraestrutura na região, uma vez que o país está passando por grave crise financeira e fiscal, o que tem ocasionado o fechamento de diversas lojas no Distrito Federal em localidades onde não há obras”.
A secretaria também informou que as obras geram 450 empregos diretos e 1,2 mil indiretos, ajudando a “movimentar a economia local”. Além disso, a pasta destacou que, após a conclusão, os comerciantes terão “infraestrutura adequada para receber sua clientela, possibilitando melhor desempenho de suas atividades comerciais”.