Crise faz transporte público do DF perder 15% dos passageiros em 2017
Em 2016, 1 milhão de pessoas usavam ônibus diariamente na capital federal. Neste ano, número caiu para 850 mil
atualizado
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A má qualidade dos serviços oferecidos à população, o preço da passagem e a crise econômica são alguns dos fatores que tiveram forte impacto no transporte público do Distrito Federal. A capital sofreu redução de 15% no número de passageiros. A média diária de pessoas que utilizam ônibus e metrô em Brasília e nas demais Regiões Administrativas caiu de 1 milhão em 2016 para 850 mil neste ano.
Hoje, para muitos brasilienses, os deslocamentos se restringem aos necessários, como os trajetos para o trabalho. Assim, atividades como o lazer acabam sendo sacrificadas. Os dados, da Associação das Empresas Brasilienses de Transporte Urbano de Passageiro (Abratup), revelam que o cenário na capital federal é pior do que em outros grandes centros urbanos. “O momento é de muita preocupação. O sistema do DF está em crise e trata-se de um serviço público. Nós precisamos priorizá-lo”, diz Barbosa Neto, presidente da entidade.
Juntas, elas são responsáveis por 37% da demanda brasileira. A retração nacional de 8,2% significa que, a cada dia, 3 milhões de passageiros deixaram de utilizar transporte público no país.
Segundo a NTU, uma série de fatores contribuem para essa realidade nacional. Entre eles, a falta de ações públicas para incentivar o transporte coletivo, a alta carga tributária e a ausência de financiamento para renovação da frota. No caso do DF, aponta a associação, o poder público não aproveita o potencial da região.
Diferentemente de outras cidades, Brasília poderia ter um transporte ótimo, dado o espaço viário e a facilidade para implantar faixas exclusivas. Mas falta até mesmo um projeto básico de integração entre os ônibus.
Otávio Vieira da Cunha Filho, presidente da NTU
Outro problema, afirma o especialista, diz respeito à malha que atende o Entorno. Segundo Vieira, o atual modelo de distribuição das linhas entre o DF e as cidades de Goiás faz com que haja uma concorrência predatória em relação ao serviço local.
Algumas das soluções apontadas pela entidade para estancar a queda do número de passageiros no DF e no restante do país é investir em faixas exclusivas, reduzir a carga tributária e abrir linhas de financiamento para renovação tanto da frota como da infraestrutura.
Serviço precário
Não são apenas as empresas que têm queixas em relação ao sistema de transporte. Sobram reclamações de motoristas, de cobradores e da população. No caso dos passageiros, a percepção é diferente da de empresários. Enquanto os donos de empresas dizem que estão perdendo clientes, os usuários dizem que encontram veículos sempre lotados e muitas vezes acabam optando pelo transporte pirata.
“Os coletivos só rodam cheios. Transporte em Brasília sempre foi complicado. Está caro e costumo esperar pelo menos 30 minutos para o ônibus passar”, conta a cozinheira Shirley Diniz, 51 anos, moradora de São Sebastião.
O garçom Verediano Raimundo de Araújo, 25, diz que sua maior angústia é a espera na parada. “Faltam ônibus. Isso incomoda mais do que a duração da viagem, que costuma ser longa, de 45 minutos”, relata o morador do Paranoá.
Veridiano também questiona o valor da passagem — R$ 5 —, considerado alto. Ele diz que só consegue arcar com a despesa porque a empresa em que trabalha paga o transporte. “Se tivesse que sair do meu bolso, não teria como arcar.”
Rodoviários insatisfeitos
Também há reclamações entre os rodoviários. Tanto que, na quarta-feira (23), a categoria promoveu bloqueios em estacionamentos de ônibus em três pontos: no Mané Garrincha e nos terminais das asas Sul e Norte.
O movimento contou com 500 motoristas e cobradores de quatro empresas: São José, Marechal, Urbi e Pioneira. A paralisação-relâmpago teve como objetivo pressionar os patrões por novo reajuste salarial, além dos 4% conseguidos em julho.
Outro ponto negativo sempre lembrado por passageiros, motoristas e cobradores é a violência. No Distrito Federal, a média de roubos a coletivos já chegou a 12 casos por dia. “A gente sai para trabalhar sem saber se vai voltar para casa”, resume o motorista Adalmir Moreira Alves.