Trans queimada por servidor do Itamaraty: “Tenho pesadelos até hoje”
Servidor federal é alvo de investigação conduzida pela 5ª DP. Vítima relata que ele tentou mantê-la em cárcere privado
atualizado
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Em entrevista ao Metrópoles, a transexual Renata Ribeiro Marques, 24 anos, que teve o corpo queimado por um servidor do Itamaraty, disse que Anderson Felype de Souza Caxeta, 33, teria tentado “mantê-la em cárcere privado”.
À reportagem, Renata afirmou ter sido a primeira vez que foi agredida por um cliente. Ela trabalha como garota de programa.
“Nunca tinha chegado a ser agredida. Foi a terceira vez em que fiz programa com ele. Ele não queria me deixar ir embora, queria me manter em cárcere”, diz.
Desacordo no preço
A vítima narra ter cobrado um valor a mais de Anderson pelo tempo em que passaria no local. O homem, no entanto, teria se recusado a pagar a quantia.
“Nessa hora, quando estava terminando de me vestir, ele jogou álcool em gel nas minhas costas e botou fogo. Cheguei a pensar, por um momento, que morreria porque não conseguia apagar o fogo. Tenho pesadelos até hoje com isso”, narra.
Ferida, a mulher foi encaminhada ao Hospital Regional da Asa Norte (Hran) – referência no tratamento de queimados.
Veja imagens das lesões:
O caso é investigado pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) – está registrado na 5ª Delegacia de Polícia – e ocorreu em 12 de junho deste ano. No entanto, só ganhou publicidade após representantes de entidades ligadas aos direitos humanos procurarem a PCDF para cobrar medidas no combate à violência contra as transexuais.
O protesto ocorreu nesta quinta-feira (25/06) e as representantes foram recebidas pelo diretor-geral da PCDF, Robson Cândido. Ele se comprometeu a criar um grupo de trabalho para melhorar o atendimento à população trans nas delegacias do DF.
Procurado pelo Metrópoles, Anderson não quis dar entrevista. Por mensagem, o homem antecipou que acionará a Justiça para tratar do caso, classificado por ele como tentativa de extorsão e tráfico de drogas. O servidor negou ter hostilizado Renata depois de ela ter se recusado a fazer o programa, mas não entrou em detalhes quanto às agressões.
Em nota, o Ministério das Relações Exteriores afirmou que Anderson é analista em tecnologia da informação do quadro do Ministério da Economia e está em exercício descentralizado no Ministério das Relações Exteriores. “Esclarecemos que o Ministério das Relações Exteriores não foi informado dos eventos narrados”, disse.