UnB tem 253 vigilantes para uma comunidade acadêmica de 57 mil pessoas
A segurança dos quatro campi conta com 193 vigilantes de empresa terceirizada e 60 servidores da vigilância orgânica, além de policiamento
atualizado
Compartilhar notícia
Diante dos últimos casos de violência registrados no campus Darcy Ribeiro, da Universidade de Brasília (UnB), a questão da segurança na instituição tornou-se palco de debate por parte da comunidade acadêmica. Conforme dados divulgados pela entidade de ensino superior, 253 vigilantes são responsáveis pela seguridade dos quatro campi, que contam com um corpo de 57.280 pessoas no total.
Desse quantitativo de indivíduos que compõem o corpo acadêmico da UnB, 51.089 são alunos matriculados nos cursos de graduação, mestrado, doutorado, residência médica e pós-graduação. O conjunto ainda conta com 3.233 técnicos-administradores e 2.958 docentes, distribuídos nos campi Darcy Ribeiro – na Asa Norte –, Ceilândia, Gama e Planaltina.
A segurança da universidade tem também 278 agentes de portaria, 193 vigilantes da empresa terceirizada Life e 60 servidores que atuam na vigilância orgânica.
Além disso, a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) realiza policiamento diuturnamente com viaturas e motocicletas nos locais. A corporação não divulga o efetivo por questões de segurança e estratégia.
Para contratar os serviços terceirizados de segurança, a UnB faz o dimensionamento da força de trabalho para, em seguida, proceder a uma licitação pública.
O último certame, firmado em março de 2020, foi estabelecido gasto mensal de R$ 1.443.351 milhão para a vigilância terceirizada. Na escala, o colaborador trabalha durante 12 horas e folga nas próximas 36 horas.
“A segurança é prioridade para a Universidade de Brasília. Em todos os campi, a segurança é realizada por empresa terceirizada contratada pela instituição exclusivamente para serviços de vigilância e portaria. Neste momento, entendemos que o número de pessoas que atuam na área está dimensionado de acordo com as necessidades e possibilidades institucionais”, destaca a decana de orçamento da UnB, Denise Imbroisi.
Segundo a estudante Monna Rodrigues, coordenadora do Diretório Central dos Estudantes (DCE), a discussão sobre a segurança entre os universitários é um assunto delicado e complexo, principalmente por receio de se estabelecer um patrulhamento invasivo.
“Nós do DCE somos contra a presença de policiais nos campus. Porém, a vigilância que existe atualmente é patrimonial, não zela pelos alunos. Por isso, reivindicamos um protocolo para que esses vigilantes passem por um treinamento além das necessidades de atendimento das ocorrências de violência. Mas entendemos que o corte orçamentário prejudica essas implementações”, pondera Monna.
Para a coordenadora do diretório, a reivindicação é acompanhada pela necessidade de melhorias na iluminação, poda das árvores, ocupação dos espaços e no aumento do patrulhamento.
Casos de violência
De acordo com a UnB, três casos de violência foram registrados no campus Darcy Ribeiro em 2022.
Uma estudante, de 22 anos, do curso de serviço social denunciou, por meio das redes sociais, que sofreu assédio dentro do ambiente universitário. O episódio teria ocorrido em junho, no segundo dia de aula, após mais de dois anos sem ensino presencial na UnB.
A jovem detalha que foi vítima do crime no Instituto Central de Ciências (ICC) Sul. “Quando me dirigi ao banheiro superior e estava dentro do box, usando o sanitário, vi que alguém estava me filmando ou tirando fotos num momento de privacidade pela parte de cima do box. Fiquei pasma, sem reação. Gritei.”
Em entrevista ao Metrópoles, a universitária disse que temeu pela vida, uma vez que o local estava escuro e sem movimentação.
No início de julho, outra estudante, de 18 anos, denunciou ter sido vítima de estupro no Campus Darcy Ribeiro. O ataque ocorreu por trás, em um trecho escuro e pouco movimentado entre o RU e o Instituto Central de Ciências (ICC). A jovem tentou gritar, mas foi impedida após o criminoso tampar a boca dela e ameaçá-la com uma faca na barriga.
