Valor cobrado em contas d’água quadruplica no Lago Norte. Adasa investiga
Acostumados a pagar R$ 400, moradores viram o valor da tarifa saltar para R$ 1,8 mil. Mais de 600 consumidores denunciaram aumentos radicais
atualizado
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O aumento repentino e exorbitante na conta de água de residências do Lago Norte tem tirado o sono dos moradores da região. Há consumidores pagando, hoje, taxas até quatro vezes mais caras que o valor das cobranças feitas nos primeiros cinco meses do ano.
Ao Metrópoles, a Prefeitura da Península Norte afirma ter tomado conhecimento de, pelo menos, 600 imóveis com contas acima da média.
Segundo o prefeito Cláudio Viegas, as faturas começaram a vir mais salgadas a partir da data estabelecida pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) para o fim da cobrança da tarifa de consumo mínimo mensal por 10 m³.
“A partir de junho, os moradores começaram a nos procurar porque acharam muito estranhas as contas. Gente que estava acostumada a gastar R$ 200 pelo consumo de água, passou a pagar R$ 900, R$ 1,2 mil, R$ 1,5 mil. Tem gente pagando até R$ 3 mil”, explica.
De acordo com a estatal, o fim da cobrança implica que o cliente pague a tarifa fixa de água, mais a de esgoto e o consumo variável de cada serviço. A nova estrutura tarifária, segundo a companhia, “prevê que o cliente que utilizar a água de forma racional e consciente tenha uma redução em sua conta”.
Viegas explica, contudo, que os moradores do Lago Norte não viram desconto algum ser aplicado. Pelo contrário, a cobrança mais que quadruplicou entre as residências que mantiveram a média de consumo mensal de água.
“Estamos falando de um aumento violento, exorbitante, de enlouquecer as pessoas. Ninguém vai aguentar pagar isso. Tem gente que usa 1/5 do salário para pagar água. É um completo absurdo”, defende o representante.
“Aleatório”
O que mais incomoda os moradores é a falta de explicações para justificar o salto no valor das tarifas. Uma delas é Suzana Pádua, 69 anos. Ela relata que o aumento é “aleatório” e não atinge a todos os moradores.
“Eu mesma pagava R$ 400 e hoje estou pagando R$ 1,8 mil. É uma cobrança completamente aleatória. Tem gente em uma mesma rua que paga a mais, enquanto outros viram o preço saltar. Realmente, não sei qual o critério, não é possível que centenas de moradores estejam todos com problemas na rede”.
Suzana conta ter contratado um técnico para análise da rede de sua residência por duas vezes. O profissional nunca encontrou qualquer anomalia no consumo da engenheira ambiental.
“Um aumento do valor da conta de água é algo que se espera quando se muda para uma casa. Agora, não é justo nem correto que eu pague R$ 1,8 mil de água. Sendo que há um mês eu pagava R$ 400”, critica.
“Cheques em branco”
Um outro morador, que pediu para não ser identificado, diz que há quem chegue a pagar R$ 16 mil em contas de água. “Dezenas de moradores estão recebendo contas altas. Eu mesmo recebi uma conta de R$ 1,6 mil. Teve morador que recebeu, no Varjão, conta de R$ 16 mil, temos essas fotos dos espelhos”.
Ele também viu a cobrança saltar drasticamente desde a adoção da nova estrutura tarifária assumida pela Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa).
“A média de consumo era de 6 m³ e foram registrados 92 m³ em um determinado mês. Meu desvio é bem menor que a minha média. Dá mais do que 9, 10 desvios padrões da média. Isso é uma anomalia na rede”, explica.
Segundo o consumidor, três problemas podem estar provocando alteração nas tarifas: oscilações de pressão na rede; admissão de ar na rede pela residência dos vizinhos e vazamentos.
“Explicação possível não falta. Estamos todo mês dando cheques em branco para Caesb sem saber que valor virá a conta de água”, desabafou.
Adasa investiga
A reportagem questionou a Adasa sobre o aumento exorbitante na conta de água dos moradores do Lago Norte. Em nota, a agência afirmou que está “investigando todas as possibilidades para saber o que está causando a elevação do valor de alguns usuários”.
A estatal afirma que está se reunindo com representantes dos moradores e da Caesb para contornar a situação. “Serão analisados diversos itens, como: pressão da rede; medição dos hidrômetros; vazamento; aumento do consumo, principalmente devido ao tempo quente e seco; e alteração da estrutura tarifária”.
Ao Metrópoles, a agência reguladora afirma que aguarda resultado das análises, previsto para ocorrer em 15 de setembro.
O que diz a Caesb
Em nota, a Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb) afirmou que adota o novo formato de cobrança em cumprimento à Lei Distrital nº 6.272/2019 e à Resolução nº 12 da Adasa.
A Caesb afirma que os residentes podem solicitar revisão das tarifas em caso de discordância do valor cobrado. A estatal afirma que o aumento “pode ser explicado por consumo maior, vazamento ou mudança na faixa de consumo”.
“Nos casos em que o volume medido estiver muito acima da média, o usuário pode registrar ordem de serviço pelos canais de atendimento (site, aplicativo, agência virtual ou Central 115), devendo informar a inscrição do imóvel ou CPF do responsável financeiro. Além disso, o cliente deve enviar uma fotografia da leitura e número do hidrômetro para análise”, explica.
O cliente também pode solicitar o serviço de aferição do hidrômetro. A companhia cobra pelo serviço, que deve ser solicitado na Central 115.
“É importante esclarecer que a Caesb é responsável pelas instalações hidráulicas até o hidrômetro. Já o cuidado com as instalações internas, bem como os reflexos dos hábitos de consumo nas dependências do imóvel, devem ser mantidos por cada cliente”, finalizou.