UnB entrega diploma a Honestino Guimarães, estudante morto na ditadura
Familiares e amigos de Honestino Guimarães prestigiaram a cerimônia de entrega do diploma ao jovem assassinado na ditadura militar
atualizado
Compartilhar notícia
Foi com gritos de “Honestino Presente” que estudantes, amigos e familiares comemoraram a entrega do diploma póstumo a Honestino Guimarães, assassinado pela ditadura militar. A cerimônia ocorreu nesta sexta-feira (26/7), em um auditório lotado na Associação dos Docentes da Universidade de Brasília, no Campus Darcy Ribeiro, da UnB.
Familiares e amigos de Honestino subiram ao palco e receberam aplausos em homenagem ao militante. O diploma foi entregue em mãos ao primo do jovem, Sebastião Neto.
Quando Sebastião subiu ao palco, o público presente reforçou a música que tocava nas caixas de som: “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré – também preso e torturado durante a repressão militar.
“Temos que lembrar que era de uma família pobre, que conseguiu estudar e que veio para Brasília que significava uma possibilidade de mundo e que teve essa possibilidade abortada”, destacou o primo. “É um reconhecimento tardio, é uma pequena reparação diante de tantos camponeses e vidas desaparecidas”, completou.
O diploma foi entregue pela reitora Márcia Abrahão Moura, da UnB, que se emocionou na cerimônia. “É um ato de reparação histórica”, afirmou. “Este diploma é um diploma de geólogo mesmo, ‘quebrador de pedra'”.
“A UnB pede desculpas à família de Honestino Guimarães”.
O ex-reitor, José Geraldo, destacou que a decisão em conceder o diploma a Honestino fez “justiça a um dos nomes mais importantes da história do Brasil na luta pela democracia”.
“Eu digo que Honestino voltou para a UnB. O homem está aqui. Depois de preso, depois de morto, mesmo assim voltou e é milhões”, o ex-reitor apontou para uma faixa com esses dizeres.
Para a biógrafa Betty Almeida, que escreveu o livro contando sobre Honestino Guimarães, o ato faz parte de um movimento de reparação e memória. “Hoje a UnB reconhece que o Honestino não era um terrorista, nem um bandido. E é importante lembrar porque a história às vezes esconde eventos”, completou.
“Aqui em frente, por exemplo, onde tem o estacionamento era a Federação de Estudantes da Universidade de Brasília (Feunb) e ficava o local em que os alunos se reuniam. O reitor na época derrubou e fez um estacionamento. Tudo para tentar esconder e apagar uma história”, contou.
Essa foi a primeira vez que a Universidade de Brasília concedeu um diploma póstumo a algum estudante.
Promessa cumprida
A cerimônia exibiu vídeos de gravação da mãe de Honestino, Maria Rosa, contando sobre a emoção em ver a classificação de Honestino na Universidade de Brasília, quando o rapaz ficou em primeiro lugar no vestibular.
Em discurso, o primo Sebastião Neto aproveitou para contar a promessa do pai de Honestino, Benedito Guimarães, em abrir um vinho português – que era um item de luxo naquela época – no dia da formatura do filho. A bebida nunca foi aberta e se perdeu ao longo dos anos. No entanto, o primo comprou um similar e abriu na cerimônia.
Os alunos do Diretório Central dos Estudantes (DCE) Honestino Guimarães subiram ao palco vestindo blusas com rosto do estudante, a partir daquele momento geólogo, com a palavra “Justiça”.
A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Manuella Mirella, destacou a importância de Honestino para o movimento estudantil. “Ele foi presidente da UNE, que lutava por um Brasil forte e soberano”, completou.
Quem foi Honestino Guimarães?
Assassinado pela ditadura, o jovem cursou geologia, mas, em 10 de outubro de 1973, foi preso por agentes da repressão, levado ao Centro de Inteligência da Marinha (Cenimar) e nunca mais visto.
Com a medida, a instituição anulou o desligamento do estudante e efetuou um registro de concessão dos créditos remanescentes. Honestino Guimarães ficou em primeiro lugar no primeiro vestibular para o curso de geologia.
A votação para conceder o diploma a Honestino Guimarães foi em junho deste ano.
Desaparecido político, o jovem foi perseguido durante a ditadura militar por participar de mobilizações estudantis e liderá-las, assim como manter a União Nacional dos Estudantes (UNE) em funcionamento clandestino, e por atuar em uma organização de resistência contra o regime.
O estudante era presidente da Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília em 1968, ano marcado por manifestações contra os militares e pela invasão de agentes da ditadura ao campus Darcy Ribeiro, em agosto.
Honestino acabou expulso da UnB por meio do mesmo ato que nomeou José Carlos de Almeida Azevedo vice-reitor e interventor militar na universidade. Ele viveu na clandestinidade entre 1968 e 1973, mas manteve a atuação política. Em 1994, foi dado oficialmente como morto e nunca teve o corpo encontrado.