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Transexual denuncia que foi demitida de loja por transfobia

Empresa nega e diz que funcionária foi despedida por atrasos e faltas. O caso está sendo apurado pelo Conselho dos Direitos Humanos do DF

atualizado

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Arquivo Pessoal
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1 de 1 trans1 - Foto: Arquivo Pessoal

Uma transexual em transição denuncia que foi demitida da loja Bio Mundo do Gilberto Salomão, no Lago Sul, por transfobia. De acordo com a jovem, ela teria sido agredida por um funcionário do estabelecimento e quando comunicou à gerência da empresa não teve retorno. Semanas depois, foi despedida. O caso foi parar no Conselho Distrital de Promoção e Defesa dos Direitos Humanos do Distrito Federal (CDPDDH-DF), que tenta uma conciliação.

A empresa nega a versão e diz que Jhonnatan Abreu de Queiros Silva, de 23 anos, perdeu o emprego porque atrasava e faltava constantemente ao serviço.

Por medo de perder o emprego, Jhonnatan, que em breve vai se chamar Nicole, não teria denunciado o caso à Justiça. Porém, contou ao Metrópoles que entrou em depressão e uma psicóloga aconselhou que procurasse ajuda no conselho. De acordo com a jovem, com o salário que ganhava, ela conseguiu sair da casa dos pais e pagar uma faculdade. “Continuo desempregada e estou morando com meus pais e tentando voltar aos estudos, preciso do emprego. Ser trans não é fácil, tenho medo de não conseguir mais trabalho”, disse.

À reportagem, ela explicou que trabalhou na loja por cinco meses e teria, desde o início, deixado claro que estava em transição para se tornar uma uma mulher trans. Para a surpresa de Jhonnatan, o fato não atrapalhou sua contratação. Mas nem todos os funcionários a teriam recebido com positividade.

Segundo ela, dois vendedores faziam piadinhas quando passavam por perto. “Uma vez, um dos meninos disse que eu não era homem porque meu pai não me bateu o suficiente. Aquilo era horrível”, relatou. Até que um dia, não aguentou mais os insultos e se exaltou, empurrando um dos rapazes com uma cesta de plástico.

 

Confira fotos de Jhonnatan:

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Loja em que a trans trabalhava

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Estava vendendo e ele tentou tirar o meu cliente me empurrando, daí eu o empurrei e ele me chutou com muita força. Então, joguei a cestinha nele e levei outro chute. Muitas pessoas viram a cena e não fizeram nada. Eu corri para o banheiro para ver se tinha machucado ou ficado roxo, mas só estava vermelho e como eu precisava do emprego, voltei a trabalhar

Jhonnatan Queiros

Jhonnatan afirma que notificou a gerência da empresa sobre as piadas dos companheiros de trabalho, mas não teve qualquer retorno. Disse ainda que quando percebeu que o rapaz não teria uma punição, entrou em contato por e-mail com a loja, mas a única resposta que recebeu foi sua demissão algumas semanas depois.

Conciliação
Na sexta-feira (11/8), o CDPDDH-DF convocou as partes envolvidas para uma tentativa de conciliação, sem sucesso. De acordo com o gerente da Bio Mundo, Marcus Tayrone, a versão da empresa não foi levada em consideração. “Fui convocado como testemunha da agressão e não tive oportunidade de falar. Eles estavam certos de que a versão do Jhonnatan é a correta. Não ouviram o nosso lado. A conselheira simplesmente disse ‘acho melhor encerrar por aqui'”, afirmou.

Ele também contesta a versão dada por Jhonnatan, alegando que estava presente no dia da agressão e que o funcionário apenas reagiu. “O Jhonnatan bateu nele com uma cestinha e ele apenas revidou, não acho que seja por preconceito. Foi muito mais uma ação e reação “, disse. Ainda segundo Tayrone, o rapaz foi, sim, advertido por sua agressividade.

“A Bio Mundo não foi omissa. O Jhonnatan não foi desligado por preconceito, temos vários outros lugares com homossexuais. A demissão dele foi por faltas e atrasos. Além disso, ele não tinha bons resultados nas vendas”, ressaltou o gerente.

Caso na Justiça
O presidente do CDPDDH-DF, Michel Platini, afirmou que Jhonnatan apresentou o caso com provas e que mesmo assim a empresa não deu atenção. “Convocamos o dono da Bio Mundo, mas ele não compareceu. Por isso, vai responder criminalmente. A empresa também vai ser enquadrada na Lei nº 2.615 (que determina sanções às práticas discriminatórias em razão da orientação sexual das pessoas) e pode até fechar. Ela sofreu assédio moral e cabe uma ação trabalhista”, explicou.

Conforme o presidente, o conselho tenta um contato com a empresa para evitar um processo, mas, no caso da Bio Mundo, não houve interesse. “Eles não quiseram conciliar e agora vamos até o fim. Isso é um episódio muito grave e não pode ficar impune. Todo o constrangimento que passou nunca vai ser esquecido e ela só queria ser ouvida pela empresa, mas isso não aconteceu”, disse.

 

 

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