No DF, mães evitam andar em vagão exclusivo do metrô com os filhos
Mulheres preferem usar espaços comuns do transporte para não passarem por constrangimento na área restrita a passageiras e deficientes
atualizado
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As usuárias do metrô no Distrito Federal têm aberto mão de um dos principais direitos conquistados pelas mulheres no transporte público local: o vagão exclusivo para passageiras e pessoas com deficiência. Isso devido ao medo de se tornarem vítimas do constrangimento vivido pela vendedora Julia Silva, 45 anos, que, no domingo (18/2), foi expulsa da área restrita porque estava com o filho de 11 anos. Assim, elas se veem forçadas a enfrentar os percalços dos vagões comuns.
“Evito entrar no carro exclusivo com meu filho, de 8 anos, porque vejo, com frequência, passageiras reclamando de mães que entram com as crianças. Eu ficaria triste se passasse por situação assim”, explica a vendedora Enislene Alves, 32 anos, moradora de São Sebastião. Um episódio testemunhado por ela no vagão exclusivo reforçou ainda mais a opção pelo setor comum.
“Vi um rapaz, que aparentava ser adulto e ter condição especial, entrar acompanhado da mãe. Logo em seguida, as passageiras reclamaram e pediram a saída deles. A mãe teve de mostrar um documento comprovando que o filho tinha deficiência para não ser forçada a sair.
Enislene Alves, vendedora
Enislene costuma usar o transporte público acompanhada do filho Danilo Barreira Alves, de 8 anos. Apesar de manter distância do vagão exclusivo, ela minimiza a presença de meninos nessa parte. “Não há problema, crianças são inofensivas. Mas não concordo com adolescentes, a partir de 13 anos, nesse trem”, avalia.
A dona de casa Kelly Vasconcelos (foto em destaque), 36 anos, também prefere se locomover pelos vagões comuns com o filho Lucas Vasconcelos, 8, ainda que ambos tenham direito ao setor. “O Lucas é criança e cadeirante, mas, mesmo assim, tenho medo de sofrer constrangimentos”, justifica. Nos horários de pico, nos quais os vagões comuns ficam abarrotados, ela e o filho se sentem incomodados, acrescenta a mulher.
A recepcionista Cristiane Fagundes, 41, também evita o vagão exclusivo quando está com o filho Paulo Henrique Fagundes, 10, e engrossa o coro de críticas a quem tente expulsar mulheres em condição semelhante. “Por não haver idade limite, acho erradíssimo retirar do vagão uma criança nessa faixa etária”, analisa.
Projeto de lei
A deputada distrital Celina Leão (PPS) protocolou, na última terça-feira (20/2), projeto de lei que autoriza meninos a usar vagões exclusivos do Metrô-DF. A medida ocorre dois dias após a vendedora Julia Silva e os filhos, um de 11 anos e uma de 3, serem expulsos do espaço restrito do transporte público.
A matéria propõe alteração na Lei Distrital nº 4.848/2012. No texto, seria liberada a presença de crianças de até 12 anos incompletos acompanhadas dos responsáveis no vagão rosa disponibilizado pelo Metrô-DF.
Expulsão
No domingo, Julia Silva se sentiu humilhada depois que ela e os filhos foram forçados, por uma funcionária do Metrô-DF, a deixar o vagão exclusivo. De acordo com a segurança, o menino não poderia estar na área restrita.
Em nota, o Metrô-DF confirmou o caso e afirmou: “A funcionária em questão agiu de acordo com a Lei Distrital nº 4.848/2012”. Ainda segundo a companhia, a segurança não descumpriu nenhuma norma interna.
Apesar disso, o Metrô-DF afirmou que permitirá crianças de até 11 anos, acompanhadas das mães, a seguirem viagem no carro exclusivo para mulheres e pessoas com deficiência. A estatal vai orientar os empregados a autorizar o acesso delas.
Por fim, a empresa pontuou não haver limite de idade para uso do carro. “Bem como aqueles homens que estejam acompanhando pessoas com deficiência. O fato envolvendo a retirada de uma criança de 11 anos foi isolado”, assegurou.