Transmissão, casos diários e mortes: compare as 3 ondas de Covid no DF
A Companhia de Planejamento do DF (Codeplan) verificou os principais indicadores de cada um dos momentos vividos na capital do país
atualizado
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O Distrito Federal iniciou 2022 com quase 5 milhões de doses de vacinas contra a Covid-19 aplicadas. O avanço da imunização na capital do país fez reduzir drasticamente o número de óbitos causados pela doença, sinalizando que o ano seguiria com menos restrições. No entanto, a variante Ômicron – quatro vezes mais transmissível que a Delta – fez o brasiliense lembrar os tempos mais sombrios da pandemia, com aumento de 1.371% de infectados em pouco mais de 20 dias, unidades de terapias intensivas (UTIs) cheias e corrida aos pontos de testagem. A terceira onda chegou, mas, diferente das outras duas, apresenta características peculiares.
Uma série de indicadores é analisada pelos especialistas para determinar o estado da pandemia, como a quantidade de óbitos, a taxa de transmissão e os casos ativos. Em Brasília, a Companhia de Planejamento do Distrito Federal (Codeplan) compilou as diferenças entre essas referências nos três momentos mais preocupantes da pandemia: em 2020, em 2021 e, agora, em 2022.
A primeira onda de transmissão e mortes da Covid-19 na capital aconteceu em agosto de 2020. No dia 25 daquele mês, a Secretaria de Saúde registrou o maior número de pessoas infectadas num intervalo de 24 horas, até então: 3.172. Mesmo na segunda onda da doença na capital, em março do ano seguinte, não seria computado um quadro tão alto. No dia 8 de março, por exemplo, foram constatados 2.288 diagnósticos positivos.
Para efeitos de comparação e comprovação do estrago produzido pela Ômicron, os recordes de 2020 e 2021 nem sequer chegam perto do presenciado na última terça-feira (25/1), quando surpreendentes 10.697 novos casos entraram para a estatística oficial do Governo do Distrito Federal.
Veja o gráfico de novos casos da doença no Distrito Federal:
O gráfico, com dados retirados do DataSUS, evidencia a disparidade entre as três ondas na capital. Conforme explica o biólogo Átila Iamarino, em 2020 e 2021, a curva de casos forma o desenho de uma onda. Já em 2022, com a Ômicron, o gráfico toma a forma de um “paredão”.
Na última semana, o GDF reconheceu o momento delicado. No domingo (23/1), gestores da Secretaria de Saúde se reuniram em caráter extraordinário para traçar estratégias de enfrentamento da doença. Na terça (25/1), o governador Ibaneis Rocha (MDB) falou, pela primeira vez, publicamente, sobre os desafios da terceira onda.
O que se sabe sobre a variante Ômicron e casos de Covid prolongada
Taxa de transmissão e casos ativos
O número de novas pessoas positivadas está relacionado à taxa de transmissão. Este indicador mede quanto um infectado com a Covid-19 propaga a doença para outras. Por exemplo: se a taxa de transmissão for igual a 2, significa que um contaminado passa o vírus a mais duas. Segundo a Codeplan, em março de 2020, esse índice atingiu pico de 2,61. Na segunda onda, em março de 2021, chegou a 1,42.
Neste ano, o indicador voltou a marcar 2,61 na última sexta-feira (21/1). Já na quarta-feira (26/1), recuou para 1,87, sinalizando que 100 pessoas infectam outras 187. Por sua vez, a taxa de transmissão se relaciona com os casos ativos da doença, ou seja, quantas ainda não se curaram do coronavírus.
Ainda segundo a Codeplan, na primeira onda de Covid-19 no DF, a capital registrou um máximo de 20 mil casos ativos. Na segunda onda, Brasília contabilizou 16 mil pessoas infectadas ao mesmo tempo. Em 2022, o número foi de 39 mil na terça-feira (25/1).
Veja os casos ativos em cada onda:
- Primeira onda: 20.888
- Segunda onda: 16.811
- Terceira onda: 39.745
“Ao contaminar muito mais pessoas, um vírus muito infeccioso pode causar doenças mais graves e morte, embora o próprio vírus possa ser menos patogênico”, disse Michael Chan Chi-wai, da Faculdade de Medicina da Universidade de Hong Kong, em comunicado que apresentou estudo sobre a variante Ômicron.
No entanto, nem todos os especialistas acreditam que a doença é mais inofensiva. O neurocientista Miguel Nicolelis demonstrou preocupação com os efeitos que a pandemia pode causar nos próximos dias no público infantil. Conhecido pelas previsões acertadas sobre a Covid-19, o médico afirmou ser uma “enorme temeridade” permitir o retorno das aulas “no meio de uma onda que possui os maiores índices de transmissão”.
“Não há risco aceitável com crianças. Ninguém sabe como sequelas crônicas deixadas pela Ômicron podem afetar crianças infectadas. É um absurdo sem precedentes reabrir escolas. Com transmissão muito menor na primeira onda, elas foram fechadas. Qual a lógica de permitir sua reabertura agora?”, criticou.
Taxa de mortalidade
Felizmente, a terceira onda de Covid, até agora, mostrou-se menos mortal para o brasiliense. Em 2020, no pico da taxa de óbitos, 55 pessoas faleceram na capital num intervalo de 24 horas. Em 2021, a variante Delta matou 92 cidadãos em um único dia. Na terceira onda, apesar da alta de casos, quatro pacientes não resistiram.
Veja o gráfico de mortes na capital:
Para o subsecretário de Vigilância à Saúde e coordenador da campanha de vacinação contra a Covid-19 no DF, Divino Valero, esse efeito se deve à imunização da população da capital. “Internação e mortalidade continuam caindo. Isso significa que o efeito vacina está contendo o número de óbitos. Agora precisamos encontrar quem ainda não se vacinou; são 200 mil pessoas que ainda não procuraram os postos”, alerta o subsecretário.
No momento, quem tem 5 anos ou mais pode tomar os imunizantes disponíveis. De acordo com Secretaria de Saúde, 2,2 milhões receberam duas doses ou a dose única no DF. A campanha de imunização continua nesta quinta-feira (27/1) em todo o DF.