Universitária enviou áudio para mãe antes de morrer no lago. Ouça
Para família e advogada, mensagem mostra que Natália Ribeiro não estava embriagada em festa no Clube Almirante Alexandrino
atualizado
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Horas antes de submergir no Lago Paranoá e desaparecer, no último domingo (31/3), a universitária Natália Ribeiro dos Santos Costa, 19 anos, enviou um áudio para o celular da mãe, Edivânia Ribeiro, e disse que iria encontrá-la tão logo saísse da festa na qual estava: “Eu estou aqui, no clube; mas, saindo daqui, eu passo aí”.
Na avaliação da família, a mensagem indica que Natália não estava embriagada, ao contrário do que apontam uma das linhas da investigação e a defesa do rapaz de 19 anos suspeito de ter envolvimento com a morte da jovem. O corpo dela foi encontrado boiando no Lago Paranoá, na segunda-feira (1º/4).
No áudio, de duração de oito segundos, ela se mostra preocupada com a mãe: “Mãe, que foi? A senhora está passando mal?”
Ouça o áudio:
“Ela não bebeu. Sabia nadar e, inclusive, mergulhava fazendo uso de equipamentos próprios. Além do fato de a água no local ser rasa e o ponto mais fundo atingir o pescoço dela”, disse a advogada contratada por parentes de Natália, Juliana Zappalá Porcaro Bisol.
De acordo com a advogada, a universitária tinha dois aparelhos celulares: “A família descobriu esse segundo celular agora. O primeiro já está sendo periciado e vamos encaminhar o outro para a perícia”.
Para Juliana, há indícios de luta corporal: “Pelo estado do corpo, acredito que não tenha sido um simples afogamento. Marca de socos nos olhos, lábio superior cortado, arranhões no sentido vertical, da bochecha pra baixo, e nariz quebrado”.
Feminicídio
A família e os amigos insistem que a jovem foi assassinada pelo rapaz de 19 anos filmado dentro do lago com ela, momentos antes de a modelo submergir e desaparecer. “Ele assassinou a minha filha. Tenho certeza disso. Tramou essa ida para o lago, pois lá iria ficar indefesa”, disse Edivânia Ribeiro nessa sexta-feira (5/4).
A família e a advogada contaram que Natália falou para parentes e colegas que estava namorando um rapaz da Asa Norte. Porém, dias antes de desaparecer, afirmou que a relação havia terminado.
“Ela me disse que ia na casa da mãe dele e que era uma pessoa muito boa. Na semana do caso, voltei a falar com ela e me disse que havia terminado”, reforçou Edivânia. “Creio que ela terminou e ele a matou por vingança. Foi premeditado, planejado”, completou.
Ele não tem para onde correr. Temos provas de que ele a conhecia. Ela me disse que estava namorando um rapaz alto que morava na Asa Norte e estudava para entrar na polícia, mas pouco tempo depois acabou o relacionamento, dias antes do crime
Edivânia Ribeiro, mãe de Natália
Veja fotos de Natália:
Para a advogada, a informação desmente, mais uma vez, a versão do jovem investigado. Ele informou em depoimento à polícia que não conhecia Natália e a viu pela primeira vez na festa no Clube Almirante Alexandrino no último domingo (31/3).
O suspeito já havia mudado o primeiro depoimento, quando imagens de câmeras de segurança da Marinha mostraram que os dois entraram juntos no lago, mergulharam algumas vezes e, ao final, ele emergiu e saiu da água, deixando a jovem submersa no local.
Em seu primeiro depoimento, o rapaz disse que tinha ficado em terra, apenas observando a universitária. O conteúdo das imagens foi divulgado em primeira mão pelo Metrópoles.
“A família só me pediu uma coisa: justiça. E isso significa descobrir o que realmente ocorreu com a Natália. São muitas contradições, comportamentos fora do normal. Está tudo muito estranho. Como ela foi embora deixando as chaves, celular e a bolsa no clube? Os relatos são muito esquisitos”, pontuou a advogada. “É fato que eles tinham esse relacionamento. Outras pessoas nos confirmaram”, acrescentou.
Outra versão
As informações levantadas pela defesa contratada pela família de Natália são rebatidas pelo defensor público André Praxedes, que acompanha o caso a pedido de parentes do jovem de 19 anos em questão, a última pessoa a ser vista por testemunhas no Lago Paranoá com a modelo. “Foi com a namorada para o churrasco e, em determinado momento, saiu para tomar uma ducha sozinho. E encontrou com a Natália”, ressaltou.
Praxedes contou ainda que, logo após deixar Natália no Lago Paranoá, o suspeito voltou para a festa e informou o que estava ocorrendo. “Falou com as pessoas do grupo dele que a menina tinha ficado lá”, assinalou. Mas Praxedes não soube explicar por que o rapaz não voltou para buscá-la. “Talvez, pela inexperiência. Eram meninos jovens que podem não ter percebido a gravidade da situação na hora, por conta da embriaguez”, disse.
O defensor afirma ainda que o jovem foi embora do churrasco acompanhado de duas pessoas. “Eles chamaram um carro e foram para o Subway. Ele ainda precisou ficar deitado, dada a situação de embriaguez”, afirmou.
Apenas no dia seguinte, conta André Praxedes, o jovem foi atrás de notícias da garota. “Ele voltou ao clube na segunda [1º/4] pela manhã para buscar informações da menina. Lá, ficou sabendo que a polícia estava atrás dele”, disse.
O defensor chegou a afirmar que o suspeito teria se desesperado ao ver que a universitária teria desaparecido, mas diz que foi mal interpretado. “O sentido de desespero é o de que ele ficou sem saber o que fazer. Chegou a sair do lago e tentou procurar a Natália”, garantiu.
Cautela
Investigadores da 5ª Delegacia de Polícia (área central) analisam outras imagens de câmeras de segurança que podem ajudar a esclarecer a morte de Natália Ribeiro dos Santos Costa.
Os policiais tiveram acesso a mais um vídeo. Segundo o Metrópoles apurou, ele indica que o rapaz que estava com a vítima também teria se afogado, mas conseguiu sair do espelho-d’água.
Em um determinado momento, é possível ver que os dois ficam submersos. Logo depois, o jovem, também de 19 anos, morador da Asa Norte, volta para a margem, observa e vai embora. As gravações foram feitas entre as 18h e 18h30 de domingo (31/3). Todas mostram os dois dentro do lago. Ele disse não ter entrado no espelho-d’água, mas foi desmentido pelas imagens. Os investigadores têm convicção de que ambos estavam completamente embriagados.
A Polícia Civil trata o caso com cautela e não afirma oficialmente se já é possível apontar algum crime. O Metrópoles, no entanto, apurou que a possibilidade de ter ocorrido um feminicídio é praticamente descartada pelos investigadores. Eles esperam concluir o caso após receberem o laudo preliminar cadavérico que vai apontar as causas da morte e se houve algum tipo de agressão ou violação à vítima.
De acordo com a defesa do rapaz, as inconsistências nos dois depoimentos prestados por ele são porque, no primeiro, na 6ª DP (Paranoá), ele estava sob “muita pressão”. O jovem foi levado ao IML na quarta-feira (3/4) para exame da arcada dentária. “Isso porque ele não consegue afirmar categoricamente que foi ela quem o mordeu”, justificou Praxedes.