Terror nas ruas do DF. Gravações com ameaças a motoristas do Uber circulam em grupos de taxistas
Preocupados, funcionários do aplicativo estão compartilhando telefones de emergência, não vão transitar nos setores hoteleiros nem usar terno no fim de semana
atualizado
Compartilhar notícia
Perigo nas ruas do DF. A tensão entre taxistas e motoristas do Uber está no nível máximo. Gravações circulam nos grupos de whatsapp dos concessionários com ameaças aos condutores do aplicativo. A agressão ao motorista Alexandre Rodrigues de Almeida Rocha, 37 anos, na tarde deste domingo (25/10), no Setor Hoteleiro Norte, acirrou a briga entre as duas categorias travada desde o início do ano. Seis taxistas foram levados para a delegacia. “Acabou o amor, agora é na dor”, diz um homem, ainda não identificado, que inflama a onda de agressão aos funcionários do Uber.
André Melo, motorista do Uber, tomou conhecimento das ameaças e diz que a categoria não irá ceder. “Não vamos abaixar a cabeça, nossa intenção não é brigar e, sim, trabalhar honestamente”, destaca.Preocupados com a situação, os funcionários do aplicativo estão compartilhando telefones de emergência. O objetivo é agilizar o atendimento da polícia. Outra medida adotada é deixar de usar o terno aos fins de semana. “Isso dificulta a identificação por parte dos taxistas”, justifica.
O diretor do Sindicato dos Taxistas, Sérgio Aureliano, informa que desconhece o teor das gravações, mas alega que passou nos pontos de táxi orientando a categoria. “Desde ontem estamos visitando e ligando para dizer que a violência não resolve”, disse.
Porém, não esconde o descontentamento com a presença do Uber na cidade: “Vale destacar que nós estamos regularizados, eles são os piratas, estamos no nosso direito. Uma hora o governo vai ter que resolver essa situação de forma definitiva”.
Violência é inaceitável
Procurado pelo Metrópoles, o secretário de Transporte e Mobilidade do DF, Marcos Dantas, disse que o GDF não vai tolerar agressões. “Em hipótese alguma concordamos com violência. É inaceitável! Estamos em um mundo civilizado. Não faz sentido alguém ser agredido, ainda mais se tratando de outro trabalhador. Vamos estabelecer um diálogo”. O secretário pretende marcar uma reunião com o Uber e os taxistas para esfriar os ânimos.
Sobre a proposta de regularização do funcionamento do Uber no DF, Marcos Dantas informou que a Casa Civil lidera os trabalhos, que têm data prevista de conclusão em 10 de novembro. A ideia é permitir a circulação dos motoristas do aplicativo, mas com algumas restrições.
Agressão
Alexandre, agredido no último domingo, também espera uma resposta do governo. “Não vou desistir de trabalhar no Uber, mas o GDF precisa intervir ou vai começar uma guerra. É preciso apurar e saber, de fato, quem são esses taxistas, muitos respondem na Justiça por crimes violentos, são bandidos infiltrados”, ressalta.
Alexandre conta ainda que vai comparecer à 5ª Delegacia de Polícia (área central) ainda nesta segunda para apresentar novas denúncias. “Eles (taxistas) não vão parar, minha família está apavorada. Tenho medo de andar na rua. A polícia precisa investigar esses agressores”, desabafa.
Sobre a ocorrência em questão, a Divisão de Comunicação Social da Polícia Civil (Divicom), explicou que se trata de uma ocorrência de lesão corporal, ameaça e dano envolvendo seis taxistas e o motorista do Uber, além de testemunhas. Na delegacia, os taxistas se recusaram a prestar depoimento e disseram que vão se pronunciar apenas em juízo. Todos assinaram Termo Circunstanciado e foram liberados em seguida.
Confira o vídeo com o momento em que Alexandre foi abordado pelos taxistas:
- Outros casos
A agressão a Alexandre não foi a única. Em agosto, taxistas obrigaram um casal que utilizava os serviços do Uber a desembarcar do veículo próximo ao aeroporto JK. O grupo questionou se o motorista tinha autorização para rodar e chegou a ameaçar quebrar o carro caso os passageiros não saíssem. O casal foi obrigado a entrar em um táxi e o motorista teve que colocar as malas no outro veículo. - Episódios também foram registrados contra motoristas de carros semelhantes aos utilizados pelo aplicativo. Em julho, um funcionário de uma agência de turismo foi agredido por taxistas no aeroporto. Ele teria sido confundido com um funcionário do Uber ao buscar o cantor Sérgio Reis para um show na cidade.
- Na mesma época, registro semelhante se deu nas proximidades do Centro de Convenções Ulysses Guimarães, quando um motorista de uma empresa privada aguardava o chefe sair de um evento e foi cercado por taxistas. Ele conduzia um Ômega preto e também foi confundido com um condutor do aplicativo.