Veja o que Pedro Krambeck, réu no Caso Naja, disse a juiz em audiência
Em depoimento, rapaz tentou se livrar das acusações de associação criminosa, venda e criação de animais sem licença e maus-tratos
atualizado
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Dois anos após ser picado pela naja que criava ilegalmente no apartamento onde mora, no Guará, Pedro Henrique Krambeck Lehmkuhl, 24 anos, vê o processo que decide se ele cometeu um crime se aproximar do fim. A última audiência de instrução com a presença dele e outros três co-réus ocorreu em 31 de maio. Esta foi a última oportunidade para os denunciados se defenderem diretamente ao magistrado que julga o caso, o juiz Manoel Franklin Fonseca Carneiro.
O Metrópoles teve acesso às gravações dos depoimentos dos quatro réus. Além de Pedro, foram denunciados pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) a mãe dele, Rose Meire dos Santos Lehmkuhl, o padrasto, o coronel da Polícia Militar do DF (PMDF) Eduardo Condi e o também estudante de medicina veterinária Gabriel Ribeiro, amigo de Pedro.
Pedro Krambeck é acusado de associação criminosa, venda e criação de animais sem licença e maus-tratos. Na audiência, ele teve a oportunidade de explicar seu lado da história, durante 23 minutos, sem interrupções. Até que passou a ser questionado pelo magistrado e pela promotora Luciana Medeiros Costa. Durante esse tempo, o jovem procurou rebater as acusações do MPDFT e passar a ideia de que não tinha total dimensão das consequências de infringir a lei.
O réu começa o depoimento explicando que cresceu apaixonado por animais. Segundo o jovem, desde sempre ele acompanhava canais de documentários, como Discovery Channel e Animal Planet. “Achava a serpente um animal muito intrigante. Ao mesmo passo que é demonizado, eu tinha um fascínio, então comecei a tê-los como coleção. Foi um hobby que eu tinha muito gosto”, disse o rapaz.
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Foi esse hobby que quase tirou a vida de Krambeck, quando, em 7 de julho de 2020, ele foi picado pela naja que mantinha clandestinamente em casa. Então com 22 anos, Pedro só sobreviveu porque o Instituto Butantan forneceu o soro antiofídico capaz de salvá-lo. Na frente do juiz, o réu admitiu que desrespeitou a lei ao criar as cobras exóticas.
Veja a íntegra do depoimento de Pedro Krambeck:
“O acidente com a Naja me trouxe muita reflexão. Quando eu penso em mim antes do acidente, eu me vejo como o menino apaixonado. Foi a única coisa que para mim fez sentido: de eu ter diversos animais, ignorando a lei, de certo modo. Minha paixão superava aquilo ali”, afirmou Pedro. Ele diz, ainda, que no momento em que foi picado achou que estava vivendo um sonho, mas depois percebeu que provavelmente morreria.
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“Tinha duas opções: morrer ou ficar ‘vegetal’. Fiz minha mãe prometer que desligaria os aparelhos se eu ficasse vegetal”, disse Krambeck. Para rebater as acusações de associação criminosa, ele garantiu que era o único responsável pelas serpentes e que os pais e o amigo só o ajudavam esporadicamente, porque ele não é “um super-homem”. O rapaz também negou ser traficante internacional de animais, apesar de não responder por isso no processo.
“Chegou-se a considerar que sou um traficante internacional de animais. Pelo amor de Deus! É uma dor para mim, a partir de uma investigação, de uma conduta do delegado, isso começou a vir à tona. Querendo ou não, isso mancha minha imagem, inclusive como veterinário, como potencial profissional. Um ambiente que eu chego, onde tem veterinário, as pessoas logo me reconhecem, já olha torto (sic), digo da proporção que isso tomou”, lamentou o rapaz.
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Na mesma estratégia, para se livrar da denúncia de exercício ilegal da profissão, o jovem afirmou que nunca fez procedimento cirúrgico em nenhuma cobra. A polícia obteve fotos que mostram o estudante em uma sala de cirurgia improvisada, no escritório da família.
“No dia em que houve a cirurgia desse animal, lá na empresa da minha família – porque não tinha clínica – eu chamei quatro amigos veterinários. Era o cirurgião, dois anestesistas e mais um de expectador, e eu. Esse meu amigo operou. Eu gostaria de operar, mas ele, como tutor falou ‘não, eu deixo você dar um ponto’, e aquilo foi uma emoção pra mim. […] Como isso seria exercício ilegal da profissão se sutura de pele é comum pra qualquer estudante do Brasil que esteja aprendendo? Como vou aprender se não botar a mão na massa?”, questiona Pedro.
Agora, as partes terão cinco dias para apresentar as alegações finais. Em seguida, a sentença deve sair em até 10 dias.
Relembre o caso:
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