UnB cria app para definir ações de combate contra dengue em 24 horas
Atualmente, o sistema de Saúde demora, em média, 15 dias para adotar medidas de controle após coleta de dados em campo
atualizado
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A nova onda de dengue matou sete pessoas ao longo dos primeiros meses de 2022 no Distrito Federal. No mesmo período, o número de infecções prováveis alcançou a marca de 54.713. É um aumento de 466% na comparação com o mesmo período de 2021.
Para conter a dengue e outras arboviroses, como chikungunya e zika, a Universidade de Brasília (UnB) desenvolveu um sistema, semelhante a um aplicativo, para acelerar o tempo de resposta nas medidas de prevenção e controle sanitário. Dessa forma, o prazo cairá de semanas para apenas 24 horas.
Com o apoio do Ministério da Saúde e apoiado pela Fundação de Empreendimentos Científicos e Tecnológicos (Finatec), a UnB desenvolve soluções contra as arboviroses dentro do projeto Arbocontrol. Uma delas é o SISVetor. Trata-se de é um sistema de informação, monitoramento e vigilância do mosquito Aedes aegypti, o transmissor de dengue, chikungunya e zika.
A ferramenta foi construída pela equipe do epidemiologista e professor do Departamento de Saúde Coletiva Jonas Brant.
“Com o SISVetor e após a coleta de dados, a tomada de decisão é no dia seguinte. Sem o sistema, depois da coleta, a tomada de decisão demora 15 dias. Nesse período, aquela larva que eu enxerguei em campo já nasceu e botou ovo. Enquanto que, no dia seguinte, estou tomando decisão sobre os criadouros que vi ontem”, pontou Brant.
O software foi desenvolvido com tecnologia de código aberto, permitindo que as equipes locais adequem a solução para o município. Projeto piloto da solução foi testado em Manaus (AM) e Sete Lagoas (MG).
Segundo Brant, o combate contra o mosquito depende da adoção de estratégias inteligentes nos momentos certos. É preciso coletar dados de campo, analisar as informações e tomar as decisões. Mas, atualmente, o processo ainda é feito de maneira rudimentar, com tecnologias antigas. Muitos agentes ainda fazem registros em papel. Além disso, a digitação é feita em sistemas ultrapassados, limitando a interpretação dos gestores.
Com o SISVetor, a ideia é abandonar o antigo modelo de envio de dados para o Ministério da Saúde. Durante as ações de campo, os agentes digitam os dados diretamente no sistema, seja pelo celular, seja pelo tablet, seja pelo notebook.
De porta em porta
Além de respostas mais céleres e oportunas, a ferramenta possibilita a análise de dados de forma espacial. Os sistemas antigos estão estruturados por quadras, sem detalhamento. O SISVetor compila as informações por residência. “Eu consigo saber qual é o histórico daquela casa, quantas vezes foi visitada, quantos criadouros foram encontrados. O olhar sobre o imóvel é personalizado. Consigo priorizar as ações. O foco do sistema é a unidade territorial”, explicou.
De acordo com Brant, a equipe começou o desenvolvimento da próxima etapa do projeto, moldando a ferramenta para vigilância ambiental, para controle do barbeiro, vetor da doença de Chagas, vacinação de cães e gatos ou mesmo o monitoramento da leishmaniose. Partindo da análise do território, a solução vai oferecer a possibilidade de vigilância no modelo de saúde compartilhada (One Health).
“Não existe saúde humana, animal e do ambiente. Todas elas são uma só. A mesma coisa acontece com os programas de Saúde Pública. Não dá para eu ir em uma casa e olhar só a dengue e ter outro agente para olhar os ratos, outro a vacinação do cachorro, outro a leishmaniose. Ou posso olhar essa casa uma vez de maneira completa. Eu olho aquele ambiente como um ecossistema que quero intervir e melhorar a saúde dele”, assinalou.
Com ou sem internet
O SISVetor opera com ou sem internet. No caso de municípios sem conexão em campo, as informações são coletadas normalmente pelos agentes e, depois, consolidadas em ponto de acesso. As atualizações são automáticas, mas, nesse caso, dependem de internet. Os pesquisadores começaram a elaborar a solução em 2017.
Para Brant, a ferramenta é mais um exemplo da importância do desenvolvimento em ciência nacional. “O desenvolvimento de uma ferramenta como essa permite um posicionamento do Brasil não só para resolver os seus próprios problemas, mas também para formar novos profissionais, para treinar profissionais de informática e criar estratégia de desenvolvimento tecnológico mais sustentável, que dá independência”, destacou.
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