PM apura envolvimento de sargento com transporte pirata no DF
Militar anuncia viagens da agência TransCodó Viagens e Turismo em sites de vendas como a OLX. Confrontado pela reportagem, ele negou ser proprietário da empresa, que faz transporte interestadual e não tem autorização para rodar
atualizado
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A Polícia Militar do Distrito Federal apura o envolvimento de um sargento da corporação com transporte clandestino de passageiros. Francisco de Assis Araújo, que no Facebook se diz proprietário da TransCodó Viagens e Turismo, anuncia viagens da empresa até mesmo pela internet, em sites de vendas como a OLX. Ele teve um ônibus apreendido no último dia 17 pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) enquanto transportava cerca de 50 pessoas do Maranhão para o interior de Goiás.
A TransCodó faz viagens do Distrito Federal para o Maranhão, Piauí, Ceará, São Paulo e Paraíba, sempre às terças e sextas. Tanto na OLX quanto no Facebook, o militar anuncia os serviços por meio de um perfil em que aparece fardado. Os ônibus partem sempre às 11h de Ceilândia Sul.O bilhete para São Luís (MA), por exemplo, sai a R$ 180 nos veículos sem ar-condicionado e a R$ 200 com refrigeração. Os passageiros podem pagar na hora, mas é preciso reservar com antecedência para garantir uma vaga.
A reportagem entrou em contato com o militar e Francisco confirmou ser proprietário da empresa, mas desmentiu o fato em seguida. Ele afirmou que apenas ajudava um colega na ocasião em que o ônibus foi apreendido. Questionado sobre a informação que constava em seu perfil dizendo que era o proprietário da TransCodó, disse apenas: “Facebook qualquer um pode fazer, né?”. No entanto, depois da conversa, o PM removeu o dado de sua página pessoal.
Sobre a apreensão do veículo, deu detalhes que disse terem sido repassados pelos passageiros. “O ônibus não era meu, era de outra pessoa. Mas ele tem autorização de turismo para rodar. A ANTT pegou os documentos dos passageiros e levou embora, o que é ilegal”, alegou Assis.
Saíram correndo e deixaram o ônibus para trás. As pessoas eram humildes, nunca tinham vindo a Brasília e não sabiam onde ficava a ANTT. Na segunda-feira (18/7), eu fui lá com um advogado buscar os documentos para eles. Falaram que não devolveriam, porque o ônibus fugiu da fiscalização, mas quem fugiu foram os fiscais.
Sargento Assis Araújo
Ainda de acordo com o militar, ele está apenas ajudando os passageiros a terem seus direitos respeitados. No entanto, exaltou companhias como a TransCodó. “Aqui, tem um monte desses ônibus para o Nordeste. E tem muito porque você não vê a qualidade nas empresas de transporte (regulares). Tem empresa (clandestina) com ônibus novinho, zerado, comprado mês passado. Os funcionários são capacitados, têm curso. O serviço é de primeira qualidade”, completou.
A Polícia Militar do DF informou que a Corregedoria da corporação tem ciência do fato e apura possíveis irregularidades.
Sem autorização
De acordo com a ANTT, a TransCodó Viagens e Turismo não tem autorização para operar o transporte interestadual de passageiros. “Atualmente, as empresas que prestam o serviço de transporte interestadual semiurbano de passageiros operam por meio de Autorização Especial, nos termos do art. 49 da Lei nº 10.233/2001. Todas deverão utilizar veículos com condições necessárias para a prestação de um serviço adequado”, explicou, em nota.
A agência ressaltou ainda que as companhias passam por fiscalizações periódicas a fim de verificar a situação dos veículos e a prestação dos serviços operados. Os passageiros podem consultar o site da ANTT para verificar se os transportes que utilizam estão regularizados.
Piratas do asfalto
Em abril, o Metrópoles mostrou em uma série de três reportagens especiais, após quatro meses de apuração, que o transporte pirata no DF se tornou uma organização criminosa e que tem a participação de servidores públicos e policiais militares. Os números do transporte ilegal de passageiros nas vias da capital do país impressionam. São mais de 10 mil veículos, que movimentam R$ 3 milhões por dia.
Servidores contaram que os “pirateiros” têm acesso às rotas da fiscalização assim que as ordens de serviço começam a circular entre as equipes.