A difícil tarefa de viajar com o bicho de estimação em ônibus
Falta de regulamentação permite que empresas criem regras próprias nos deslocamentos interestaduais. Em alguns casos, o passageiro pode ser obrigado a se retirar do coletivo se o pet incomodar os demais clientes
atualizado
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Viajar com cães e gatos é sempre uma situação complicada. Além de envolver custos de equipamento de transporte que podem ultrapassar os R$ 500, os donos têm que lidar com uma série de incertezas. No caso de deslocamentos aéreos, o preço da tarifa e a insegurança sobre os cuidados com o animal de estimação fazem as pessoas pensarem duas vezes antes de embarcar em um avião. Por isso, muitos preferem viajar de ônibus, mas também esbarram em obstáculos. Falta regulamentação, e cada empresa cria as próprias regras.
O Metrópoles procurou cinco companhias e constatou que todas têm normas muito divergentes — e que raramente são claras. Em geral, as empresas só permitem cães e gatos de pequeno e médio porte, além de contar com um regulamento que deve ser seguido à risca, como colocar o animal em uma caixa de transporte e levar uma declaração do veterinário afirmando que as vacinas estão em dia. Porém, também há pontos que não são esclarecidos e que podem prejudicar aquele que tiver um animalzinho a tiracolo.
O caso da Gontijo é o mais complicado entre as pesquisadas. A empresa permite que o consumidor compre um assento para que o animal viaje ao lado do dono, mas afirma que, caso um passageiro do mesmo ônibus reclame, o proprietário terá que se retirar do coletivo e esperar por outro. Se o viajante desistir, não haverá reembolso. “É muito inseguro. Eu tenho que fazer todo um investimento e, na hora da viagem, posso ser barrado”, diz Patrick Selvati (foto), dono da vira-lata Pérola.
Eu também deveria ter o direito de viajar com o meu animal de estimação
Patrick Selvati
Outras companhias viárias, como a Real Expresso e a Piracicabana, permitem que o animal viaje no colo, mas as atendentes sempre fazem uma ressalva categórica: o passageiro deve estar ciente de que o animal não pode incomodar os outros clientes, sob risco de ser barrado.
Mariana Gomes, estudante e dona da gata Sasha, afirma ter passado por uma situação parecida. “Quando entrei no ônibus, minha gata estava fazendo alguns barulhos, arranhando a lateral da caixinha. Uma mulher se incomodou e gritou, falando que não queria passar a viagem toda ouvindo aquele barulho. O motorista, para atendê-la, pediu para que eu a fizesse parar. Como não consegui, fui expulsa”, conta. “É como obrigar uma criança a parar de chorar na mesma hora. Foi constrangedor”, afirma.
Bagageiro
A rixa entre os donos de animais e aqueles que não querem vê-los de perto é tão grande que, para evitá-las, empresas como a Viação Motta só permitem o transporte dos pets no bagageiro. O problema é que o local é extremamente desconfortável para o animal e pode prejudicar a saúde dele. “É escuro, barulhento, quente e sacode muito. Se o cachorro for muito estressado, pode morrer”, explica Pedro Arosteguy, veterinário na capital há 15 anos.
A Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) afirma que não há um regulamento específico sobre o assunto, e que as empresas têm poder de definir os parâmetros de viagem para animais domésticos. Em nota, o órgão afirma que a companhia “pode recusar o transporte se entender que comprometerá a segurança, o conforto e a tranquilidade dos demais passageiros, além de não dispor das condições adequadas para a viagem do animal”.