Via Sacra: fiéis sobem o Morro da Capelinha para pagar promessas
Em meio às orações dos visitantes, voluntários fazem os últimos preparativos para a encenação da Paixão de Cristo em Planaltina
atualizado
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Na manhã desta quinta-feira (18/04/19), as velas já ardiam sobre o mirante do Morro da Capelinha, em Planaltina. As chamas foram acesas durante as preces de fiéis que vão ao local para pagar promessas e buscar conforto espiritual em meio às atividades da Semana Santa.
“Aqui é um lugar sagrado”, disse o pintor Cícero Ferreira (foto em destaque), 71 anos, à reportagem. Há anos, ele mantém a tradição de assistir à apresentação dos momentos da crucificação e ressurreição de Jesus Cristo. Nesta quinta, o trabalhador aproveitou o dia mais calmo, a véspera do feriado, para rezar e agradecer a Deus pelas graças alcançadas.
Cícero Ferreira fez o percurso de sua casa, no Vale do Amanhecer, até a capela em uma bicicleta, levando consigo – segundo ele – “uma vela no coração”. “Amanhã, é um momento de fé. Se acreditar no amor do Pai, tudo é possível”, afirmou. A certeza vem da própria experiência. O pintor conta que a mulher dele sofria de epilepsia, mas as constantes orações no local diminuíram as crises dela até o ponto de cessarem.
O Morro da Capelinha está preparado para receber uma multidão de pessoas nesta Sexta-Feira da Paixão (18/04/19). A encenação conta com o apoio de 2 mil pessoas. É o caso de João Macedo, 53, empregado público, e de Edimar Braga, 63, técnico em telecomunicações. Ambos são coordenadores do grupo responsável pela montagem do calvário. Na encenação, eles representarão soldados romanos.
Os dois participam há mais de 30 anos das atividades no local. Nesta quinta-feira, eles finalizavam os preparativos. “O calvário é a parte mais dolorosa, mas estamos a todo vapor”, garantiu Edimar. “Queremos comover a comunidade com o que Cristo passou e sofreu por nós.”
O último mês foi de ensaios e dedicação, mas, para eles, todo o esforço valerá a pena. João Macedo descreveu o que sente durante a atuação: “Você entra e deixa de ser você mesmo. Só retorna quando acaba. E é emocionante ver as pessoas trabalharem com fé, pois é ela que faz todo este trabalho importar”.
Surpresa
Além dos 1.400 voluntários da Via Sacra, existem 600 pessoas na equipe técnica. O coordenador-geral, Uarlen Fernandes Malaquias, estima que 120 mil fiéis comparecerão à encenação no Morro da Capelinha. Neste ano, a surpresa final será uma homenagem às sete paróquias de Planaltina.
No trajeto das estações, estão armadas barracas com água e banheiros químicos. A programação começa às 8h, com orações, palestras, missa e apresentações. Já a encenação da Via Crucis tem início marcado para as 16h. Malaquias afirma que já está quase tudo pronto.
A participação será novidade para alguns. Lucas Matoso, 18, estudante, conta que sempre presenciou a encenação, mas é sua primeira vez como voluntário. “Estou ansioso, a mil.” Ele representará um integrante do povo ao lado de Paulo Diego Evangelista, 21. Os dois moradores de Planaltina aguardam com grande expectativa a chegada da Sexta-feira da Paixão após longos ensaios.
A programação começa na noite desta quinta-feira (18/04/19), ao lado da administração de Planaltina. Às 20h, acontecerá a encenação da Santa Ceia.
Jesus
O advogado Marcelo Ramos, 31, encena há cinco anos o papel de Jesus Cristo. Antes de representar o principal papel, chegou a ser um dos soldados responsáveis pela crucificação. “Quando estou atuando, me sinto como um instrumento de conversão. É como ler a Bíblia, cada um internaliza aquilo que precisa para o seu coração”, disse.
A Via Sacra é uma obra de Deus que toca o coração das pessoas de uma forma inigualável. Por isso, ela é tão especial e dura tantos anos
Marcelo Ramos, que encena o papel de Jesus Cristo
Marcelo tem razão. As imagens e palavras pronunciadas durante a Paixão de Cristo são capazes de transformar a vida de diversos espectadores e fiéis. “Já recebi muitas graças”, garantiu a paraibana Rita Viera de Sousa, 72, que vai ao local para pagar as promessas realizadas. Desde a primeira edição oficial da Via Sacra de Planaltina, há 46 anos, ela caminha os 6 quilômetros que separam sua casa até o morro. “Meus pés enchem de bolhas”, contou.
Além das orações para a própria família, dona Rita reza por quem pede por oração. Segundo ela, o amigo de uma conhecida se machucou gravemente em um acidente de trabalho. Ele poderia perder o braço depois que um ferro ficou fincado em seu ombro. “Minha colega me contou a história, disse que ele estava muito mal. Falei que ele não ia ter o braço cortado porque Deus ia ajudar. Se ele ficasse bom, eu ia pagar minha promessa no Morro da Capelinha”, lembra a religiosa.
“Fiz a promessa numa segunda-feira e, na quinta, ele já tinha recebido alta sem nenhum problema no braço. No sábado, às 6h da manhã, lá fui em pagar minha dívida com Deus”, revelou. (Com Agência Brasília)