A estudante conseguiu chegar até a sala de aula e pediu ajuda a um professor, que acionou a Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF). Ela informou que não conseguiu ver o rosto do suspeito, mas disse que ele era forte, alto e usava calça jeans. A vítima também detalhou que ele exalava um cheiro muito forte, mas não parecia ser morador de rua.
Na última segunda-feira (11/7), estudantes, professores, servidores e integrantes de movimentos sociais da universidade reuniram-se para reivindicar mais segurança às mulheres e repudiar a violência na instituição.
Para Arthur Trindade, especialista em segurança pública, os crimes na UnB têm a ver com a iluminação precária e a ausência de um melhor policiamento. “O serviço de vigilância da UnB cumpre o papel de cuidar do patrimônio, complementado com outras medidas. Eles não portam armas e, também, não podem realizar prisões em flagrantes. Por isso, a importância do patrulhamento nos campi”, defende.
Também especialista na área de seguridade, Moisés Sousa reforça a importância do policiamento ostensivo na prevenção de crimes. “O policiamento da Asa Norte, por exemplo, não tem destacamento exclusivo para o Darcy Ribeiro. Fatores como falta de iluminação e instalações desocupadas também atrapalham”, menciona.
Segundo o profissional, as ocorrências registradas na universidade são consideradas crimes de oportunidade por causa da ausência de um trabalho preventivo. “Uma solução para essa questão seria a instalação de câmeras em todas as áreas da UnB, que fossem monitoradas o tempo todo. Além disso, é importante trazer a segurança pública que se mobilize em pontos estratégicos dos campi”, exemplifica.
Corte orçamentário
Em junho deste ano, a instituição sofreu corte orçamentário por parte do Ministério da Educação (MEC) de 7,19%, o que representa menos R$ 18,1 milhões em recursos para a universidade.
O dinheiro que foi retirado, de acordo com a UnB, seria direcionado para investimento em ciência, com a compra de equipamentos de laboratório e livros, por exemplo; para a manutenção do funcionamento das atividades cotidianas, com o pagamento de serviços básicos, como água e luz, serviços de limpeza, portaria e vigilância; e para garantir a permanência de estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica.
A decana de orçamento da instituição de ensino, Denise Imbroisi, pondera que as restrições orçamentárias trazem desafios em todas as áreas. “Com a segurança não é diferente. Neste momento, a universidade entende que o número de pessoas que atuam na área está dimensionado de acordo com as necessidades e possibilidades institucionais”, esclarece.
“Os cortes, entretanto, podem afetar o conjunto de ações que precisam ser constantemente aprimorados, como a compra de novos equipamentos para ampliação do sistema de videomonitoramento, o aumento da área com maior potência de iluminação, ações de comunicação, eventual ampliação de força de trabalho, entre outros”, acrescenta Denise.
Ações de segurança
Desde 2018, a instituição conta com um Comitê Permanente de Segurança que desenvolve as políticas de segurança da UnB. De acordo com informações divulgadas pela universidade, atualmente existem mais de 500 câmeras de segurança espalhadas pelos campi.
“Mapeamos locais mais sensíveis para instalação de câmeras. Temos câmeras em todos os balões, todas as vias de acessos à UnB; todas as paradas de ônibus (que são pontos de alta vulnerabilidade para a segurança pessoal, já que as pessoas ali são alvo estático e facilmente atingíveis por pessoas em movimento, carros, motos bicicletas e arrastões); além de câmeras espalhadas por prédios, faixas de pedestres e vias de circulação de pedestres”, frisa.
Além disso, a universidade criou corredores de segurança com iluminação e reforço da segurança em horários específicos de maior circulação no Campus Darcy Ribeiro.
Veja:
Outra medida que já estava em curso pelo comitê são os totens de segurança. Dois totens-piloto serão instalados na próxima semana. A tecnologia foi desenvolvida por quatro servidores engenheiros da Prefeitura da UnB.
Quando o botão de segurança for acionado, chegará um alerta à equipe de segurança da Sala de Videomonitoramento. Imediatamente uma viatura será enviada ao local monitorado por duas câmeras e GPS. Se uma pessoa passar mal e precisar de ajuda médica ou se sentir em uma situação de risco, pode acionar o totem, por exemplo.
Faça uma denúncia ou sugira uma reportagem sobre o Distrito Federal por meio do WhatsApp do Metrópoles-DF: (61) 9119-8884.