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Veja histórias dramáticas de pacientes à espera de UTI Covid no DF

Grávida, Prisrrayne Maria está na fila por um leito, aos 25 anos. Como ela, mais de 200 pessoas na capital aguardam por uma chance de viver

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Jacqueline Lisboa/Especial Metrópoles
Covid-19 Coronavirus - Hospital de Base - Ambulancia
1 de 1 Covid-19 Coronavirus - Hospital de Base - Ambulancia - Foto: Jacqueline Lisboa/Especial Metrópoles

Com a superlotação de hospitais, devido aos elevados números da Covid-19 no Distrito Federal, a lista de espera por uma unidade de terapia intensiva (UTI) para tratamento da doença na rede pública de saúde da capital reúne mais de 200 pacientes. Para além dos números que constam nos sistemas da Secretaria de Saúde, há histórias de pessoas que lutam por uma chance de viver.

Uma das razões para a manutenção do cenário crítico na ocupação de leitos nos hospitais é o aumento do número de casos entre adultos e jovens. Aos 25 anos, a comerciante Prisrrayne Maria Soares da Silva, é uma dessas pacientes. Grávida de dois meses, ela aguarda por um leito de UTI no Hospital Regional da Asa Norte (Hran) para tratar a Covid.

Daniela Neves do Valle Soares, 41, tia da jovem, conta que a família mora em Planaltina de Goiás, Entorno do DF. Quando a comerciante começou a ter os primeiros sintomas da doença, procurou um hospital na cidade, mas foi orientada a retornar para casa.

“Só que depois ela voltou a passar mal e foi para a UPA, no dia 15 de março. Lá, ela descobriu que está grávida, porque ainda não sabia. Nisso, quando foi no dia 21, os médicos a transferiram para o Hran, para ela fazer um tratamento melhor. Mas está até agora no box de emergência, aguardando por uma UTI”, relata a dona de casa.

Luta na Justiça

Em 25 de março, a Justiça deferiu parcialmente a tutela de urgência para determinar ao GDF que providenciasse, conforme os critérios de prioridade clínica definidos pela Central de Regulação de Internação Hospitalar (CRIH) da Secretaria de Saúde, a internação da jovem em leito de UTI, em qualquer hospital da rede pública ou conveniada ou, em sua inexistência, na rede privada.

Porém, a determinação não foi atendida. A Defensoria Pública, então, pediu que o Tribunal de Justiça do DF (TJDFT) ordenasse medidas efetivas para obrigar a Saúde a cumprir a decisão. Nessa terça-feira (30/3), contudo, o juiz Rogério Faleiro Machado negou medidas executórias.

O magistrado segue uma orientação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) publicada nesta semana, que recomenda juízes do país a evitarem impor sanções pessoais, como multas e prisões, contra gestores do Ministério da Saúde e das secretarias estaduais, distrital e municipais de Saúde, devido à atual situação da pandemia.

“Portanto, com muito pesar no coração, como tem acontecido nessas últimas semanas em que houve o recrudescimento do contágio por Covid no Brasil, não há alternativa que não o indeferimento dos requerimentos formulados na petição retro (intimação pessoal do Secretário de Saúde para que promova a imediata internação em leito de UTI, expedição de autorização de internação em hospitais da rede privada e apuração de responsabilidades), haja vista que desprovida de prova a indicar que a CRIH teria deixado de observar os critérios de prioridade clínica”, disse, na decisão.

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Ela espera por vaga de UTI Covid
Jovem tem 25 anos
Prisrrayne e o marido
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Prisrrayne Maria

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Ela espera por vaga de UTI Covid

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Prisrrayne e o marido

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Preocupação

De acordo com a tia dela, a jovem casou em 2020 e sonha em ser mãe. “Há seis meses, ela perdeu um filho, que nasceu prematuro. Agora, descobriu essa segunda gravidez e é o sonho dela”, diz Daniele.

