Subsecretário que fiscalizava transporte pirata cai após áudio vazar
Em entrevista ao Metrópoles, o secretário de Mobilidade, Marcos Dantas, disse que as ações do ex-subordinado não eram efetivas porque ele não seguia a determinação de integrar, com o Detran e a Polícia Civil, as operações contra o transporte pirata
atualizado
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O subsecretário de Fiscalização e Auditoria (Sufisa), da Secretaria de Mobilidade (Semob), Junio Celso Nicola, não resistiu à queda de braço dentro da pasta e foi exonerado do cargo nesta quinta-feira (14/4). O ato ocorre horas após o Metrópoles divulgar áudio no qual o chefe de gabinete da Semob, Moisés do Espírito Santo, reclama com Nicola de uma grande operação que seria realizada em Ceilândia para coibir o transporte pirata.
Em entrevista ao Metrópoles na noite desta quarta (14), o secretário de Mobilidade, Marcos Dantas, confirmou a exoneração, classificou de “pirotecnia” a repercussão do caso e foi enfático ao justificar a mudança na subsecretaria: “As ações desempenhadas até então não vinham surtindo efeito”. Segundo ele, Nicola não estava seguindo a recomendação de promover ações integradas entre a pasta, o Departamento de Trânsito do DF (Detran) e a Polícia Civil.Preciso de uma reestruturação do modelo de fiscalização neste setor. Não adianta fazer batidas aleatórias. Temos de fazer ações planejadas e coordenadas com o Detran e a Polícia Civil
Marcos Dantas, secretário de Mobilidade
Segundo o secretário, o governador Rodrigo Rollemberg quer participar mais efetivamente da fiscalização ao transporte pirata. O socialista cobra resultados mais eficazes “porque as operações não estavam dando os resultados esperados”.
Procurado pela reportagem, Junio Celso Nicola não quis se pronunciar. Para o lugar dele, foi escolhido o delegado da 32ª Delegacia de Polícia (Samambaia), Júlio César de Oliveira.
Confira entrevista com o secretário Marcos Dantas:
É verdade que o senhor demitiu o subsecretário de Fiscalização?
Sim, é verdade.
Por quê?
Na verdade, preciso de mais efetividade na fiscalização contra o transporte pirata. Buscamos a construção de uma ação integrada com as forças de segurança.
Em um áudio divulgado na manhã desta quinta-feira (14) pelo portal, o chefe de gabinete do senhor repreende o subsecretário em seu nome porque Nicola planejava fazer uma operação de fiscalização. Por que demitir justamente quem queria fiscalizar?
Eu que orientei o chefe de gabinete a cobrar a suspensão da ação. Falei e repito que aquele não era o momento para se fazer a operação. Vocês mesmos mostraram, recentemente, em reportagens, que há falhas na fiscalização. Nós admitimos que há falhas e queremos corrigi-las. Como não estávamos tendo o retorno dessa função já há algum tempo, optei pela exoneração.
Relembre o caso
Na conversa entre Nicola e Moisés, que ocorreu em 20 de janeiro deste ano, o chefe de gabinete cobra explicações sobre uma “possível” operação em Ceilândia. “Vai haver uma (ação) de combate à pirataria amanhã”, responde o então subsecretário.
Moisés diz falar em nome de Marcos Dantas. Segundo ele, o secretário determinou que a operação contra a pirataria que ocorreria no dia seguinte (21) teria de ser cancelada. Mas a ordem é descumprida.
Nicola argumenta que não aceitaria ordens que não fossem do próprio secretário Dantas. E que só cancelaria a ação mediante comunicado por escrito. “Eu cumpri minha ordem no cronograma, meu dever como auditor fiscal. E agora estou na subsecretaria. Gostaria que o secretário me desse essa ordem verbal ou então por escrito, de preferência, que é para suspender as operações”, declarou ele.
Contrariado, Moisés usa um tom ameaçador. “Veja bem. Não foi o Moisés que falou para você. Eu falei em nome do secretário. Você está descumprindo a ordem dele, é isso? Tá bom. Tudo bem. Você vai fazer a operação amanhã, não vai? Você está descumprindo a ordem do secretário”, frisa. Após o desgaste, a operação foi suspensa.
Piratas do asfalto
Na semana passada, o Metrópoles mostrou em uma série de três reportagens especiais, após quatro meses de apuração, que o transporte pirata no DF se tornou uma organização criminosa e que tem a participação de servidores públicos e policiais militares. Os números do transporte ilegal de passageiros nas vias da capital do país impressionam. São mais de 10 mil veículos que movimentam R$ 3 milhões por dia.
Servidores contaram que os pirateiros têm acesso às rotas da fiscalização assim que as ordens de serviço começam a circular entre as equipes.
Colaborou Mirelle Pinheiro