UnB: ruído urbano diminuiu 30% no DF durante auge do lockdown
Dados sismológicos captados no Parque Nacional de Brasília confirmaram adesão ao isolamento social em 2020 por conta da Covid-19
atualizado
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No auge das medidas restritivas impostas pela pandemia da Covid-19, o Distrito Federal ficou até 30% mais silencioso. É o que aponta estudo de pesquisadores da Universidade de Brasília (UnB) publicado na revista científica Plos One. Os dados foram captados pela estação sismológica sediada no Parque Nacional de Brasília (Água Mineral).
Ao contrário da observação de deslocamento feita por telefones celulares, o método respeitou a privacidade dos indivíduos. Os professores Marcelo Rocha, coordenador do Observatório Sismológico (Obis) da UnB, e Susanne Maciel, da Faculdade UnB Planaltina (FUP), utilizaram indicadores antes descartados dos equipamentos sísmicos.
“Essa sismologia urbana é uma abordagem que aproxima a comunidade e a ciência. Há estudos demonstrando como a terra vibra em decorrência de eventos grandes e tem-se trabalhado muito esse sentido aliado à divulgação científica”, explica Susanne. A redução dos ruídos variou entre 20% e 30%.
O trabalho dos pesquisadores faz parte do projeto Comprehensive Nuclear-Test-Ban Treaty Organization (CTBTO), iniciativa com apoio da Organização das Nações Unidas (ONU). É um esforço científico que adquire equipamentos capazes de captar explosões nucleares em prol do fim do uso deste tipo de armas.
Este aparato consegue captar, por exemplo, a movimentação de veículos e grandes concentrações humanas. Outros momentos observados foram os jogos da Copa do Mundo de 2014, a votação do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, em 2016, e a greve dos caminhoneiros, em 2018.
“A sismologia urbana pode ser um componente das cidades inteligentes, contribuindo de forma independente e anônima para monitorar tráfego, greves e manifestações, por exemplo”, aponta Marcelo Rocha. “Se tivéssemos mais estações no meio e ao redor da cidade, isso poderia ser enxergado de forma mais precisa, uma vez que até a onda chegar a estação perde-se intensidade”.
Coleta
Os pesquisadores iniciaram o processamento e a interpretação de dados partir da separação entre ruídos captados pela estação sismológica e informações utilizadas no monitoramento de armas nucleares. No Parque Nacional de Brasília, uma antena de estação de banda larga fica enterrada a 100 metros no solo e grava 100 amostras de dados por segundo.
Normalmente, esse tipo de observatório fica instalado longe da cidade para justamente evitar ou minimizar a ocorrência do ruído antrópico. A estação sismológica do Parque fica a cerca de 30 km do centro da capital do país e é próxima o suficiente da cidade para captar os ruídos que foram utilizados no estudo.
Os pesquisadores analisaram dados gravados pela estação entre 2013 e 2020 no Distrito Federal. Nesse período, eles passaram a procurar, como forma de comparação, dias e momentos que destoassem do comportamento médio do registro de ruído sísmico.
Durante a vigência do primeiro decreto distrital sobre as medidas restritivas para enfrentamento à Covid-19, publicado em março de 2020, o DF teve redução de 20 a 30% de ruído provocado pela ação humana. (Com informações da UnB)