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UnB: pesquisador usa Twitter para identificar sinais de depressão

Tendo como base informações públicas da plataforma, o estudante constatou que em 80% dos casos analisados foi possível diferenciar os sinais

atualizado

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Felipe Menezes/Metrópoles
ICC da unb em fim de tarde
1 de 1 ICC da unb em fim de tarde - Foto: Felipe Menezes/Metrópoles

Pesquisa de um estudante da Universidade de Brasília (UnB) mostrou ser possível identificar sinais de depressão a partir das redes sociais. Tendo como base informações públicas extraídas do Twitter, o bacharel em ciência da computação Otto von Sperling diferenciou sinais em usuários com sintomas da doença e aqueles que não apresentam indícios em 80% dos casos analisados.

“Comecei a pesquisa motivado pelos casos de suicídio que via entre os colegas. Em cinco anos, foram casos após casos. Quis desenvolver uma ferramenta para ajudar as pessoas a identificarem a depressão e ajudar os profissionais com o tratamento”, afirmou o autor da pesquisa ao Metrópoles.

Segundo ele, existem diferenças nos sinais deixados nas redes sociais que são correlacionados com o mal em diversos estudos. O autor explica que a literatura sobre modelos computadorizados que ajudam a detectar, analisar e entender sinais de distúrbios de saúde mental nas mídias sociais têm prosperado desde os anos 2000 em língua inglesa.

No Brasil, essa área de pesquisa é promissora, com uma variedade de nichos a serem explorados. No trabalho elaborado por von Sperling, foi construído um cenário a partir de 2.941 usuários do Twitter. Entre eles, 1.486 depressivos e 1.455 sem depressão. Diante dessas informações, foram induzidos modelos de inteligência artificial para captar os sinais dentro do Twitter.

“Para atingir nosso objetivo, extraímos sinais medindo o estilo linguístico, os padrões comportamentais, os tweets e perfis públicos dos usuários. Os modelos resultantes distinguem com sucesso o grupo positivo (depressivo) e de controle (não depressivo), com escores de desempenho comparáveis ​​aos resultados da literatura”, ressaltou o estudante.

A expectativa é que a descoberta possa ser um trampolim para que mais metodologias sejam aplicadas ao serviço da saúde mental. “De forma alguma estou afirmando que consigo diagnosticar depressão. Não tenho como verificar se o autorrelato é verdadeiro ou não. A intenção é ajudar a compreender os sinais”, diz.

Próximo passo

A ideia é que o estudo seja usado por psicólogos e pelo governo para auxiliar na elaboração de políticas públicas com caráter preventivo. Todos os dados analisados são de perfis e mensagens públicas. “Profissionais de psicologia, por exemplo, podem ter uma visão mais completa do que o paciente precisa”, ressaltou.

A pesquisa foi baseada em propostas da literatura das áreas de psicologia, psiquiatria e sociolinguística, que capturam alguns dos sinais subjacentes do comportamento depressivo. Assim, foi possível ratificar resultados da literatura estrangeira no Brasil, além de distinguir o grupo depressivo do não depressivo.

“Ao fazer isso, demonstramos a utilidade das mídias sociais para detectar traços relevantes de comportamento e estado de espírito dos usuários no Brasil. Como trabalho futuro, propomos estender o conjunto de sinais extraídos dos dados de mídias sociais para captar traços exclusivos dos brasileiros”, diz o estudante na conclusão da pesquisa.

Depressão e suicídio

De acordo com dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), até 2020, a depressão será a doença mais incapacitante do mundo. Uma das maiores causas do suicídio, o assunto foi amplamente debatido durante o Setembro Amarelo. O Brasil é o país da América Latina com a maior quantidade de pacientes diagnosticados. Em média, 32 brasileiros tiram a própria vida por dia, o equivalente a uma pessoa a cada 45 minutos. No mundo, ocorre um suicídio a cada 40 segundos. Os números dão dimensão da gravidade.

Segundo o Informativo epidemiológico de violência autoprovocada no Distrito Federal, o suicídio é considerado um problema de saúde pública. No período de 2013 a 2018, foram notificados no Sinan/DF 19.388 casos de autoagressão na capital da República. Desse total, 3.816 (19,7%) foram relativos à prática de lesão autoprovocada, sendo 2.691 (70,5%) em mulheres e 1.124 (29,5%) entre homens.

Segundo a pesquisa, as tentativa de suicídio ocorrem em sua maioria entre pessoas de 20 a 39 anos. Além disso, a análise qualitativa mostra que os casos estão relacionados a transtornos em 49% das ocorrências em pessoas no sexo feminino e 18% do masculino.

Debate na Secretaria de Segurança do DF

O tema desperta preocupação também nas forças policiais do Distrito Federal. Por isso, nesta terça-feira (08/10/2019), a Secretaria de Segurança Pública do DF, em parceria com o PNUD, promove o Seminário Nacional de Prevenção ao Suicídio para Profissionais de Segurança Pública.

O evento será no auditório da Academia de Bombeiro Militar, no Setor Policial Sul, a partir das 9 horas. O debate contará com três mesas-redondas: O suicídio como desafio para as políticas públicas institucionais; A vitimização dos profissionais de segurança pública e avaliação de risco; e Experiências exitosas de prevenção ao suicídio.

A SSP/DF e o PNUD escolheram debater o tema uma vez que a quantidade de suicídios entre policiais civis e militares no Brasil cresceu nos últimos anos, totalizando 104 casos entre 2017 e 2018, de acordo 13º Anuário de Segurança Pública. O dado mostra que mais policiais foram vítimas de suicídio do que assassinados exercendo a função.

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