metropoles.com

UnB entrega diploma a Honestino Guimarães, estudante morto na ditadura

Familiares e amigos de Honestino Guimarães prestigiaram a cerimônia de entrega do diploma ao jovem assassinado na ditadura militar

atualizado

Compartilhar notícia

Vinicius Schmidt/Metrópoles
Foto colorida de homem branco com bloco em frente ao rosto de Honestino
1 de 1 Foto colorida de homem branco com bloco em frente ao rosto de Honestino - Foto: Vinicius Schmidt/Metrópoles

Foi com gritos de “Honestino Presente” que estudantes, amigos e familiares comemoraram a entrega do diploma póstumo a Honestino Guimarães, assassinado pela ditadura militar. A cerimônia ocorreu nesta sexta-feira (26/7), em um auditório lotado na Associação dos Docentes da Universidade de Brasília, no Campus Darcy Ribeiro, da UnB.

Familiares e amigos de Honestino subiram ao palco e receberam aplausos em homenagem ao militante. O diploma foi entregue em mãos ao primo do jovem, Sebastião Neto.

Quando Sebastião subiu ao palco, o público presente reforçou a música que tocava nas caixas de som: “Pra não dizer que não falei das flores”, de Geraldo Vandré – também preso e torturado durante a repressão militar.

“Temos que lembrar que era de uma família pobre, que conseguiu estudar e que veio para Brasília que significava uma possibilidade de mundo e que teve essa possibilidade abortada”, destacou o primo. “É um reconhecimento tardio, é uma pequena reparação diante de tantos camponeses e vidas desaparecidas”, completou.

O diploma foi entregue pela reitora Márcia Abrahão Moura, da UnB, que se emocionou na cerimônia. “É um ato de reparação histórica”, afirmou. “Este diploma é um diploma de geólogo mesmo, ‘quebrador de pedra'”.

8 imagens
Primo de Honestino, Sebastião recebeu o diploma no lugar do parente
Ele foi expulso da UnB e morreu antes de concluir o curso
Reitora Márcia Abrahão destacou reparação histórica
Sebastião Neto destacou a importância da conquista para a família
Estudantes do DCE homenagearam Honestino
1 de 8

Diploma foi entregue pela reitora Márcia Abrahão

Vinicius Schmidt/Metrópoles
2 de 8

Primo de Honestino, Sebastião recebeu o diploma no lugar do parente

Vinicius Schmidt/Metrópoles
3 de 8

Ele foi expulso da UnB e morreu antes de concluir o curso

Vinicius Schmidt/Metrópoles
4 de 8

Reitora Márcia Abrahão destacou reparação histórica

Vinicius Schmidt/Metrópoles
5 de 8

Sebastião Neto destacou a importância da conquista para a família

Vinicius Schmidt/Metrópoles
6 de 8

Estudantes do DCE homenagearam Honestino

Vinicius Schmidt/Metrópoles
7 de 8

Participantes registraram presença

Vinicius Schmidt/Metrópoles
8 de 8

Honestino foi assassinado durante ditadura militar

Vinicius Schmidt/Metrópoles

“A UnB pede desculpas à família de Honestino Guimarães”.

O ex-reitor, José Geraldo, destacou que a decisão em conceder o diploma a Honestino fez “justiça a um dos nomes mais importantes da história do Brasil na luta pela democracia”.

“Eu digo que Honestino voltou para a UnB. O homem está aqui. Depois de preso, depois de morto, mesmo assim voltou e é milhões”, o ex-reitor apontou para uma faixa com esses dizeres.

Para a biógrafa Betty Almeida, que escreveu o livro  contando sobre Honestino Guimarães, o ato faz parte de um movimento de reparação e memória. “Hoje a UnB reconhece que o Honestino não era um terrorista, nem um bandido. E é importante lembrar porque a história às vezes esconde eventos”, completou.

“Aqui em frente, por exemplo, onde tem o estacionamento era a Federação de Estudantes da Universidade de Brasília (Feunb) e ficava o local em que os alunos se reuniam. O reitor na época derrubou e fez um estacionamento. Tudo para tentar esconder e apagar uma história”, contou.

Essa foi a primeira vez que a Universidade de Brasília concedeu um diploma póstumo a algum estudante.

Promessa cumprida

A cerimônia exibiu vídeos de gravação da mãe de Honestino, Maria Rosa, contando sobre a emoção em ver a classificação de Honestino na Universidade de Brasília, quando o rapaz ficou em primeiro lugar no vestibular.

Em discurso, o primo Sebastião Neto aproveitou para contar a promessa do pai de Honestino, Benedito Guimarães, em abrir um vinho português – que era um item de luxo naquela época – no dia da formatura do filho. A bebida nunca foi aberta e se perdeu ao longo dos anos. No entanto, o primo comprou um similar e abriu na cerimônia.

Os alunos do Diretório Central dos Estudantes (DCE) Honestino Guimarães subiram ao palco vestindo blusas com rosto do estudante, a partir daquele momento geólogo, com a palavra “Justiça”.

A presidente da União Nacional dos Estudantes (UNE), Manuella Mirella, destacou a importância de Honestino para o movimento estudantil. “Ele foi presidente da UNE, que lutava por um Brasil forte e soberano”, completou.

Quem foi Honestino Guimarães?

Assassinado pela ditadura, o jovem cursou geologia, mas, em 10 de outubro de 1973, foi preso por agentes da repressão, levado ao Centro de Inteligência da Marinha (Cenimar) e nunca mais visto.

Com a medida, a instituição anulou o desligamento do estudante e efetuou um registro de concessão dos créditos remanescentes. Honestino Guimarães ficou em primeiro lugar no primeiro vestibular para o curso de geologia.

A votação para conceder o diploma a Honestino Guimarães foi em junho deste ano.

2 imagens
1 de 2

Arquivo pessoal/Família de Honestino Guimarães
2 de 2

Divulgação

Desaparecido político, o jovem foi perseguido durante a ditadura militar por participar de mobilizações estudantis e liderá-las, assim como manter a União Nacional dos Estudantes (UNE) em funcionamento clandestino, e por atuar em uma organização de resistência contra o regime.

O estudante era presidente da Federação dos Estudantes da Universidade de Brasília em 1968, ano marcado por manifestações contra os militares e pela invasão de agentes da ditadura ao campus Darcy Ribeiro, em agosto.

Honestino acabou expulso da UnB por meio do mesmo ato que nomeou José Carlos de Almeida Azevedo vice-reitor e interventor militar na universidade. Ele viveu na clandestinidade entre 1968 e 1973, mas manteve a atuação política. Em 1994, foi dado oficialmente como morto e nunca teve o corpo encontrado.

Compartilhar notícia

Quais assuntos você deseja receber?

sino

Parece que seu browser não está permitindo notificações. Siga os passos a baixo para habilitá-las:

1.

sino

Mais opções no Google Chrome

2.

sino

Configurações

3.

Configurações do site

4.

sino

Notificações

5.

sino

Os sites podem pedir para enviar notificações

metropoles.comDistrito Federal

Você quer ficar por dentro das notícias do Distrito Federal e receber notificações em tempo real?