Antes de ser intubada, Prisrrayne enviou um áudio para a avó, dizendo que estava bem e que iria se recuperar. Ouça:

Com o acumulado de dúvidas, a família de Prisrrayne sofre sem saber quando a jovem deve conseguir um leito de UTI. “A mãe dela teve um derrame há sete anos e agora, temos que cuidar dela, porque chegam as notícias do hospital e ela passa mal. Caso a gente perca ela, perderemos as duas”, lamenta a tia.

Em vídeo, a avó da jovem, Ronilda Neves do Valle Soares, 56, fez um apelo para que a neta consiga prioridade na fila, devido à gestação.

Veja:

Luto e espera

Assim como ela, o porteiro Rafael dos Santos Silva, 38, também é um paciente jovem que aguarda por leito de UTI Covid na rede pública. Ele está internado desde o dia 26 de março no Hospital Regional de Santa Maria (HRSM) e também conseguiu uma ordem judicial para ser transferido para uma unidade de terapia intensiva.

A decisão foi tomada pela Justiça do DF nessa terça (30/3), mas, até a tarde dessa quarta (31/3), Rafael ainda estava alocado no pronto-socorro da unidade.

Segundo a técnica de enfermagem Rafaela dos Santos Silva, 32, irmã do paciente, a mãe dos dois, uma idosa de 78 anos, também teve a doença e aguardava por um leito para o tratamento adequado. Contudo, ela não resistiu e faleceu, na segunda-feira (29/3).

Sem tempo nem mesmo para viver o luto da perda da mãe, Rafaela tenta como pode para que o irmão tenha a chance que a idosa não teve. De acordo com ela, Rafael tem problemas cardíacos e pode ter o estado de saúde agravado pelo coronavírus.

“É muito difícil ficar sem notícias, porque não posso visitar, não posso falar com ele. O hospital está num caos assustador. Toda hora chega gente, criança, jovem de 15 anos, da idade do meu filho”, desabafa.

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Rafael e a irmã, Rafaela
Relatório médico pede transferência para UTI
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Rafael dos Santos Silva

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Rafael e a irmã, Rafaela

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Relatório médico pede transferência para UTI

Na terça, a juíza Patrícia Vasques Coelho deferiu em parte o pedido de antecipação de tutela, com vistas a determinar ao DF a internação de Rafael em UTI, de hospital público ou particular com suporte que atenda às suas necessidades, devendo a ordem de internação seguir os critérios de prioridade da Central de Regulação de Internação Hospitalar.

“A minha família está indo embora. Eram quatro pessoas na minha casa e agora só tem duas, eu e meu filho. Só queremos que meu irmão tenha o suporte que precisa, porque a minha mãe não conseguiu”, deseja Rafaela.

O que diz a Saúde

O Metrópoles procurou a Secretaria de Saúde para comentar a situação dos pacientes. Em nota, a pasta disse que “as decisões judiciais serão cumpridas, sim, seguindo a prioridade dos pacientes de acordo com os protocolos da Central de Regulação de Internação Hospitalar Leitos de UTI”.

“A internação em leitos de UTI segue critérios específicos que variam de forma individual para cada paciente, pois cada um possui necessidades clínicas distintas. A Central de Regulação, que funciona 24 horas por dia e sete dias por semana, avalia caso a caso e encaminha os pacientes respeitando a prioridade de internação avaliada pelos médicos e se o leito possui o suporte necessário para atender determinado paciente”, diz a nota.

A Secretaria não detalhou o caso de Prisrrayne, internada em hospital gerido pela pasta.

A reportagem também procurou o Instituto de Gestão Estratégica de Saúde do DF (Iges-DF), que administra o HRSM, para comentar sobre o caso de Rafael. Segundo o órgão, o paciente está “em regular estado geral, com uso de oxigênio suplementar sob máscara”. “As equipes médica, de enfermagem e de fisioterapia estão oferecendo todos os cuidados necessários até que seja feita a transferência para leito de UTI”, informou.

De acordo com o Iges, “os leitos de UTI são regulados pela Secretaria de Saúde do DF”. Questionada sobre a posição destes pacientes na lista de espera, a Saúde não respondeu até a publicação desta reportagem.

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