Veja relatos de brasilienses que ficaram em coma na UTI, mas venceram a Covid-19
Em estado grave, eles lutaram pela vida durante vários dias internados em unidades de terapia intensiva da capital do país
atualizado
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Enquanto vários infectados pela Covid-19 sentem sintomas leves ou mesmo carregam o vírus sem ao menos perceber, outras 246 pessoas no Distrito Federal já precisaram de um leito de unidade de terapia intensiva (UTI) em hospitais públicos ou particulares. Desse total, 100 tiveram alta até este momento.
De acordo com a Secretaria de Saúde, outros 78 acabaram evoluindo para óbito e mais 68 ainda estão classificados como “em investigação”, pois a apuração pela equipe de Vigilância Epidemiológica da pasta ainda não foi finalizada.
A aposentada Maria de Araújo Meira (foto em destaque), 72 anos, é uma das vencedoras da batalha contra a doença. Ela precisou passar 17 dias internada em diferentes hospitais do DF a fim de tratar não apenas o coronavírus mas também uma dengue hemorrágica.
O primeiro atendimento, ainda antes de qualquer diagnóstico, ocorreu no Hospital Regional de Sobradinho (HRS). Com a piora do estado de saúde, no entanto, a idosa precisou ser transferida imediatamente a uma UTI do Hospital Regional da Asa Norte (Hran). “Daí em diante, ela teve muita dificuldade. Às vezes acordava bem e outras que piorava”, lembrou Epitácio Júnior, neto de Maria.
A família viveu essa angústia por 10 dias. Entretanto, no dia 28 de maio, após sucessivas melhoras, ela recebeu a notícia de que poderia ser transferida ao Hospital de Campanha do Mané Garrincha. “Lá foi rápido: na segunda-feira [01/06] mesmo ela já recebeu alta e voltou para casa”, comemorou o neto.
A própria idosa faz questão de celebrar a vida. Ainda muito cansada e com dificuldades de respirar, ela conta que a experiência de conviver com duas doenças tão agressivas foi um pesadelo. “É uma situação muito crítica. Me senti fraca demais. Ter a Covid-19 é realmente uma luta, uma guerra. Graças a Deus e aos médicos eu melhorei.”
Apesar da vitória, vários cuidados ainda precisam ser tomados. Maria pode transmitir a doença a familiares e, por isso, a recomendação é que ela fique isolada em casa, se hidrate bastante e continue em contato com a equipe de tratamento. “Estou fora de casa há 24 dias. Quero poder voltar e também encontrar minha família para comemorar essa vitória”, disse ao Metrópoles.
Solidão causou medo
O cirurgião geral Leonardo Rodovalho, 46, também passou pela experiência de estar internado em uma UTI após os sintomas da Covid-19 se agravarem. Para ele, a solidão foi o sentimento mais desesperador.
Ele acredita que uma operação de quase cinco horas realizada na semana anterior possa ter causado a contaminação. “Alguns dias depois o paciente acabou testando positivo e eu fiquei desconfiado.”
Foram cerca de sete dias com sintomas leves até que, nos dias 23 e 24 de maio, seu quatro piorou drasticamente. “Fiquei de cama, com tosse seca e não conseguia comer mais nada. Na segunda [25/05] mesmo já fui para o hospital, onde viram que minha oxigenação estava muito fraca e decidiram me levar para a UTI”, explicou.
Foram momentos de grande tensão. Sem conseguir dormir, Leonardo ficava atento a cada barulho que as máquinas faziam e observava a oximetria a todo instante. “Toda vez que caía para 90% eu já ficava com medo de ter que ser entubado e pensava na morte. É um desgaste emocional muito grande”, relatou.
O pior, no entanto, foi passar por tudo isso sem a presença dos filhos. “Bate uma saudade grande da família. Minha mulher, que também é médica, até foi me visitar toda paramentada, mas esse é um fator que dificulta bastante.”
Após três dias, o estado de saúde de Leonardo melhorou e ele acabou transferido para um quarto. No último domingo (31/05), o médico teve alta. “Ainda estou com dores e uma tosse seca, mas tudo isso faz parte da recuperação e da volta à vida normal”, observou.
Após todo o drama vivido, o cirurgião ressalta que a preocupação em relação à doença só aumentou. “Como eu não era do grupo de risco, ficava meio relaxado. Sentir na pele isso tudo mudou completamente minha visão.”
Oportunidade para rever conceitos
Caroline Sidou, 59, é outra moradora de Brasília que precisou ser internada por causa do coronavírus. Ela estava em Fortaleza quando a pandemia começou e teve de cancelar as passagens. Após cerca de dois meses esperando o número de casos baixar, decidiu voltar à capital.
“Retornei no dia 7 de maio e já no dia 13 procurei o hospital, com febre, calafrio e pneumonia. Fui para a UTI do Hospital Santa Lúcia na mesma hora e só saí de lá no dia 26″, contou.
Os primeiros dias foram difíceis, com uma piora substancial no quadro respiratório. Sem o organismo reagir, ela quase precisou ser entubada. “Não conseguia levantar.”
Apesar das dificuldades, Caroline encara o tempo que passou no hospital como uma grande experiência de vida. “A convivência com médicos, enfermeiros e fisioterapeutas foi boa. Até quando foram fazer comigo a ventilação não invasiva, que dói bastante, conseguiram me tranquilizar”, diz.
“Se eu rezar a vida toda por eles, não vou conseguir pagar a dívida que tenho por terem me ajudado tanto”, afirma Caroline.
Já em casa, cada novo dia tem sido considerado uma vitória e novas reflexões de vida são feitas. “Meu sentimento é o de que Deus existe e não desistiu de mim. Você começa a redimensionar muita coisa na sua vida: o que tem valor e o que faz a gente feliz”, finaliza.
Números do DF
Nessa sexta-feira (05/06), o DF bateu recorde de casos confirmados de coronavírus em apenas um dia. Foram 1.285 infectados em apenas 24 horas.
O número de confirmações em 24 horas é o mais alto desde o início da pandemia. O recorde anterior era de 903 infecções, registrado na última quinta-feira (05/06). Ou seja, esse é o segundo dia seguido de superação da marca.
Com os novos casos, a quantidade de infectados no DF chegou a 14.208. Ao todo, 186 pessoas faleceram em decorrência do novo coronavírus na capital do país.