Testemunha-chave confirma racha que matou mãe e filho na L4 Sul
Condutor que passava pela via conta que motoristas da Evoque e do Jetta passaram em alta velocidade e fazendo manobras arriscadas
atualizado
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Uma testemunha-chave da tragédia que matou mãe e filho no último domingo (30/4) na L4 Sul pode ajudar a provar que o episódio fatal não foi acidente e, sim, um crime. Em entrevista ao Metrópoles, um motorista, que passava pela via no momento, confirma as primeiras informações de que os dois condutores envolvidos disputavam um racha.
O condutor, que prefere não ser identificado, relatou que seguia pela Avenida das Nações em direção ao Guará, por volta das 19h20, quando viu os dois veículos. Segundo ele, a Range Rover Evoque, placa JKN 9797-DF, que era conduzida pelo sargento dos Bombeiros Noé Albuquerque Oliveira, e o Volkswagen Jetta, JKB 6448-DF, cujo motorista era Eraldo José Cavalcante Pereira, estavam parados, lado a lado, no acesso a um retorno, próximo a um posto de combustível.
“Eles (Noé e Eraldo) conversavam entre si e até comentei que aquilo era uma irresponsabilidade, pois interditavam o retorno”, assegura. Cem metros depois, a testemunha viu novamente os veículos, desta vez, pelo espelho retrovisor. “Ouvi as cantadas de pneu e, quando olhei para trás, notei que se aproximavam em alta velocidade. Eu estava na faixa esquerda e havia outro carro do meu lado, na faixa do meio. Assim, eles passaram em alta velocidade pela pista da direita”, relata.Diferentemente das declarações dos envolvidos, que disseram trafegar no limite da via (80 km/h), a testemunha garante que os carros passaram em velocidade muito acima da permitida. “Eu ia a 80 km/h. Então, calculo que eles estavam a uns 150 km/h. Passaram cortando vários carros em manobras arriscadas. Parecia um filme de ação, como ‘Velozes e Furiosos'”, compara o motorista.
Depois de ter sido ultrapassado, o condutor, que é militar, conta como viu a colisão. “Eles passaram muito rápido. Pensei ‘vai dar merda’. Uns 300 metros depois, vi um monte de poeira levantar na pista. Quando me aproximei, o Fiesta (onde estavam as vítimas) já estava capotado. Parei para sinalizar a via e auxiliar no atendimento”, assegura a testemunha. O motorista relata que Noé também parou e se identificou como bombeiro militar, ajudando nos primeiros socorros.
Quanto aos relatos de embriaguez, a testemunha afirma que não deu para identificar a condição dos condutores. “Conversei pouco com os envolvidos. Não consigo dizer se tinham ingerido bebida alcoólica. Fiquei para auxiliar no socorro até por volta de 21h, quando todos foram atendidos”, ressaltou. O condutor prestou depoimento na 1ª Delegacia de Polícia (Asa Sul), onde o caso é investigado.
Investigação
O Corpo de Bombeiros, por meio de sua assessoria, informou que, em um primeiro momento, o sargento Noé Albuquerque Oliveira será encaminhado para funções internas. A corporação abriu investigação para apurar o envolvimento do militar no acidente. Noé se apresentou na 1ª DP nesta segunda e negou que estivesse disputando racha. Admitiu, porém, que bebeu “uma latinha de cerveja” antes de dirigir.
O sargento nega que tenha se recusado a fazer o exame de alcoolemia. “Observei que ele (Noé) apresentava sinais de embriaguez, ofereci o teste do bafômetro, mas os condutores envolvidos no acidente se recusaram”, informou o agente do Departamento de Estradas de Rodagem (DER) Márcio Alves, coordenador da equipe noturna que atuou na ocorrência.
Eraldo também se apresentou à Polícia Civil nesta segunda-feira (1º/5) e negou participação em racha. Garantiu que perdeu o controle do carro ao mudar de faixa. Segundo o delegado Ataliba Nogueira, adjunto da 1ª DP, ele disse ter fugido do local da tragédia, que matou Ricardo Clemente Cayres, 46 anos, e sua mãe, Cleuza Maria Cayres, 69, por ter ficado nervoso.
Investigações
Em relação à investigação conduzida pela Polícia Civil, o delegado Ataliba Nogueira esclareceu que será preciso aguardar o resultado da perícia para confirmar toda a dinâmica do acidente e, só a partir disso, definir a tipificação do caso.
O delegado trabalha com três possibilidades: racha com resultado em morte, cuja pena varia de 5 a 10 anos de prisão; homicídio culposo (sem intenção de matar); ou homicídio doloso (quando a pessoa assume o risco de provocar uma morte ao assumir determinadas atitudes), com a qualificadora de dano eventual por ingestão de bebida alcoólica.
A família de Ricardo e Cleuza espera por justiça. A viúva do designer gráfico, Fabrícia de Oliveira Gouveia, se mostra inconformada com a tragédia. “Eles (mãe e filho) foram e não voltaram. Não voltaram porque, no caminho, encontraram algumas pessoas que acharam que beber, encher a cara, pegar um carro e sair fazendo um racha é a coisa mais normal do mundo”, disse ao Metrópoles, nesta segunda-feira.