Torres rebate Exército sobre retirada de acampamento: “Alguma coisa errada em depoimento”
Ex-secretário do GDF e ex-ministro, Anderson Torres afirmou que PMDF chegou a mobilizar 500 homens para retirar acampamento em frente ao QG
atualizado
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O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública Anderson Torres rebateu informações de militares do Exército Brasileiro em relação à retirada do acampamento golpista em frente ao Quartel-General da Força Armada em Brasília. Em depoimento na manhã desta quinta-feira (10/8), na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Atos Antidemocráticos, Torres disse haver “alguma coisa errada” na versão apresentada.
Ele é ouvido na Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF), que também recebeu Gustavo Henrique Dutra de Menezes, ex-chefe do Comando Militar do Planalto (CMP), responsável pela área. Na ocasião, o general argumentou que o Exército tentou, “o tempo todo, desde o início, desmotivar o acampamento”.
No entanto, Torres citou operações da Polícia Militar do Distrito Federal (PMDF) mobilizadas para retirar os manifestantes do acampamento e que acabaram barradas pelas Forças Armadas.
“Não vou comentar o depoimento do general aqui. Mas houve operação com 500 policiais militares ali parados, esperando autorização do Exército para retirar o acampamento. Alguém vir aqui e dizer que [a PMDF] não agiu, [que] não era atribuição [dela], [que] não estava fazendo, é meio complicado. Precisa ser apurado por essa CPI. A PMDF chegou a colocar 500 policiais para retirar o equipamento, ano passado, e eles não permitiram. Tem alguma coisa errada nesse depoimento, com todo respeito. Precisa ser apurado, isso aí”, afirmou.
Acompanhe:
No início da sessão, o também ex-secretário de Segurança Pública do Distrito Federal repetiu a defesa apresentada à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Congresso Nacional e respondeu que nunca pediu à Polícia Rodoviária Federal (PRF) para interferir na eleição.
“Minha ordem à PRF sempre foi para desbloquear imediatamente as vias. É um trabalho difícil, porque, quando se fecha o país com carretas, pessoas, cordão humano… Mas a ordem sempre foi para desocupar. Até a munição não letal da PRF acabou, de tanto material usado para coibir [os extremistas]. O ex-presidente [Jair Bolsonaro] fez um vídeo pedindo para desocupar as estradas e, daí, a coisa começou a fluir melhor”, declarou.
Depois da oitiva de Torres na CPMI, o diretor-geral da PRF no governo de Bolsonaro Silvinei Vasques acabou preso. Detido nessa quarta-feira (9/8) pela Polícia Federal (PF), ele é investigado por suposto uso da máquina pública para interferir na eleição de 2022.
Silvinei se tornou alvo de críticas depois das operações da PRF no dia do segundo turno das eleições. As ações policiais ocorreram em diversas estradas do país, principalmente no Nordeste, região em que Luiz Inácio Lula da Silva (PT) teve mais votos no primeiro turno.
Torres se reuniu com o ex-diretor da PRF horas após as polêmicas blitze, mas disse ter ido a Salvador para acompanhar a execução de obras da Superintendência da PF na Bahia.
Sobre o 8 de janeiro de 2023, o ex-ministro e ex-secretário afirmou que o planejamento para conter manifestações violentas não foi cumprido.
“Importante, ainda, relembrar que o Protocolo de Ações Integradas [PAI] previa o fechamento da Esplanada em alguns casos. O que posso afirmar, com toda segurança, é que houve falha grave na execução do PAI. Se tivessem cumprido à risca o plano, os atos de vandalismo de 8 de janeiro não teriam se consumado.”
Requerimentos
Antes do início da sessão, a CPI aprovou uma série de requerimentos de documentos para aprofundar as investigações. Entre eles, os distritais pediram à Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) o compartilhamento do depoimento de Jorge Eduardo Naime, coronel da PMDF atualmente preso, e aprovaram a convocação de Beroaldo José de Freitas Júnior, subtenente corporação, para ser ouvido como testemunha.
Além disso, a CPI da CLDF pediu imagens de câmeras da Secretaria de Segurança Pública do Distrito Federal (SSP-DF); ofícios à PMDF; e detalhes de planejamentos, ordens de serviço ou documentos equivalentes das operações feitas por departamentos estratégicos da Polícia Militar nos últimos 24 meses.
Torres na CPMI
Acusado por omissão, Torres depôs por mais de oito horas na CPMI do 8/1 nessa terça-feira (8/9). O ex-ministro aproveitou a ocasião para se defender sobre a minuta do golpe, encontrada na casa dele.
“Em 10 de janeiro, durante busca e apreensão em minha casa, a polícia encontrou um texto apócrifo, sem data, uma fantasiosa minuta que vai para a coleção de absurdos que, constantemente, chegam aos detentores de cargos públicos. Vários documentos vinham de diversas fontes para que fossem submetidos ao ministro”, justificou.
Torres classificou a proposta como uma “aberração jurídica” e “imprestável para qualquer fim”. O ex-ministro também negou ter encaminhado o documento para outra autoridade, à época em que atuava na função.
Veja trecho do depoimento: