Três em cada 10 universitários do DF perderam a fonte de renda na pandemia
Antes do coronavírus, o CIEE tinha 17 mil estágios em vigor. Atualmente o número caiu para 13 mil. O Super Estágios também teve queda
atualizado
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A pandemia do novo coronavírus empalideceu o sonho do primeiro emprego para os jovens do Distrito Federal. Segundo pesquisa do Instituto Quero Bolsa, três em cada dez estudantes de faculdades particulares perderam o estágio ou o emprego durante a quarentena.
O problema também compromete o futuro dos universitários da Universidade Brasília (UnB). Antes da pandemia, o Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE) tinha 17 mil estágios no DF e Entorno. Atualmente são 13 mil. Ou seja, a queda foi de 4 mil postos.
O Instituto Super Estágios vinha em trajetória de crescimento de 18% mensais no total de bolsas. A partir da segunda quinzena de março amargou queda de 5,87% no número e nos contratos ativos. Segundo a Secretaria de Juventude, entre os 300 mil desempregados do DF, 120 mil são jovens.
Na ponta do lápis, segundo a pesquisa do Quero Bolsa, 31,6% dos estudantes do ensino superior privado perderam o emprego durante a pandemia. Outros, 50,6% mantiveram os postos de estágio ou emprego. Os demais 17,8% não tinham emprego.
O estudante de engenharia aeroespacial Vitor Mendes Pacheco de Freitas (foto em destaque), de 22 anos, compartilha desse drama. Desde de 2019, vivia o amadurecimento da primeira experiência profissional no estágio. Mas o projeto foi bloqueado pela Covid-19.
Vitor está matriculado no Campus do Gama da UnB. Trabalhava com gestão e operação de satélites. A empresa pretendia renovar o estágio. Entretanto, a faculdade suspendeu atividades com o isolamento social e não pode assinar os documentos.
“Foi em 17 de março. Não tinha professor para assinar. Foi tudo de surpresa. Fiquei decepcionado, bastante triste. Tinha planejado coisas para o futuro”, desabafou o universitário.
A empresa apresentou alternativa para Vitor: tão logo seja possível vai efetivá-lo novamente no estágio. Por sorte, o universitário tinha as finanças pessoas sob controle. Ele vive com os pais, mas paga as próprias contas. Tem sede de independência.
Essencial
“O estágio? Para mim é essencial. É período para nossa formação, para ganharmos experiência. Infelizmente não poderia ser diferente, pois o vírus é bastante contagioso”, concluiu.
A pandemia também afastou a esperança de quem ainda não conseguiu o primeiro emprego. Desde o ano passado, o estudante de engenharia civil da UnB Daniel de Sousa Abreu, de anos 20, busca uma chance. Mas encontrou apenas portas fechadas.
“Eu tinha duas entrevistas marcadas para esse período, antes de anunciarem o isolamento social. Mas, até agora, nada. Ninguém me ligou. Agora, com o coronavírus, as oportunidades diminuíram”, lamentou.
“É um momento difícil, bem triste. E a tendência é piorar. Porque a gente sonha com o sucesso. Sonha em sair da faculdade, conseguir um emprego. Mas não consegue nem entrar no mercado. Exigem experiência para o primeiro emprego”, pontuou.
Segundo Daniel, os empresários poderiam dar chance para renovar o mercado, dando espaço para novos profissionais sem experiência. Por outro lado, os governantes deveriam lançar programas de desconto fiscal para a contratação de novos talentos.
Bolsa suspensa
A estudante de pedagogia Letícia Silvério, 20, começou a cursar estágio em uma instituição de ensino particular no começo de 2020. A princípio, a empregadora manteve o estágio e a bolsa mesmo com a suspensão das aulas.
Sem previsão de volta das aulas, os pagamentos foram suspensos. “Eu me sinto de mãos atadas, frustrada. A gente faz dívidas e ajuda nas contas de casa. Vejo pessoas perdendo o estágio. É muito triste”, comentou.
Para Letícia, as chances do estágio ser cancelado a partir de junho são reais. Filha de uma profissional da saúde, ela considera o isolamento social correto. Além do próprio drama, ela vê a batalha da mãe.
“O isolamento é necessário. Quem pode, por favor, fique em casa. Quem não pode, use a máscara, álcool em gel, lave as mãos. Sou filha de enfermeira. E situação é muito séria. Se protejam”, pediu.
Segundo noticiado pela coluna Grande Angular, o governador Ibaneis Rocha, só vai reabrir as escolas com garantia total de segurança para alunos e professores.
A percepção de futuro dos universitários também não é animadora. Conforme o estudo da Quero Bolsa, para 38,2% dos universitários as chances de manutenção de pagamento das mensalidades são baixas.
A pesquisa foi realizada entre os dias 6 e 7 de abril. Os pesquisadores ouviram 4.491 participantes em todo o Brasil, distribuídos em 406 instituições de ensino privadas. No Distrito Federal, foram ouvido 231 estudantes.
Três em cada dez entrevistados alegaram também ter grande chances de deixar os estudos.
GDF
Segundo o secretário da Juventude, Léo Bijos, no começo de 2020, a pasta fez acordo de cooperação com o Banco do Brasília (BRB) e colocou em marcha o programa de microcrédito para jovens empreendedores.
O programa oferece suporte e educação financeira, com curso específico, para o jovem montar o próprio negócio. “Para ajudar os empresários a manterem as portas abertas e não dispensarem trabalhadores e estagiários o BRB lançou o programa Supera”, completou.
“Nossa missão 01 sempre foi a geração de emprego e renda para os jovens do DF. Mas mudando a lógica do universitário se formar e ser servidor público. Fomentamos de abertura de novas empresas e novos negócios. O governo é um grande facilitador, neste contexto”, explicou.
De acordo com Bijos, o desemprego entre os universitários ocorreu majoritariamente nos postos de trabalho da iniciativa privada. “No GDF e no governo federal foi instalado o teletrabalho. Então estes foram preservados na grande maioria”, contou.
O número de jovens desempregados parte da última pesquisa da Codeplan. Pelas contas de Bijos, 40% dos 300 mil desempregados do DF são jovens.
O Metrópoles também procurou a Secretaria do Trabalho sobre a questão, mas a pasta preferiu não comentar. O Governo do DF (GDF) decidiu adiar a reabertura do comércio para 11 de maio.
Soluções
Segundo o CIEE, áreas como comércio, escritórios, instituições de ensino e pequenos negócios estão entre as mais atingidas pela pandemia. Para combater a crise, a instituição reduziu em 50% o tempo entre o anúncio da vaga e a contratação.
E adota, inclusive, o emprego de assinaturas eletrônicas para firmar os contratos. De acordo com o supervisor do CIEE Brasília, Elenilson Santos Arara, há a busca de alternativas, como antecipação do recesso dos estagiários, a redução da jornada de estágio e o teletrabalho.
Por outro lado, setores essenciais trabalham para reforçar as equipes. A superintendência Nacional de Atendimento do CIEE prevê o crescimento de 20% no volume de contratações nessas áreas, como na saúde, varejo, indústria da alimentação, logística, comunicação e áreas da informática”, contou Santos.
Oportunidades
A Super Estágios também observou a abertura de oportunidades. A lista de setores que estão contratando tem farmácias, distribuidoras de medicamentos e materiais hospitalares, hospitais, serviços de marketing digital.
Nesta quinta-feira (30/04), a instituição abriu seleção para Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares. Serão selecionados universitários para 67 estágios para 27 diferentes cursos.
As inscrições seguem até 22 de maio, pelo link: www.superestagios.com.br. O processo seletivo será feito on-line. A instituição também sugere aos empresários revisões dos contratos com atividades por home office, por exemplo.
“O principal objetivo é não desligar o estagiário durante esse momento de pandemia”, afirmou em nota enviado ao Metrópoles. Atualmente, a instituição tem 5 mil estágios ativos no DF.