“Todos os nossos planos foram jogados fora”, diz jovem que perdeu mulher e filho atropelados
Elton Henrique da Silva, 23 anos, é o retrato do desespero. Abalado, ele recebeu o Metrópoles nesta segunda-feira (28/8)
atualizado
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Um dia depois de perder a mulher e o filho recém-nascido atropelados por um carro desgovernado conduzido por um menor no Gama, Elton Henrique da Silva, 23 anos, é o retrato do desespero. Abalado, ele recebeu o Metrópoles nesta segunda-feira (28/8) para contar como tenta juntar os pedaços após a tragédia que acabou com sua família. Para sobreviver à dor, tem o apoio do pequeno Edriel, de dois anos. A criança estava com a mãe, o irmão, a tia e o avô andando na ciclovia no domingo (27) de manhã, quando tudo aconteceu.
“Todos os nossos planos foram jogados fora. Meu mundo caiu. Não tive tempo de salvá-los”, desabafou o brigadista, que está desempregado.
Tinha o sonho de conseguir um emprego melhor. Queria comprar a nossa própria casa e me casar com a Rute no fim do ano
Elton Henrique
Rute Ester de Jesus Carvalho, 22 anos; a irmã dela Gabriela de Jesus Carvalho, 19; e o pequeno Eriko, de 6 meses, morreram na hora. Man Sun Go, 66 anos, pai das duas, está internado no Hospital de Base do DF (HBDF). O quadro é estável e ele não corre risco.
O filho pequeno, que chegou a ser levado para o hospital, passa bem e está em casa. Mas sente saudades da mãe. “Ele sempre dormia passando a mão no rosto da Rute. Essa noite, ele fez comigo, mas quando viu que não era ela, ficou acordado a noite inteira”, disse Elton.
Por uma dessas coincidências da vida, o menor que destruiu a família não é um desconhecido de Elton. Eles já moraram no mesmo lote e o brigadista chegou a trabalhar para o pai do infrator que matou mãe e filho. “Nada que eles fizerem trará minha família de volta. Me sinto incapaz”, lamentou o jovem, que perdeu a mãe assassinada quando ainda era criança e tem mais dois filhos de outro casamento.
Rute, o filho e a irmã devem ser enterrados nesta terça (29), no cemitério do Gama. A família, no entanto, pediu ajuda do GDF para custear os sepultamentos, pois não tem recursos para pagar os funerais.
Primo das vítimas, Sérgio Jesus de Sousa, 33 anos, está organizando um protesto com as famílias. “Estamos juntando os cacos e correndo atrás dessa parte burocrática. As famílias estão despedaçadas. Ele não atropelou três cachorros na via, acabou com duas famílias”, reclama Sérgio.
Passeio na ciclovia
O avô, duas filhas e dois netos caminhavam na ciclovia no Gama Oeste. A família foi atingida por um Hyundai Azera, de cor preta, que havia capotado após se chocar com um poste. As duas mulheres e o bebê morreram na hora.
O condutor do veículo, que tem 17 anos, apresentava sinais de embriaguez, segundo a polícia, e tentou fugir, mas foi encontrado em um matagal próximo ao local. Foi detido e encaminhado para a 20ª Delegacia de Polícia. Por ser menor, a ocorrência foi registrada na Delegacia da Criança e do Adolescente (DCA). Segundo moradores da região, a pista é muito perigosa e uma barreira eletrônica foi retirada da via recentemente
Choque
Acostumado a atender ocorrências de acidente de trânsito com vítima, o tenente Klênio Lopes Medeiros disse estar impressionado com a cena que viu. “Eu já presenciei um monte de cena feia na rua, mas essa foi a mais impactante que já vi”, disse em entrevista ao Metrópoles.
O policial militar foi um dos primeiros a chegar ao local do acidente e contou que a reação de alguns dos colegas de corporação também foi de choque. Segundo Klênio Medeiros, os PMs tentavam entender o que havia acontecido quando ele foi avisado de que um bebê tinha sido atropelado. “Agachei e vi a criança embaixo do assoalho do carro. O veículo parou em cima dela, só vi os bracinhos para fora”, conta.
“Todo mundo já está calejado com essa situação. Infelizmente, é um pouco corriqueiro acidente de trânsito com vítima. Só que quando tem uma criança, o policial consegue se imaginar na situação, pois quase todos têm filhos. Alguns ficaram realmente comovidos”, afirmou.
“Tudo errado”
Em um vídeo divulgado por WhatsApp, o jovem de 17 anos que dirigia o veículo aparece chorando, enquanto conversa com um homem não identificado. Durante o diálogo, o interlocutor sugere que o rapaz estava trafegando na via a 90km/h, apesar de o limite de velocidade no local ser de 60km/h. “A 90km/h não dá não, cara”, diz. “Você acabou com a sua vida (…) Quer dizer, a sua vida não, né, a da família.”
Ao ser questionado pelo policial do motivo de estar correndo, o menor responde: “Tava (sic) tudo errado”.
Segundo informações de vizinhos, ele teria pego o carro da família sem autorização dos pais. Nesta segunda, a Vara da Infância e da Juventude deve informar a punição que será aplicada ao rapaz, que já tem passagem pela polícia. Há menos de dois meses, o jovem de 17 anos cumpriu medida no Juizado da Infância por roubo.