Único interessado no Mané Garrincha quer transformá-lo em casa de show
Intenção é trazer eventos internacionais para Brasília em parceria com a Capital Live, braço da WTorre. Futebol ficará em segundo plano
atualizado
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Mesmo com a licitação da ArenaPlex suspensa pelo Tribunal de Contas do DF (TCDF) por indícios de irregularidades, o único consórcio interessado no certame traça planos, caso venha administrar o espaço. A intenção do grupo Arena BSB – formado pela RNGD e Amsterdam Arena – é fazer do Mané Garrincha um grande palco de shows, deixando o futebol em segundo plano.
“O consórcio Arena BSB acredita que Brasília é uma metrópole dinâmica e multicultural, carente de alternativas de entretenimento e lazer. Nosso objetivo é trazer o melhor padrão de atendimento em eventos esportivos e culturais para o DF, além de desenvolver a cadeia de prestadores de serviços locais”, disse Richard Dubois, líder do consórcio, ao Metrópoles.
Embora esteja afastada dos grandes shows no país, Brasília pode ganhar fôlego e fincar sua posição no circuito de entretenimento. O consórcio que tenta administrar o espaço contratou a Capital Live, braço da construtora WTorre – investigada nas operações Lava Jato e Greenfield –, para cuidar dessa parte.
A intenção do grupo é fazer uma dobradinha dos shows em São Paulo, onde a Capital Live atua no Allianz Parque, estádio do Palmeiras, e Brasília. Mesmo sendo um braço da WTorre, Richard Dubois reforça que a Capital Live possui CNPJ diferente da construtora e que é uma subcontratada para executar serviços em Brasília.
Há também a possibilidade de o Mané Garrincha virar uma espécie de segunda casa para o Alviverde, nas competições permitidas pela CBF, e quando o estádio da equipe estiver ocupado. Com o Allianz Parque alugado e sem shows marcados no Mané, a tendência é que o Palmeiras sinta-se confortável de atuar na capital.
Em 2018, o Allianz Parque tem shows marcados com Depeche Mode, Demi Lovato, Radiohead e Ozzy Osbourne, além dos que vão ocorrer em Brasília, de Andrea Bocelli e Roger Waters. Em fevereiro, o estádio do Palmeiras recebeu Phil Collins e os roqueiros do Foo Fighters e Queens of the Stone Age. No ano passado, teve apresentações de Deep Purple, Coldplay, John Mayer, Paul McCartney, Bon Jovi, Guns N’ Roses, Sting, Ed Sheeran, entre outros.
Produtores de Roger Waters visitaram o Mané Garrincha
Na mira da Justiça
Todos os planos estão sujeitos à liberação do edital. No mesmo dia em que a Terracap divulgou o único grupo interessado na ArenaPlex, em 8 de março, o TCDF suspendeu o certame por encontrar pelo menos seis irregularidades. A Corte considerou irregular a exigência da apresentação de capital social ou patrimônio líquido mínimos cumulativamente à garantia de proposta, pois afrontaria jurisprudência relacionada ao tema. No edital, falta também justificativa para os valores de aluguel dos estabelecimentos da solução comercial.
Foi identificado ainda sobrepreço no custo de construção e reforma. Segundo o relatório do TCDF, há diversas inconsistências nos orçamentos apresentados pela Terracap nesta etapa de análise, os quais referem-se aos investimentos a serem realizados pelo agente privado.
“Há erros categóricos lá dentro (edital). Fizemos o que teríamos de fazer tecnicamente. Como realizar um processo licitatório sem ter uma lei aprovada? Esse projeto tem de ser feito pelo Poder Executivo e enviado para a Câmara Legislativa do DF (CLDF). Queimaram várias etapas nele”, avalia o conselheiro Paulo Tadeu.
Responsável pelo estádio e pelo edital, a Agência de Desenvolvimento (Terracap) entregou as justificativas para os apontamentos do TCDF e aguarda nova análise da Corte de Contas. Caso seja liberado, o certame volta a caminhar e com previsão de ser finalizado ainda no primeiro semestre. Caso contrário, o tribunal pode solicitar correções e dar novos prazos para a empresa pública.
É difícil captar investidores nessa crise e ninguém vai querer receber a área do jeito que está. O investidor precisa de incentivo. O projeto é bom, mas vários pontos precisam ser corrigidos
Paulo Tadeu, conselheiro do TCDF
O estádio brasiliense não está apenas na mira do TCDF. A Polícia Federal também apura irregularidades que envolveram a construção da arena. Segundo as investigações da Operação Panatenaico, as obras serviram de escoadouro de propina para políticos e ex-gestores do DF. Entre eles, os ex-governadores José Roberto Arruda (PR), Agnelo Queiroz (PT) e o ex-vice-governador Tadeu Filippelli (MDB), que chegaram a ser presos.
Lentidão
Todo esse processo tem se arrastado. Dois anos se passaram desde a publicação do edital de chamamento para a concessão, em março de 2016. O Procedimento de Manifestação de Interesse (PMI) andou a passos de tartaruga até o fim de 2017, quando ganhou corpo e deslanchou.
Durante toda a operação, o estádio sempre esteve no vermelho. Em 2017, obteve R$ 1,7 milhão com jogos e espetáculos, mas apresentou dispêndio de R$ 8,7 milhões – cerca de R$ 7 milhões de prejuízo. O cenário foi o mesmo em 2013, 2014 e 2015, o que motivou a Terracap a abrir processo de concessão do espaço à iniciativa privada.