GDF jogou no ralo projeto para economizar água no Mané Garrincha
Governo pagou R$ 50 mil pelo plano executivo da iniciativa, que previa economia de R$ 250 mil anuais. Valor equivale a 58% do gasto atual
atualizado
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A torneira dos gastos com água no Mané Garrincha poderia ter sido fechada desde a construção do estádio. Mas, na transição entre os governos Agnelo Queiroz (PT) e Rodrigo Rollemberg (PSB), o GDF fez escorrer pelo ralo o projeto que resultaria na economia mensal de até 58% dos gastos atuais. Hoje, a média mensal da conta de água é de R$ 37 mil (R$ 432 mil por ano), mas projeções apontam que seria de R$ 15 mil (R$ 182 mil anuais) caso o governo tivesse executado o projeto de manejo previsto originariamente.
O contrato destinado a viabilizar uma gestão diferente para a captação e o uso de água do Mané Garrincha travou entre 2014 e 2015. De acordo com a Fluxus Design Ecológico, empresa que desenvolveu o plano, se a obra tivesse sido executada, resultaria em uma economia anual de R$ 250 mil na tarifa de água e esgoto do estádio.
Segundo o dono da Fluxus, o projeto executivo já havia sido contratado. “Nós sabíamos que existiriam dificuldades [para tirar o planejamento do papel], mas fizemos um esforço enorme para detalhá-lo ao nível executivo e não ficar parado como promessa”, afirmou o empresário Guilherme Castagna. Segundo ele, quatro engenheiros desenvolveram o modelo de reaproveitamento da água das chuvas na arena esportiva.Na época, segundo Castagna, o GDF chegou a desembolsar R$ 50 mil, mas o dinheiro evaporou dos cofres públicos sem resultados práticos. A iniciativa voltou à pauta após o Metrópoles revelar, na última terça-feira (18/7), que a conta de água e esgoto do Mané Garrincha com vencimento em junho foi de impressionantes R$ 2.266.757.
O valor é 67 vezes maior que a média de consumo do estádio nos outros meses. A quantidade de água desperdiçada seria suficiente para abastecer a cidade da Candangolândia, com 20 mil habitantes, por mais de um mês.
Os problemas recorrentes que envolvem o Mané Garrincha também causam frustração ao arquiteto que desenhou a arena.
Tudo aquilo que projetamos para que o estádio fosse autossuficiente acabou não acontecendo. De acordo com os nossos estudos, todos os gastos de manutenção do estádio estariam pagos em sete anos
Eduardo Castro Mello, arquiteto responsável pelo projeto do Mané Garrincha
Ainda sem respostas
Após o Metrópoles revelar o exorbitante valor da conta de água, o GDF criou uma força-tarefa para tentar descobrir a origem do problema. No entanto, o grupo de trabalho comandado pela Casa Civil ainda não deu explicações. Desde a última sexta (21), o governo não comenta mais o assunto. Em nota, disse que se pronunciará apenas após divulgação do resultado obtido pelos técnicos, que deve sair até quinta-feira (27).
O GDF também não respondeu o questionamento da reportagem sobre quanto seria necessário gastar para implantar o projeto de manejo de água. Procuradas pelo Metrópoles, as empreiteiras do consórcio responsável por construir o Mané Garrincha também não informaram valores. A Via Engenharia afirmou que apenas a Andrade Gutierrez poderia comentar o assunto. A Andrade, no entanto, disse que não se pronunciaria.
Economizar e não desperdiçar
Quando Brasília foi eleita uma das sedes da Copa, o estádio Mané Garrincha era para ser um modelo. O piso ao redor da arena seria intercalado de modo a permitir a captação da água da chuva, que seria armazenada para abastecer o próprio espaço. O sistema englobaria uma área de 650 mil metros quadrados nos arredores do Eixo Monumental.
A previsão era de que o sistema de captação, tratamento e reaproveitamento geraria economia aos cofres públicos e garantiria a destinação de água potável para consumo humano. O manejo da chuva atenderia dois itens da sonhada Certificação Leed Platinum, selo máximo de sustentabilidade, que nunca chegou a ser concedida. O primeiro seria a redução do volume de água escoado pelo estádio e o segundo, a melhoria desse insumo.
Escândalos
A captação de água foi uma ideia enterrada definitivamente pelos escândalos envolvendo a construção do estádio. Segundo as investigações da Polícia Federal e do Ministério Público (MPF), o pagamento de propina envolvendo o Mané Garrincha chega a mais de R$ 15 milhões.
A Operação Panatenaico, deflagrada em 23 de maio, colocou atrás das grades os ex-governadores José Roberto Arruda (PR), Agnelo Queiroz (PT) e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (PMDB), além de sete outras pessoas.
A arena, com capacidade para 70 mil espectadores, foi a mais cara construída para a Copa do Mundo de 2014: R$ 1,5 bilhão. O Tribunal de Contas do Distrito Federal (TCDF) apontou que esse valor pode chegar a R$ 2 bilhões, em razão dos últimos aditivos que ainda não foram pagos.