Usuários do BRT reclamam do sistema. Problemas vão da demora para embarcar e superlotação até falhas na infraestrutura
Quatro dos 10 terminais prontos estão abandonados. Há vidros quebrados, portas soltas, estrutura pichada e lixo acumulado. Investimento foi de R$ 659,2 milhões
atualizado
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Em funcionamento desde 2014, o BRT (ou Expresso DF) ainda está longe de transportar com conforto e dignidade os mais de 100 mil passageiros que utilizam o sistema todos os dias. Inaugurado com o intuito de reduzir o tempo de viagem de regiões administrativas mais distantes (como Santa Maria e Gama) até o Plano Piloto, o transporte é alvo de inúmeras reclamações. Os problemas vão da demora para embarcar nos coletivos e superlotação à desorganização das filas, esbarrando em falhas na infraestrutura das estações. Um prejuízo, já que o sistema custou R$ 659.227.845,16 aos cofres públicos e não atende plenamente aos usuários.
Na última quarta-feira (24/2), o Metrópoles fez o trajeto do Gama até a Rodoviária do Plano Piloto, que levou 42 minutos. O tempo neste trajeto foi realmente reduzido. Mas se levar em conta o que é gasto pelos usuários para chegar ao terminal fica maior. Isso porque antes de o sistema funcionar, os passageiros pegavam as linhas diretas para o Plano Piloto. Agora, precisam parar nos terminais do BRT.Os problemas vão além. As filas no terminal chegam facilmente a 100 pessoas nos horários de pico e a falta de organização fica evidente. Dentro do coletivo não há espaço para os passageiros e alguns fazem a viagem sentados no chão e nas escadas. A operadora de caixa Natália Rodrigues, de 20 anos, é uma delas. “A gente não pega engarrafamento, mas é tudo muito bagunçado”, explicou.
“O problema é que agora tem muita gente para um ônibus que não tem capacidade de transportar todo mundo”, reclamou a estudante Gláucia Nascimento, de 18 anos, que faz o percurso de BRT de segunda a sexta-feira.
Leandro Montes de Oliveira (foto abaixo), de 17 anos, utiliza o serviço todos os dias. Ele, que pega o ônibus de Santa Maria para a Asa Sul, afirma que o sistema apresenta diversas falhas. “Foi um gasto desnecessário com o transporte público e a demora é muito grande”, desabafou o estudante.
O serviço acabou dificultando mais ainda a vida dos moradores dessas cidades. O governo retirou alguns ônibus que faziam as linhas diretas e transformou em linhas do BRT, então as pessoas que faziam o trajeto nos coletivos foram todas redirecionadas para o serviço. O sistema ficou sobrecarregado.
Leandro Montes de Oliveira
A Secretaria de Mobilidade (Semob) admite falhas e informa que, em caso de o BRT sair com mais passageiros do que o previsto, uma denúncia é feita aos órgãos competentes. “Já foi identificado o descumprimento da tabela horária de algumas linhas do BRT Sul por parte da operadora, que será autuada pelo horário não cumprido e notificada e pelo descumprimento da ordem de serviço vigente”, garante a pasta.
Estrutura
A reportagem esteve em sete das dez estações que foram concluídas e verificou problemas em todas elas. Das três que funcionam normalmente (Terminal Gama e estações Caub II e Park Way), somente uma (Park Way) tinha a bilheteria ativa. Nas demais, o passageiro só embarca no BRT se tiver saldo no cartão do sistema.
Para embarcar, a reportagem pagou a passagem a um funcionário do DFTrans, que passou o cartão na catraca. “É muito difícil pegar e recarregar o cartão”, alega a estudante Gyovanna dos Santos Silva, de 19 anos. De acordo com a Secretaria de Mobilidade, as bilheterias que estão desativadas ficam nos terminais que possuem apenas áreas de embarque e desembarque. “De qualquer forma, o governo já estuda a ativação dessas bilheterias, bem como a ampliação dos pontos de recarga”, informou a pasta.
Atualmente, o sistema de recarga dos cartões do BRT acontece nos terminais do Gama, Santa Maria e Park Way. Os usuários também conseguem colocar créditos na Rodoviária do Plano Piloto, Galeria dos Estados e em Taguatinga Centro.
Outro ponto de reclamação dos passageiros é a falta de painéis que indiquem os horários dos ônibus nas estações. A estrutura para os monitores existe, mas faltam telas em todos os terminais. “Tem dias que a gente chega a esperar uma hora”, completa Gyovanna.
A Semob informou que o usuário pode pesquisar os horários no site do Transporte Urbano do Distrito Federal (DFTrans). “Para isso, ele precisa colocar na pesquisa o número de quatro dígitos que aparece no painel luminoso que fica na lateral e na traseira do veículo”, completou.
Estações abandonadas
As outras quatro estações visitadas (Catetinho, SMPW q. 26, Granja do Ipê e Vargem Bonita) estavam prontas, mas ainda não começaram a ser utilizadas. O abandono é visível. Um descaso com o dinheiro público. Vidros quebrados, portas soltas, estrutura pichada e lixo acumulado. Em uma delas, flagramos uma marca de tiro no vidro.
Em uma das estações abandonadas, as luzes estavam acesas. A reportagem também identificou água parada no teto de um terminal, que pode servir de foco do Aedes aegypti – mosquito transmissor da dengue, da chikungunya e do zika vírus.