Triplica número de reclamações contra a CEB por falta de energia
Contestações no DF aumentaram em 200% de 2018 para 2019, conforme dados da Aneel
atualizado
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As constantes quedas de energia em vários pontos do Distrito Federal vêm trazendo transtornos e prejuízos para moradores e lojistas. Com interrupções quase diárias, muitos habitantes de Ceilândia – a maior cidade da capital da República – passaram a véspera do Natal e a Virada do ano no escuro. O problema prejudica comerciantes e muda hábitos da população, que passou a se preparar para longos períodos sem luz e está mais preocupada em proteger equipamentos de sobrecargas na rede.
Esses “apagões” fizeram disparar o número de reclamações contra a Companhia Energética de Brasília (CEB) em 2019, quando comparado ao ano anterior. A Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) registrou 157 relatos de consumidores insatisfeitos com faltas pontuais de energia em 2018. No ano passado, foram 471. Um aumento de 200%.
Mais pessoas também recorreram à agência reguladora para reclamar sobre interrupções frequentes e má qualidade do serviço. A quantidade saltou de 59 para 82. A oscilação de tensão na rede rendeu um crescimento de 76,9% no número de reclamações, passando de 26 para 45.
As distribuidoras de energia em todo o país devem cumprir os limites de duração e frequência de interrupções mensais e anuais. Quando extrapolam esses indicadores, as empresas ficam obrigadas a compensar os consumidores com descontos na fatura. Por isso, em 2019, a CEB pagou R$ 2,5 milhões até setembro. Os valores dos outros meses ainda não foram fechados. No ano anterior, o montante total foi de R$ 5,3 milhões.
Apagão no Natal
No dia 23 de dezembro, a loja de presentes onde trabalha o balconista Maurício Oliveira (foto abaixo), 42 anos, no setor P Norte, funcionava a todo vapor, atendendo os clientes atrasados, que deixaram para comprar os presentes de Natal de última hora. No início da noite, com o estabelecimento cheio, acabou a luz. Funcionários e clientes ficaram no escuro.
Precavido e acostumado às quedas de energia elétrica, Maurício providenciou cinco luminárias de emergência potentes, cada uma delas estrategicamente posicionada acima das prateleiras. “Foi uma loucura, mas naquele dia nós demos sorte. As máquinas de cartão estavam carregadas. Se não fosse isso, não teria como vender e a loja sofreria com o prejuízo. Neste ano, nós já perdemos um nobreak”, conta o balconista.
Sem gelo
A consultora de vendas Sabrina Ribeiro, 24, teve de pegar gelo e pedir uma bolsa térmica emprestada para um colega na academia onde malha, em Ceilândia, de modo a não perder a insulina que a sogra dela precisa para tratar o diabetes. “Todo dia, a luz, no mínimo, pisca. Já ficamos três dias sem. Quando cai, saio tirando tudo da tomada, com medo de queimar. O Natal, a gente passou no escuro. No Ano-Novo, um carro derrubou um poste e a energia caiu umas cinco vezes, ficou indo e voltando”, conta.
Na academia onde Sabrina conseguiu a bolsa e o gelo, os recorrentes apagões prejudicam os frequentadores, pois muitos equipamentos funcionam ligados à tomada. Quando o problema é à noite, o estabelecimento precisa fechar as portas, pois fica impossível fazer qualquer exercício físico, mesmo os que independem de aparelhos elétricos.
A lanchonete onde Raquel Silva, 21, vende açaí e depende do perfeito funcionamento do freezer para operar. Quando a falta de luz ocorre por longos períodos, os proprietários correm com todo o estoque para a outra loja, a fim de evitar o derretimento.
Ficar sem luz para Victor Hugo Leite, 21, significa prejuízo em seu pet shop, pois todos os banhos e tosas precisam ser suspensos. “Já teve caso de eu ter que ficar mexendo na água do aquário para oxigenar porque a bomba para de funcionar e os peixes podem morrer. Por sorte, isso ainda não aconteceu.”
Múltiplos fatores
Segundo a CEB, são várias as causas que podem resultar em problemas para o fornecimento de energia, como árvores perto de fios, queda de postes, cabos partidos e raios. “O número de chamados relacionados a essas ocorrências aumentam consideravelmente durante o período chuvoso, visto que quando essas situações ocorrem, na maioria dos casos e por segurança, a rede desliga automaticamente”, informou a companhia, em nota.
A empresa alega que teve perdas significativas na estrutura, como a queima de um dos transformadores da subestação Ceilândia Norte, após ele ter sido atingido por um raio, em novembro, o que tem causado sobrecarga na região. Ela afirma que foi autorizada a compra de quatro novos equipamentos, sendo dois destes destinados à recuperação da capacidade total da unidade atingida.
A CEB disse que estruturou um plano de ação emergencial com outros órgãos do GDF e irá intensificar as podas nas regiões mais afetadas. Por fim, destacou que o furto de cabos e o desvio irregular de energia (também conhecido como “gato”) afetam a qualidade da distribuição.
Conheça seus direitos
A solicitação do ressarcimento de equipamentos queimados pode ser realizada pelo telefone 116. A distribuidora analisará os casos nas unidades atendidas em baixa tensão, como residências, lojas e escritórios.
O consumidor tem até 90 dias, a contar da data provável da ocorrência, para solicitar o ressarcimento. A distribuidora tem até 10 dias corridos para verificar o aparelho danificado e, até a verificação, o consumidor não deve consertar o equipamento, exceto se a distribuidora autorizar.
No caso de deferimento, a CEB tem até 20 dias corridos para efetuar o ressarcimento por meio de pagamento em dinheiro, providenciar o conserto ou substituir o equipamento.